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                                 EUA proibirão gordura trans dos alimentos industrializados; Brasil vem reduzindo desde 2008

 



EUA proíbem, a partir de 2018, gordura trans em alimentos processados, como pipoca de micro- ondas. Os Estados Unidos decidiram proibir a gordura trans de alimentos processados sob o argumento de que ela não é considerada segura para a saúde do coração. A medida foi anunciada ontem pela agência regulatória do governo americano, a FDA, que estabeleceu um prazo de três anos para as empresas se adequarem. A regra não é isolada, ela vem na esteira de medidas semelhantes em outras nações, seguindo a recomendação de 2004 da Organização Mundial da Saúde ( OMS), de que a gordura trans seja cortada da alimentação. No Brasil, a regra é mais branda, mas já vale desde 2008, e, segundo especialistas, a iniciativa americana pode levar à revisão da norma brasileira.

A medida dos Estados Unidos não ocorreu da noite para o dia. O movimento vem desde 2006, quando a FDA determinou a inclusão do conteúdo de gordura trans nos rótulos dos industrializados. Essa medida, associada às campanhas sobre mudanças de hábitos alimentares, já surtiu efeito, diz a agência. Entre 2003 e 2012, o país notou uma redução de 78% no consumo de gordura trans. Apesar da diminuição, este tipo de gordura ainda está no foco das atenções de políticas públicas; por isso, desde 2013 a agência vem tentando implementar a norma.

“Espera- se com essa iniciativa reduzir significativamente as doenças cardiovasculares”, afirmou, no comunicado oficial, Stephen Ostroff, porta- voz da FDA.

ACENTUA O SABOR, MAS AUMENTA RISCO CARDÍACO

A gordura trans está presente em pequenas quantidades em alimentos de origem animal, como leite e carne bovina. Mas a principal preocupação dos especialistas é com aquela que é produzida artificialmente pela indústria para acentuar o sabor de produtos processados, especialmente salgadinhos, pizzas e batatas fritas congeladas, biscoitos e pipocas de micro- ondas, entre outros produtos atraentes aos olhos.

O organismo humano precisa de determinadas gorduras para manter seu funcionamento saudável, mas a trans é totalmente dispensável. E, se consumida, não deveria ultrapassar os dois gramas por dia. Isso porque está diretamente relacionada ao maior risco de doenças cardiovasculares. Ela diminui o colesterol bom e aumenta o ruim.

— A gordura trans leva à formação de placas de gordura no sangue, o que pode evoluir para um infarto ou um derrame — explica Alexandre Hohl, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia ( Sbem), acrescentando que, junto a outros fatores, ela também está associada ao ganho de peso e à obesidade.

Em análises anteriores, a FDA afirmou que a eliminação da gordura trans da cadeia de alimentos poderia prevenir 20 mil ataques cardíacos e sete mil mortes a cada ano. Em média, 610 mil pessoas morrem de doenças cardiovasculares nos EUA anualmente, o que representa uma em cada quatro mortes no país. Os hábitos alimentares pouco saudáveis levaram 78 milhões de americanos à obesidade ( quase 35% da população), segundo dados da revista científica “Journal of American Medicine”, citados pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças ( CDC), órgão do governo americano. Esses números são assustadores se comparados à média japonesa, que, mesmo enfrentando a ocidentalização dos hábitos de consumo, tem apenas 3,5% de sua população obesa e 170 mil mortes cardíacas por ano. As doenças cardiovasculares, por sinal, são a principal causa de morte no mundo, segundo a OMS.

Enquanto isso, o Brasil tem se aproximado dos alarmantes índices e hábitos americanos. Os números divulgados este ano pelo Ministério da Saúde estimam que 17,9% dos brasileiros estão obesos. As doenças cardiovasculares são responsáveis por quase 30% das mortes anuais, o que significa que cerca de 310 mil pessoas morreram principalmente de infarto e acidente vascular cerebral ( AVC).

A partir de um acordo entre o ministério e a Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação ( Abia) de 2008, as indústrias vêm reduzindo a concentração de gordura trans nos alimentos processados. Com isso, em 2010, o governo divulgou uma pesquisa realizada pela Abia, indicando uma diminuição de 94,6% dessa gordura nos produtos, ou 230 mil toneladas a menos. À época, os números foram comemorados pela associação, que diz ser pioneira na mudança de postura.

NORMA BRASILEIRA É QUESTIONADA

Mas os dados são questionados pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor ( Idec). A nutricionista Ana Paula Bortoletto explica que acordos semelhantes ocorreram para estimular a redução do sódio nos produtos industrializados e, neste caso, após análises do Idec, os resultados não foram animadores.

— O instituto não testou especificamente os níveis de gordura trans após a norma, mas fizemos isto com o sódio, e nossa avaliação é que ações desse tipo não costumam ser muito eficientes — pondera a nutricionista, que explica: — Não temos acesso aos dados de monitoramento, o que torna difícil saber se as informações são verdadeiras. Além disso, os acordos são feitos entre governo e indústria, sem a participação da sociedade civil, o que tende a favorecer o setor.

No caso do sódio, ela diz que as metas são brandas e alguns dos parâmetros estabelecidos já estavam sendo praticados mesmo antes do acordo. Ano passado, o Idec avaliou a informação da gordura trans nos rótulos dos produtos e também encontrou problemas.

— Os consumidores não conseguem informações de maneira fácil — afirma Ana Paula, citando como exemplo a brecha legal que permite a omissão no caso de haver menos de 0,2 grama da gordura trans por porção. — Pode- se ter esta quantidade na porção, mas, no produto completo, a concentração é maior, e isto não vem esclarecido.

Alexandre Hohl também desconfia desses números, e ambos os especialistas acreditam que a norma americana pode reabrir o debate no Brasil. Outros países, como Dinamarca, Suíça e Argentina, já proibiram a gordura trans nos industrializados. Para manter o sabor dos alimentos, as indústrias encontram substitutivos. As gorduras saturadas estão entre eles, como óleos de palma e coco.

— Não é a melhor solução. Mas, na verdade, os alimentos com gorduras trans são os ultraprocessados, que, de qualquer forma, não são recomendados como parte de uma alimentação saudável — explica Ana Paula.


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