Valorização do real prejudica exportadores e deve afetar PIB

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Apreciação. Projeções de especialistas e consultorias já apontam para desaceleração das vendas para o exterior nos próximos meses; já importações devem ganhar força no segundo semestre


 
São Paulo - A apreciação do real nos últimos meses já afeta as projeções para a balança comercial e para o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro deste ano. Com a mudança no câmbio, importações devem voltar a subir e exportações, recuar, no segundo semestre.
 
"No começo de 2016, imaginávamos que o superávit [da balança comercial] chegaria a US$ 50 bilhões até dezembro. Com essas mudanças, vamos rever nossa perspectiva para algo entre US$ 45 bilhões e US$ 47 bilhões", afirmou José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).
 
Thiago Curado, sócio da 4E Consultoria, também falou sobre a variação cambial ao justificar as expectativas da empresa. "Tivemos um crescimento mais forte das exportações, no primeiro trimestre, por causa da desvalorização do real. Agora vemos um movimento no sentido contrário que deve estancar esses ganhos", apontou.
 
Para o terceiro trimestre deste ano, a 4E projeta que os embarques devem render US$ 46,115 bilhões para o País, recuo de 8% na comparação com igual período de 2015. Já para 2016, a consultoria estima que o valor das exportações brasileiras deve chegar a US$ 182,5 bilhões, queda de 4,5% em relação ao valor registrado no ano passado.
 
O recuo da balança comercial também afeta o cálculo da atividade econômica brasileira. Com uma retração de 3% para o Produto Interno Bruto (PIB) e câmbio em R$ 3,30, superávit comercial de US$ 45 bilhões representaria 2,6% do PIB em 2016. Se fosse registrado saldo positivo de US$ 50 bilhões, esse número chegaria perto dos 3%.
 
E o efeito da mudança cambial também deve ter impacto sobre o volume dos embarques. Os rascunhos da Tendências Consultoria indicam que a quantidade de toneladas vendidas deve recuar 0,9% no terceiro trimestre, frente aos três meses encerrados em junho. No mesmo período, o montante de importações deve subir 2,8%.
 
Entre outubro e dezembro, o volume das exportações deve cair mais (-0,1%), enquanto as compras devem marcar novo crescimento (+1,7%).
 
A apreciação do real deve prejudicar mais os exportadores de produtos industrializados, afirmou Castro. Segundo ele, o câmbio funciona mais como um "fator de competitividade" para vendedores de manufaturados do que para aqueles que negociam commodities.
 
O entrevistado também ressaltou a melhora dos preços de soja, açúcar, celulose e carne neste ano. A valorização seria mais um motivo para a resiliência dos produtos básicos.
 
Vendas em queda
 
Além do fortalecimento da moeda brasileira, outros fatores devem afetar os embarques do País no segundo semestre. Welber Barral, ex-secretário de comércio exterior, ressaltou que as vendas não avançaram neste ano por causa de problemas de competitividade no País.
 
"Temos poucas empresas internacionalizadas e não temos o hábito de exportar", indicou o especialista. Ele afirmou que as companhias demoram para criar redes internacionais de distribuição e se adaptar ao comércio exterior. Assim, um avanço dos embarques pode levar mais tempo para acontecer.
 
O outro motivo para a desaceleração das vendas, a partir de setembro, é sazonal. O ex-secretário lembrou que os embarques de grão perdem força nos últimos meses do ano, deixando de colaborar com um incremento da balança comercial.
 
Para 2017, entretanto, Barral projetou uma melhora das negociações com estrangeiros. "Vemos um esforço muito grande das empresas para exportar, até porque o mercado nacional está muito retraído. Mas esse movimento não começa de uma hora para a outra, pode levar até dois ou três anos."
 
De acordo com o entrevistado, um câmbio em R$ 3,50 traria um cenário melhor para os brasileiros que negociam com outros países, especialmente os exportadores. "Também é importante que não ocorram variações tão grandes e que o câmbio encontre alguma estabilidade, dando mais segurança para os negócios", acrescentou.
 
Perfil do comércio
 
Nos primeiros seis meses deste ano, a receita proveniente das exportações brasileiras chegou a US$ 90,252 bilhões e os gastos com importações totalizaram US$ 66,601 bilhões. Os dados são do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços.
 
Os países que mais compraram produtos do Brasil foram China (US$ 19,8 bilhões), Estados Unidos (US$ 10,7 bilhões), Argentina (US$ 6,5 bilhões), Países Baixos (US$ 4,7 bilhões) e Japão (US$ 2,3 bilhões).
 
Já o ranking com os principais vendedores de mercadorias para o Brasil teve China (US$ 11,3 bilhões), Estados Unidos (US$ 11,2 bilhões), Alemanha (US$ 4,7 bilhões), Argentina (US$ 4,3 bilhões) e Coreia do Sul (US$ 3 bilhões).
 
Entre os principais produtos exportados pelos brasileiros, tem destaque as commodities. Soja (US$ 13,9 bilhões), minério de ferro (US$ 5,6 bilhões) e petróleo (US$ 4 bilhões) aparecem na ponta da lista. Os primeiros manufaturados da tabela são automóveis (US$ 2,2 bilhões) e aviões (US$ 1,9 bilhão).
 
As mercadorias mais importadas são medicamentos (US$ 3 bilhões) e partes de veículos (US$ 2,3 bilhões).
 
Veículo: DCI


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