Varejo luta para incluir nova data no calendário de vendas

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Para ultrapassar o mês de março, geralmente período de vendas escassas, as redes varejistas querem turbinar com descontos e promoções o Dia do Consumidor, comemorado mundialmente hoje. A ideia é reforçar o calendário ao criar a identidade de mais uma data sazonal e, quem sabe, transformar o período em uma nova Black Friday.

"É evidente que o varejo quer criar uma nova data de promoções, já que ele se 'alimenta' de datas especiais. Além disso, esse é um período em que as vendas do varejo são muito baixas", afirma o presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo (Ibevar), Claudio Felisoni.

O presidente do Conselho de Comércio Eletrônico da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), Pedro Guasti, concorda. Segundo ele, no primeiro semestre do ano, março é justamente o mês mais fraco em vendas e vale a pena unir forças para mudar isso.

Criada pela Buscapé Company com o objetivo de alavancar as vendas neste período, a comemoração de descontos para a data já está em sua terceira edição, e promete, este ano, aumentar o faturamento, apesar da crise econômica. De acordo com a E-bit/Buscapé, unidade especializada em informações de comércio eletrônico da Buscapé Company, o faturamento do e-commerce neste dia deverá chegar a R$ 236 milhões este ano, o que representaria crescimento nominal de 18% em relação à edição de 2015, quando o faturamento foi de R$ 200 milhões. Na primeira edição o valor foi de R$ 174 milhões.

Apesar das previsões positivas da empresa, Felisoni, do Ibevar', avalia que a crise econômica deve interferir de maneira negativa nas vendas na data sazonal. "Estamos em um momento bem complicado, pois tivemos uma redução real da renda e o consumo está em baixa. A crise acaba não favorecendo um aumento nas vendas [em relação ao ano passado] neste dia", explica o analista.

Felisoni acerta na análise se pensarmos que o Dia do Consumidor ainda está longe de se igualar aos resultados da Black Friday, que movimentou no ano passado R$ 1,5 bilhão. A data é, aliás, desconhecida por grande parte dos consumidores brasileiros. Pesquisa realizada pelo Mercado Pago, instituição de pagamentos do Mercado Livre, com 400 internautas em todo o País mostrou que 77% dos entrevistados não conheciam a data. Apenas 11% disseram que compraram durante as promoções no ano passado.

Por outro lado, a pesquisa revelou o interesse do consumidor ao saber que poderá aproveitar melhores preços na semana do dia 15 de março. 76% afirmaram que pretendem realizar alguma compra on-line ao longo da Semana do Consumidor neste ano.

Em entrevista ao DCI, o diretor executivo da E-bit/Buscapé, André Ricardo Dias, afirmou que a perspectiva é de crescimento para os próximos anos. "Acho muito difícil que o Dia do Consumidor se iguale à Black Friday, porque ela acontece em uma data muito estratégica, com a proximidade do Natal. Mas a perspectiva é que a data cresça bastante nos próximos anos", avalia.

Promoções

Com enfoque no comércio eletrônico e a participação de algumas lojas físicas, a edição de promoções deste ano deve contar com mais de 650 lojas participantes A Buscapé Company estima descontos de até 80%. Empresas como o Walmart, Casas Bahia, Ponto Frio, Magazine Luiza, Mercado Livre e até administradoras de shopping centers, como a Sonae Sierra Brasil, prepararam grandes ações e promoções para a semana.

Com a participação de 11 shoppings e lojas de diversos segmentos, o Sonae Sierra promete oferecer inúmeros descontos para os consumidores nesta terça-feira. Além dos descontos nas lojas, em 10 dos 11 centros de compras participantes o estacionamento será gratuito durante todo o dia. "Foi uma forma que encontramos de atrair os consumidores para os shoppings em uma data que ainda não é muito conhecida pelo público", afirma a diretora de marketing da empresa, Laureane Cavalcanti.

A campanha, que consistiu principalmente em ações nas redes sociais e nos pontos de vendas, teve um investimento total em produção e mídia de R$ 140 mil. Conforme ela, os segmentos que mais aderiram foram moda e eletrônicos.

O Walmart parece ter ido mais além, ao promover uma semana inteira de promoções. De 14 a 23 deste mês será possível encontrar descontos de até 30% em diversos produtos, garante a rede. Hoje, a empresa prometeu colocar vice-presidentes e diretores para atender aos clientes que ligarem para o SAC da companhia. O intuito é aproximar os executivos dos consumidores da bandeira.

A Cnova também preparou uma série de promoções nos e-commerces das Casas Bahia e do Ponto Frio. Os descontos, nas duas lojas vão até quinta-feira (17). Para o diretor comercial da Cnova, Georges Souyoltgis, a data deve representar um aumento grande nas vendas. "Em um momento de incerteza econômica como o que estamos passando, as datas comemorativas são, mais do que nunca, ocasiões substanciais para que o setor varejista consiga obter bons resultados", afirma o executivo.

Nas CasasBahia.com, os descontos serão de até 80%, e estarão disponíveis para o consumidor mais de 5 mil produtos em promoção. No Pontofrio.com, serão mil produtos com descontos de até 70%. As duas empresas oferecerão ainda frete grátis para alguns itens e a possibilidade de parcelamento em até 16 vezes.

"Acredito que o Dia do Consumidor é uma oportunidade para oferecermos ofertas diferenciadas aos clientes. Mas, não vejo que consiga ter a mesma expressividade que a Black Friday", explica Souyoltgis.

Segundo Guasti, da FecomercioSP, para que a data consiga entrar definitivamente no calendário dos consumidores brasileiros como um dia de descontos, é preciso que haja um maior investimento por parte das empresas. "Elas deveriam usar parte da verba de divulgação com investimento em marketing nas mídias tradicionais - televisão, rádio e jornal - e nas redes sociais".

O diretor de comunicação e marketing da Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico (camara-e.net), Gerson Rolim, acredita que existe a movimentação dos grandes varejistas no sentido de criar novas datas sazonais, principalmente no primeiro semestre, e isso é positivo para o varejo. "Principalmente em momentos de crise, nós temos de ser criativos", afirma.

 



Veículo: Jornal DCI


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