Alpargatas decide transformar a Topper, sua principal linha de calçados esportivos, numa marca global

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A Alpargatas não quer mais ser vista mundialmente apenas como a fabricante das sandálias Havaianas. Para isso, decidiu transformar a Topper, sua principal linha de calçados esportivos, numa marca global

No amplo escritório ocupado por Márcio Utsch, 54 anos, presidente da Alpargatas, na sede da empresa, na Vila Olímpia, bairro da zona sudoeste de São Paulo, alguns detalhes chamam a atenção. Um deles é uma pequena escultura de um surfista, entalhada em madeira, comprada em Maceió. O objeto ocupa um lugar privilegiado no lado esquerdo de sua mesa de trabalho. As referências aos esportes náuticos não param por aí. No aparador colado à parede que fica atrás da mesa, uma prancha de surfe, medindo cerca de 20 centímetros, reforça o gosto do executivo pela modalidade. “Adoro pegar onda”, afirma Utsch. “Sempre que tenho uma folga vou surfar.”
 
Seu pico predileto é a paradisíaca praia Lopes Mendes, em Ilha Grande, no litoral sul do Rio de Janeiro. Mas além de drops, cut backs e batidas, Utsch nutre uma paixão pelo futebol, modalidade que vem consumindo boa parte de seu tempo, inclusive nos fins de semana. No domingo 5 de maio, por exemplo, ele deixou a família em casa e seguiu para Volta Redonda onde assistiu à conquista da Taça Rio pelo Botafogo, que bateu o Fluminense pelo placar de um a zero. Utsch estava lá a serviço. “Tá vendo aquela bola ali? Ela é histórica, pois foi usada na final do campeonato”, diz ele, apontando para a estante colada à parede e que ocupa todo o lado direito da sala.
 
De fato, nos últimos anos, o futebol, em particular, e os esportes com bola, em geral, figuram no topo da lista de prioridades da dona das sandálias Havaianas, uma das marcas brasileiras mais conhecidas e cultuadas no Exterior, vendida em 106 países. A meta de Utsch é repetir o fenômeno com a Topper, que, como o famoso calçado com tiras de borracha, são os únicos produtos do portfólio da companhia criados internamente. Outra marca, como o tênis Rainha, foi comprada em 1979, enquanto Mizuno e Timberland, campeãs de venda da divisão de calçados esportivos, são produzidas sob licença de fabricantes japoneses e americanos, respectivamente.
 
A ideia é aproveitar as duas importantes vitrines esportivas, a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016, no Rio de Janeiro, para consolidar a Topper. Até lá, a ordem é diversificar o campo de atuação global da Topper, hoje muito concentrado no futebol, no Brasil, no rúgbi e no tênis, na Argentina, e no futsal, no Japão. Para isso, os executivos da equipe de Utsch vêm trabalhando duro em estratégias que viabilizem a colocação do “T” estilizado em uma gama cada vez maior de itens. A extensão de linha começou pelo mercado argentino, com uma coleção de tênis de corrida e de roupas casuais, desenhadas pelo premiado designer têxtil e estilista local Martín Churba.
 
Depois foi levada à Bolívia, à Colômbia, ao México e ao Paraguai. No Brasil, os calçados são vendidos desde meados de 2012, enquanto as roupas chegaram às araras das lojas somente no mês passado. “Para concorrer com as grandes marcas como Adidas, Puma e Nike, consideradas aspiracionais, é necessário estar mais perto do consumidor”, afirma o analista José Miguel Prestes, da Nielsen Sports. Embora a empresa não confirme, a Topper é avaliada pelo mercado como a estrela mais reluzente da divisão de calçados esportivos, responsável por uma receita de R$ 1 bilhão, o equivalente a um terço da receita líquida de R$ 3 bilhões obtida pela Alpargatas em 2012.
 
A maior fatia continua sendo gerada pela divisão de sandálias (51%). “As Havaianas são importantes, sem dúvida, mas a Alpargatas é muito mais que isso”, diz Utsch. “Temos um portfólio rico e variado.” Apesar disso, é inegável que as sandálias funcionam como uma espécie de embaixadora das demais marcas. Até porque seu nome está estampado na fachada de 101 lojas pelo mundo afora. Em recente conferência com analistas, Utsch contou que somente nos Estados Unidos, onde fincou sua bandeira em Huntington Beach, ao sul de Los Angeles, em 2010, serão abertas neste ano três unidades: em Miami, em Las Vegas e em Nova York.
 
A Topper, por sua vez, conta com 12 pontos de venda, todos concentrados na Argentina. Os executivos da Topper não revelam quantas lojas pretendem abrir. Dizem apenas que o foco de expansão, depois de ter se consolidado no Japão e na Argentina, privilegia os demais países da América Latina e também as nações europeias com influência latina, como Portugal, Espanha, França e Itália. As experiências internacionais da marca incluem lances ousados como o patrocínio de times de rúgbi da Argentina. Hoje, a Topper detém uma fatia de 55% do segmento de calçados dessa modalidade, no país vizinho.
 
O caso do Japão, onde pisou no final da década de 1980, não é menos emblemático. “Num país pequeno, no qual cada centímetro de terra é disputado, parecia razoável supor que o futsal teria mais praticantes do que o futebol de campo”, afirma Utsch. “Hoje isso parece óbvio, mas na época não era.” Para crescer, a empresa se aliou à gigante Kamei Corporation, uma holding da área industrial e de serviços, além de ter patrocinado a emergente equipe Fire Fox. Antes, o importante era competir. Agora, o time de executivos comandado por Utsch espera vencer, com a Topper, quantos campeonatos forem possíveis.




Veículo: Istoé Dinheiro


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