Nestlé planeja elevar compras diretas que faz de produtores

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A Nestlé decidiu dobrar o volume de matérias-primas que adquire diretamente dos produtores, principalmente de café e cacau, para melhor monitorar a qualidade do que recebe e sua rede de fornecedores. Neste ano, a multinacional suíça deverá comprar cerca de US$ 24 bilhões em commodities agrícolas para a produção de chocolates, café solúvel, produtos lácteos e rações para animais de companhia, entre outros itens.

Conforme adiantou o Valor PRO, serviços de informações em tempo real do Valor, o presidente do grupo suíço, Paul Bulcke, afirmou que a empresa está "acelerando a rastreabilidade por atitude, por necessidade e porque as legislações também começaram a exigir mais isso". Ele lembrou que a Nestlé já vem caminhando nessa direção e que agora fará "um pouco mais, porque se ocorrer algo, temos que saber, no minuto seguinte, de onde vem a matéria-prima, onde foi comprada etc".

O executivo afirmou que ampliar a rastreabilidade das matérias-primas também é importante diante de "alguns problemas" que a indústria já enfrentou. A Nestlé já mantém programas em diversos países, inclusive no Brasil, com práticas compatíveis com os trabalhos de rastreabilidade e que facilitam a compra direta. Para isso, conta atualmente com cerca de 2,5 mil funcionários que monitoram diretamente a oferta dos agricultores, e o plano é elevar esse número para 10 mil até 2015.

"É verdade que, quando a quantidade aumenta, há mais capilaridade. Mas os meios para fazer (o controle) são muito melhores, com computação, padronização etc", declarou. "Tudo o que fazemos com o Plano Nescafé ou com o Plano Cacau é justamente para gerir essa dimensão além da qualidade e da quantidade".

Em seminário sobre valores compartilhados, realizado ontem no Centro de Pesquisa da Nestlé, em Lausanne, o vice-presidente de operações da multinacional, Jose Lopez, insistiu na importância de se entender todos os elos da cadeia de valor. "Temos que visitar os hectares, saber como as pessoas vivem ali e levar recursos e tecnologia. Adotamos medidas específicas para podermos trabalhar com eles, tudo orientado por razões de negócio. Para se ter uma ideia, a produtividade do cacau pode passar de 300 quilos para 2 toneladas no mesmo espaço", afirmou ele.

Desde 2010, as compras da Nestlé realizadas diretamente dos produtores têm aumentado. E vão crescer ainda mais nos próximos anos, também como uma maneira de evitar a volatilidade dos preços. A estratégia envolve principalmente leite, café e cacau. No Brasil, o grupo suíço já tem programas com agricultores envolvendo desde práticas de produção até gestão de pragas e doenças, uso de pesticidas e tratamento de água.

Além disso, a Nestlé vem mapeando as cadeias de fornecimento de soja no Brasil e na Argentina para assegurar um abastecimento responsável e evitar produtos provenientes de áreas de desmatamento. Hoje, o grupo suíço compra diretamente de produtores cerca de 52% do leite que demanda para suas 400 fábricas espalhadas pelo mundo. Também adquire aproximadamente 10% de toda a colheita global de café e de cacau.

Pelo Plano Cacau, a compra direta alcançou 63 mil toneladas em 2013 e esse volume deverá chegar a 80 mil toneladas este ano. Para o Nespresso, que exige um café de melhor qualidade - o chamado "triplo A" -, a empresa adquire 84% do volume necessário diretamente de produtores e o plano é chegar a 100%. Essa aquisição direta deve alcançar 180 mil toneladas neste ano ante 148 mil em 2013.


Múlti torce pelo crescimento da economia brasileira


Ao ser indagado pelo Valor sobre sua expectativa em relação à eleição presidencial no Brasil, o presidente-executivo da Nestlé, Paul Bulcke, respondeu que não se pronunciaria sobre o tema, mas completou que, de maneira geral, "se há mudanças, há esperança".

"Espero que os brasileiros escolham um bom chefe de Estado, pois é um país que tem uma grandeza e merece um bom líder". Questionado sobre sua expectativa sobre a economia brasileira a partir do ano que vem, ele respondeu que "crescimento é sempre bom, sobretudo para o Brasil".

O Brasil é o quarto principal mercado da Nestlé no mundo, depois de EUA, China e França. As vendas da múlti no Brasil alcançaram 5,1 bilhões de francos suíços (cerca de US$ 5,5 bilhões) no ano passado. O executivo não fez comentários sobre os negócios neste ano, até porque a empresa está prestes a anunciar seus resultados no terceiro trimestre.

A empresa constata que o Brasil é, atualmente, o sétimo maior mercado consumidor do planeta. E estima que o mercado brasileiro de alimentos e bebidas foi de US$ 217 bilhões de francos suíços (cerca de US$ 234 bilhões) em 2013.

Segundo um analista radicado na Suíça que conhece bem o Brasil, algumas empresas multinacionais congelaram contratações de pessoal e aportes no país, na expectativa sobre o resultado da eleição. Além disso, alguns fornecedores que tinham contratos de até cinco anos com certas multinacionais, pediram para só renová-los até o fim deste ano para que as discussões sejam retomadas em 2015.

Na entrevista ao Valor, Bulcke também falou sobre o cenário na Europa. Ele admitiu, tendo em vista a persistente desaceleração da economia na região, que "quando todos os consumidores têm medo, não é bom para o ambiente de negócios e de compras".

"A Europa não saiu da crise porque tem problemas estruturais que exigem reformas estruturais", disse ele. O executivo elogiou as reações observadas na Espanha, na Grécia e mesmo em Portugal, que fizeram reformas e se recuperam. "Outros não fizeram e puxam o resto da Europa para baixo. Nem vou citar, mas é o caso de um país perto daqui", disse, aparentemente em referência à França.

Bulcke repetiu, por outro lado, que "a crise global da dívida foi uma crise de valor". "Foi uma crise de valor, com um egoísmo muito pronunciado e visão de curtíssimo prazo. Depois veio o dilúvio", afirmou ele durante o "Fórum sobre Valor Compartilhado", realizado ontem no Centro de Pesquisa da companhia, nos arredores de Lausanne.

Para Bulcke, muitos empresários foram "seduzidos" ou pressionados com metas de curto prazo, o que erodiu muito da confiança entre companhias e sociedade. "Reconstruir essa confiança precisa ser uma prioridade para os líderes empresariais", disse. "Fala-se de regulamentação. Muita não é bom, e muito pouca, tampouco. É preciso encontrar esse equilíbrio. Mas isso deve sobretudo ser ditado pela conscientização e moral das pessoas. São valores de sociedade. Se não voltamos a isso, regulamentação não resolve muito".



Veículo: Valor Econômico


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