Queda das cotações dos grãos desafia empresas agrícolas

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Por Mariana Caetano | De São Paulo

O ano está chegando ao fim com mais motivos de preocupação que de comemoração para BrasilAgro, SLC Agrícola e Vanguarda Agro, as três companhias de produção agrícola do país listadas na BM&FBovespa. Depois de um início de 2014 com cotações dos grãos em alta, essas empresas sentem o peso da espiral descendente dos preços de soja e milho, reflexo, principalmente, da estimativa de oferta global recorde. E é em meio a um contexto de resultados aquém das expectativas e ações em queda que planejam o plantio da nova safra 2014/15.

Além da baixa dos grãos, fatores como o clima e o próprio fôlego financeiro direcionaram as decisões das três companhias sobre a semeadura. Ressabiada com o mercado, a BrasilAgro decidiu reduzir o plantio, que está em curso, assim como a Vanguarda - esta, abatida também pela escassez de chuvas em Mato Grosso. A SLC foi a única das três a bancar um incremento de área.

"Temos uma estratégia de longo prazo e, mesmo sendo um ano com margens menores, elas serão positivas e ainda boas nas três culturas [soja, milho e algodão]", disse Aurélio Pavinato, CEO da SLC Agrícola. Nos últimos três anos, a empresa ampliou o plantio em 50%, e para esta safra o crescimento previsto é de 5,9% ante a passada, para 363,8 mil hectares. A decisão foi bem avaliada pelo Besi Brasil/Grupo Novo Banco (antigo braço de investimento do Banco Espírito Santo). Em relatório, analistas do banco disseram que a ampliação da área está em linha com o objetivo da companhia de duplicar seu plantio até 2020/21.

Mesmo com o baixo volume de precipitações em Mato Grosso no início de outubro, a SLC semeou soja a tempo de efetivar os plantios de algodão, milho e girassol na segunda safra, assegurou Pavinato. A produtividade prevista para a soja é de 52 sacas por hectare, ante pouco mais de 48 no ciclo passado. A Vanguarda confirmou ter concluído o plantio no período ideal no Estado e não alterou a projeção de rendimento (53,4 sacas, ante 49 em 2013/14). Mas reduziu em 8,2% sua intenção de área com soja no verão, a 151,5 mil hectares, para cumprir as janelas ideais de cada cultura e "manter o foco na produtividade", conforme o CEO Arlindo de Azevedo Moura.

Assim, 13,5 mil hectares antes destinados à soja foram redistribuídos para algodão de primeira safra (6,82 mil hectares) e milho de segunda safra, a "safrinha" (6,65 mil). O plantio total da empresa deverá ficar em 254,2 mil hectares, 9,7% aquém do ciclo 2013/14.

No caso da BrasilAgro, a expectativa foi reduzida a 82,2 mil hectares - na temporada passada, foram 83,1 mil. De acordo com Julio Toledo Piza, CEO da empresa, houve a opção por não avançar em algumas áreas de primeiro e segundo ano de cultivo, que tinham produtividade potencialmente menor. "Não fazia sentido ter esse tipo de investimento para obter margens negativas", disse Piza no início de novembro, durante teleconferência em que comentou o balanço da BrasilAgro. A companhia é especializada no desenvolvimento de terras e se concentra no Mapitoba, confluência entre Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia.

Contra a volatilidade das cotações, tem sido notável a estratégia de "hedge" das companhias. As três travaram boas fatias da colheita prevista para o início de 2015, em alguns casos a preços acima dos praticados na bolsa de Chicago atualmente - o que poderá gerar resultados melhores nos próximos trimestres.

Mas o fato é que, com os últimos balanços pouco animadores, com prejuízos ou lucros pequenos, os papéis dessas empresas têm quedas expressivas no ano. As da BrasilAgro recuam 22,7%, as da SLC Agrícola, 26,9%, e as da Vanguarda, 63,5%. Em 2014, o Ibovespa sobe 3,68%.

Segundo dados do Valor Data, as ações de SLC e Vanguarda passam pelo momento mais difícil desde 2011, e as da BrasilAgro, desde 2008. Em novembro, os papéis atingiram o nível médio mais baixo de 2014.

No primeiro trimestre do ano fiscal de 2015 (referente aos primeiros três meses do ano safra 2014/15, de julho a setembro), a BrasilAgro reportou lucro líquido atribuído aos sócios da empresa controladora de R$ 1,58 milhão, revertendo prejuízo líquido de R$ 3,06 milhões no mesmo intervalo de 2013. Mas o banco Morgan Stanley, por exemplo, previa um lucro de R$ 6 milhões.

A SLC Agrícola também registrou lucro no período, de R$ 2,02 milhões, mas bem abaixo dos R$ 14,96 milhões do terceiro trimestre de 2013 - e dos R$ 33 milhões estimados pelo Morgan Stanley. No acumulado de 2014, o lucro da empresa soma R$ 51,22 milhões. A Vanguarda Agro, por sua vez, ficou no vermelho no acumulado do ano (R$ 50,55 milhões) e no terceiro trimestre (R$ 53,87 milhões), embora essas perdas sejam menos profundas que as do mesmo período do ano passado.

Para o Besi Brasil, a decisão da Vanguarda de reduzir o plantio poderá contribuir para atrasar a recuperação da companhia. "Nossa previsão para uma redução na geração de caixa devido à menor área e mudança no mix significa que podemos esperar que a Vanguarda enfrente dificuldades financeiras mesmo se a safra 2015/16 for perfeita".

Preocupada com a liquidez, a Vanguarda divulgou um aumento de R$ 150 milhões em seu capital social, para reduzir o endividamento (em R$ 775 milhões ao fim de setembro), e também para alongar o perfil da dívida. "Ficou confortável. Estamos bem estruturados para pensar só na produtividade", disse Moura ao Valor, na semana passada.

As medidas, que serão ratificadas em assembleia no dia 28, permitiram que a ação da companhia se valorizasse 27,5% desde que foram anunciadas, em 12 de novembro. A Vanguarda também está focada na redução de custos e avalia diminuir investimentos. O plano de Capex para 2015 está em R$ 20 milhões, ante os R$ 60 milhões deste ano. A meta é priorizar a melhoria do solo.

Apesar do plantio mais enxuto, a BrasilAgro prevê abrir novas terras: serão mais 10 mil hectares neste ciclo, com um Capex de R$ 20 milhões, ante R$ 17,1 milhões em 2013/14. A SLC planeja investimentos "um pouco menores", com menos aportes em áreas novas, que têm custo maior, disse Pavinato.

Para o executivo, a continuidade da soja em US$ 10 por bushel em Chicago pode desestimular o aumento do plantio da oleaginosa no país na safra 2015/16, que começa a ser semeada em setembro do próximo ano. E este cenário, se confirmado, só tende a reforçar o que as três companhias são unânimes em esperar já para a atual temporada: a criação de novas oportunidades para a aquisição de terras.



Veículo: Valor Econômico


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