Câmbio começa a pressionar moinhos a partir de fevereiro

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Alta da moeda norte-americana ainda prejudica produtores por conta do aumento nos custos com o plantio da safra; setor busca ajuda do governo

 

 



Após a quebra na safra de trigo ocasionada pelo excesso de chuvas na Região Sul e a possível diminuição de área plantada neste ano, a necessidade de importação do cereal deve aumentar e pressionar os moinhos, que estão abastecidos até meados de fevereiro, a comprarem um produto mais caro em função do câmbio.

No início da temporada 2014/2015, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) havia estimado uma produção de 7,6 milhões de toneladas para a cultura, volume que caiu para 5,9 milhões no levantamento divulgado neste mês. Porém, especialistas ouvidos pelo DCI acreditam que a demanda nacional esteja por volta de 13 milhões de toneladas.

A analista do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), Rafaela Moretti Vieira, conta que, neste momento, os produtores estão mais atentos ao andamento da safra de verão, enquanto os moinhos se mantêm fora do mercado.

"A partir do momento em que os moinhos estiverem mais ativos, o impacto do câmbio deve cair sobre o mercado, pois a necessidade de importação é clara. Até lá, a perspectiva de preços é firme, porque o dólar mais alto favorece o consumo do produto nacional", explica.

Cenário atual


No Paraná, principal estado produtor de trigo, as chuvas não trouxeram grandes problemas. Segundo o diretor do Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria estadual da Agricultura, Francisco Simioni, a produção estava estimada em 4 milhões de toneladas e caiu para 3,72 milhões. Apesar da quebra, o resultado é 97% superior ao obtido no mesmo período de 2013. Além disso, cerca de 60% do cereal cultivado em 2014 já foi comercializado.

Foram as lavouras gaúchas que tiveram os maiores prejuízos, fato que sinaliza a redução na área de plantio neste ano.

"Infelizmente essa expectativa de câmbio alto nos traz estimativas de aumento nos custos de produção, valores que não estão sendo revertidos aos triticultores em forma de ganho. Em algumas regiões, o valor do cereal ficou abaixo do preço mínimo e se este cenário não mudar haverá diminuição na área de plantio", diz o presidente da Comissão de Trigo da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), Hamilton Jardim.

Os produtores paraenses ainda podem substituir o cultivo de trigo pelo milho na segunda safra, grão que, apesar de estar abundante no mercado, possui mais liquidez no escoamento. Já os gaúchos não têm essa possibilidade. Lá, a área seria destinada ao plantio de aveia, apenas para ocupação da terra.

Impacto econômico


Jardim alerta para o reflexo deste possível aumento de importações na balança comercial do agronegócio brasileiro. "A compra de trigo dos Estados Unidos e Argentina gerou um gasto de US$ 3 bilhões para a safra 2014/2015. Se o produto ficar mais caro, o impacto é maior". Vale ressaltar que a aquisição do cereal não é feita só para o abastecimento da demanda interna, acrescenta o diretor do Deral, mas também para mistura com o produto de menor qualidade, conhecida no setor como "blend".

"Precisamos de instrumentos que favoreçam a produção nacional, para que o País não fique tão dependente da importação e os demais elos da cadeia não saiam tão prejudicados", afirma Jardim. "Nem 100% da safra é trigo pão [de alta qualidade], mas temos condições de vender melhor", completa Simioni.

Em vista disso, o presidente da Câmara Setorial das Culturas de Inverno, Flávio Turra, seguiu para Brasília em uma reunião com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), para expor as condições do setor e verificar a possibilidade de um contato mais próximo com o governo.



Veículo: DCI


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