Consumo residencial e do comércio supera demanda industrial

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Em meio a um período de seca severa e escassez na geração de energia elétrica, o consumo no país cresce sistematicamente em razão de gastos residenciais e do comércio, que, somados, superam o consumo industrial, em queda livre desde 2010.

 



Segundo dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), em agosto, a participação das residências e do comércio na carga total do país era de 46,78%, enquanto a fatia da indústria correspondia a 37,77%. O resultado contrasta com o de 2010, quando a fatia do consumo residencial e do comercial correspondia a 42,43% do total, inferior à parcela da indústria, que respondia por 43,18% do consumo.

O consumo residencial foi impulsionado por estímulos do governo. Sua fatia do consumo total do país passou de 25,79% em 2010 para 27,95% em agosto deste ano. No mesmo período, o consumo do comércio avançou de 16,97% para 18,83%, estimulado pelo aumento de vendas. No caso das famílias, os ganhos de renda e o maior acesso a eletrodomésticos, combinados com recordes de calor, contribuíram para elevar o consumo de energia.

Ao editar a Medida Provisória 579, de 2012, que reduziu em 20% as contas de luz residenciais a partir do início de 2013, o governo também contribuiu para essa mudança. Segundo especialistas, com a queda nos preços da tarifa e a falta de campanhas institucionais de estímulo ao consumo consciente, os consumidores não perceberam que há um cenário de estresse na geração de energia no país, exigindo a força total das usinas térmicas, mais caras e mais poluentes.

“Houve uma redução inoportuna das tarifas de energia pela MP 579, quando já se tinha sinais de escassez de energia. Houve também incentivo fiscal para que se comprassem mais eletrodomésticos, levando as pessoas a atingirem um nível de consumo, conforto e status dos quais não querem mais abrir mão”, diz Fausto Bandeira, consultor para assuntos de energia elétrica da Câmara dos Deputados.

Já Cristopher Vlavianos, presidente da Comerc Energia, comercializadora que atende a grandes consumidores, avalia que os consumidores domésticos poderiam reduzir seu consumo de energia significativamente, caso o governo promovesse campanhas de uso mais racional, como ocorreu na época do racionamento do início dos anos 2000.

Ainda que o governo tome novas medidas para aumentar a eficiência energética, falta comunicação com a sociedade e oferta de crédito incentivado para que esses programas ganhem corpo, afirma o presidente da Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Conservação de Energia (Abesco), Rodrigo Aguiar. Ele destaca que, neste ano, foi aprovada a instrução normativa 2 do governo federal para prédios públicos, que prevê medidas de eficiência energética em caso de reformas. Para ele, foi tímida a divulgação da medida:

“Não temos uma espiral sustentável que possa levar ao desenvolvimento dessas ações, por isso ficamos com a impressão de que nada está acontecendo, e daí fica tudo parado mesmo.”

Nos cálculos do presidente da Abesco, os consumidores de energia elétrica no país desperdiçam 55 Terawatts-hora (TWh) de energia por ano - o que equivale à metade da geração de Itaipu - pelo "desleixo" em relação às rotinas de consumo:

“Uma campanha de redução do consumo, como houve em 2001 e 2002, seria ainda mais produtiva hoje. O potencial que se tem de economia é maior, seja pela troca de equipamentos, ou pelos hábitos e processos dos consumidores.”

Os especialistas afirmam que o adiamento da adoção das bandeiras tarifárias (que repassarão aos consumidores custos extras da geração de energia, em períodos adversos, como o cenário atual) de janeiro de 2014 para janeiro de 2015 também estimulam a expansão do consumo residencial e comercial neste ano de crise.

Há expectativa de que a adoção das bandeiras tarifárias reduza o ritmo de expansão do consumo residencial, que está acima de 3,7% ao ano desde 2010. Para a Abesco, a alta das contas de luz deste ano (ao redor de 25%) e a previsão de avanço acima da inflação nos próximos cinco anos contribuirão para a redução.

“Se tivéssemos a bandeira tarifária neste ano, a situação financeira das distribuidoras não estaria tão crítica e o consumidor teria o sinal de preço necessário (para economizar). Esse consumidor tem de saber pela mídia ou pelo preço que aquele bem está escasso. Você não pode subsidiar tarifas e gastar um bem que pode, no futuro, fazer falta”, diz Vlavianos.

Especialistas apontam que a queda de participação do consumo de energia na indústria refletiu não apenas a estagnação do setor produtivo nos últimos anos, mas a adoção de medidas de controle de custos e busca de alternativas, como resposta à alta do preço.

“Com a crise, muitas empresas adotaram metas de redução de custos e a energia está, para alguns setores, entre os principais deles”, explica Vlavianos.



Veículo: Diário de Pernambuco


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