Nesse mar de incertezas, há quem veja alguma chance de estabilidade. O professor da Trevisan Escola de Negócios Alcides Leite acredita que o dólar vai ficar nos mesmos patamares de hoje, entre R$ 2,25 e R$ 2,30, e que a inflação também não deve passar dos níveis atuais, próximo ao teto da meta, de 6,5% - variação apurada pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-IBGE), nos últimos 12 meses.
"A alta do dólar provoca pressão inflacionária sim, principalmente porque alguns produtos e insumos são importados e também porque as exportações são cotadas em dólar e tendem a influenciar os preços no mercado brasileiro", analisa Leite, lembrando, no entanto, que essas elevações do dólar ainda não pressionaram os preços no país.
"Até então, os setores que mais pressionaram a inflação foram o de serviços e alimentos, e agora a pressão deve vir de produtos industrializados", indica. Em sua avaliação, a redução das tarifas de ônibus pode compensar esses aumentos provocados pela alta do dólar, embora a tendência é de que se mantenha próxima ao teto. Outro fator que pode pressionar a queda de preços é a redução do consumo, derivada da própria inflação.
Para o economista, o dólar não deve continuar a aumentar tanto quanto nos últimos dias, pois essa elevação não é propriamente uma tendência, mas sim resultado de um anúncio antecipado dos Estados Unidos quanto à interrupção das injeções de dólares no mercado norte-americano.
"O aumento foi antecipado para que a moeda não subisse muito lá na frente. E também não é interesse dos EUA que o dólar suba muito", ressalta, lembrando que "o Brasil também tem reservas para evitar um movimento especulativo que leve a moeda às alturas". Ontem, mesmo sem intervenção do Banco Central, a moeda norte-americana fechou em baixa. O dólar comercial encerrou o dia vendido a R$ 2,2276, com queda de 0,75%.
Política - Embora a previsão seja de um crescimento econômico muito modesto para o Brasil este ano, entre 2% e 2,5%, abaixo de outros países da América Latina, "fruto de erros da política econômica", Leite não acredita que essas manifestações populares, que ganharam manchetes em diversos países, podem prejudicar os investimentos no Brasil. "Ao contrário. um ponto positivo, pois tendem a melhorar o modelo, garantindo mais transparência", acredita.
Na avaliação de Alcides Leite, os investimentos, que têm perspectiva de longo prazo, continuarão no mesmo ritmo. No entanto, para ele, a mudança de postura do governo federal, de maior estímulo aos empreendedores, "chegou tarde".
E agora, observa, com uma inflação batendo no teto e a proximidade das eleições, "o governo está sem saída. A alternativa é tentar impedir que as coisas piorem", alerta. Para ele, ainda que a mudança de postura atraia os investidores e que sejam reduzidos os gastos públicos, seus efeitos serão percebidos somente no prazo de dois a três anos, depois das eleições. (AR)
Veículo: Diário do Comércio - MG