Vender somente calçados não é o bastante

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Fabricantes de calçados planejam diversificar a produção ou reforçar a atuação direta no varejo como estratégia para impulsionar as vendas, em meio às incertezas do cenário macroeconômico.

 

 



No acumulado de janeiro a outubro, a produção do setor de calçados apresenta queda de 3,4% frente ao mesmo intervalo de 2013. Para o ano fechado, a percepção do setor é de uma estabilidade ou uma pequena queda na produção, de acordo com Heitor Klein, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados)."Ainda há muita indefinição no cenário macroeconômico e é difícil estimar como fatores câmbio, inflação e desempenho do PIB [Produto Interno Bruto], vão pesar no comportamento dos consumidores daqui para frente", disse Klein.

Entre as companhias abertas do setor, Grendene, Alpargatas e Arezzo decidiram tomar caminhos diferentes para fazer frente ao cenário de crise.A Alpargatas, dona das marcas Havaianas, Dupé e Mizzuno, também vai produzir roupas e outros itens de moda.

A Grendene prevê diversificar a operação no país a partir de 2015, com a entrada no segmento de móveis de plástico. E a Arezzo tem como principal meta reforçar a atuação direta no varejo.Em entrevista ao Valor, Thiago Borges, diretor financeiro e de relações com investidores da Arezzo & Co, disse que prevê para o próximo ano a abertura de 62 lojas, ante 58 lojas previstas para este ano, um incremento de 7,7%.

O trabalho de expansão de lojas da Arezzo começou a ser feito no terceiro trimestre deste ano, com a abertura de 50 lojas.A companhia encerrou o período com 479 unidades, aumento de 11,7% na comparação anual. A expansão tem como principal alvo a bandeira de sapatilhas Anacapri, que nos nove primeiros meses do ano apresentou crescimento de 89,9% em receita, para R$ 50,8 milhões, e passou a responder por 5,4% da receita da companhia.

Ao todo, a receita da Arezzo cresceu 9,1%, para R$ 982,3 milhões em nove meses.As lojas próprias e franquias da Arezzo têm obtido ganhos de receita mais fortes que as vendas em redes multimarcas.Nas franquias e lojas próprias, o crescimento em receita no ano foi de 14,1% e 7,3%, respectivamente, ante um avanço de 2,5% nas redes multimarcas.

"O desafio para 2015 é desenvolver as diferentes marcas e canais, trabalhando com foco na maior disponibilidade dos produtos nos diferentes pontos de venda", disse Borges.A Grendene também planeja expandir as franquias da bandeira Clube Melissa de 150 este ano para 200 lojas em 2015, mas o cumprimento desta meta vai depender da evolução do mercado.

"A expectativa é ultrapassar 200 lojas, mas o importante para nós não é atingir um determinado número de lojas, e sim, achar o local e o franqueado adequados", afirmou Francisco Schmitt, diretor financeiro e de relações com investidores da Grendene.Na visão do executivo, a situação econômica do país no próximo ano será difícil. "A economia requer muitos ajustes e ainda não se sabe quais serão efetivamente feitos", disse Schmitt.

O executivo disse que a Grendene tem buscado ajustar as linhas de produtos em termos de custos e preços para garantir crescimento em receita e lucro, mesmo com o cenário adverso.A empresa tem apostado principalmente em coleções de curta duração (moda rápida)."Em um ano, 95% a 97% da receita vem de produtos lançados no mesmo ano. Isso não significa que não reajustamos preços, mas lançamos novos produtos com novos preços", disse Schmitt.

A companhia também espera uma melhora em resultados vinda da parceria com a Vulcabrás para desenvolver linhas de calçados femininos com as marcas Azaleia e Dijean.Para 2015, Schmitt também espera ver deslanchar a A2NP, negócio de móveis lançado neste ano na Europa. O negócio de móveis de plástico tem a marca "Tog" e recebeu investimento de R$ 22,1 milhões.A meta da Grendene é trazer o negócio para o Brasil em 2015, mas Schmitt não deu mais detalhes. Para o próximo ano, a Grendene manteve a meta de crescimento da receita bruta de 8% a 12% e aumento no lucro líquido de 12% a 15%.

A Alpargatas, dona da marca Havaianas, planeja diversificar os negócios no próximo ano, com a aquisição de empresas de moda, que tenham perfil semelhante ao da Osklen, grife carioca de moda masculina e feminina de luxo. O valor a ser investido na nova aquisição será superior ao total pago pela Osklen, afirmou Márcio Utsch, presidente da Alpargatas. A companhia desembolsou R$ 318,2 milhões para comprar 60% de participação acionária na Osklen, avaliando a grife em R$ 530,3 milhões.

A meta é transformar a fabricante de calçados em uma companhia de moda, segundo Utsch. Em relação à operação no varejo, a Alpargatas planeja investir mais em lojas maiores, com provadores, acompanhando a oferta maior de produtos em vestuário. O executivo não divulga, no entanto, a projeção de abertura de lojas para o próximo ano.

Outra calçadista, a Pimpolho, também ingressou recentemente no segmento de moda. A fabricante de calçados e acessórios para o segmento infantil, começou a produzir linhas de roupas para bebês neste semestre. De acordo com Ricardo Brito, diretor comercial da Pimpolho, a primeira coleção já foi vendida a redes varejistas multimarcas e chegará às lojas em janeiro de 2015.

Brito disse ver potencial para uma expansão mais acelerada no país com a diversificação da oferta de produtos. A companhia também colocou no mercado neste mês uma linha de calçados injetáveis, que complementa o portfólio de 500 itens da empresa. A Pimpolho prevê fechar 2014 com crescimento de 21% em receita, chegando a R$ 100 milhões. A companhia não divulga projeções para 2015.

O cenário de estagnação ou queda na produção deste ano é resultado, segundo a Abicalçados, de alguns fatores como a piora no nível de endividamento das famílias, a inflação alta e o aumento das importações. No ano passado a indústria de calçados no país vendeu 800 milhões de pares de sapatos e faturou R$ 26,8 bilhões.




Veículo: Valor Econômico


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