Na sombra do mogno, um novo modo de plantar de café

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A Primavera Agronegócios, braço agrícola do grupo mineiro Montesanto Tavares, que se dedica à cafeicultura e ao plantio de mogno, busca aliar as duas culturas para obter melhores perspectivas de comercialização para o café.

Esse café sombreado com mogno é um projeto pioneiro no país em escala comercial. A primeira experiência da empresa com esse sistema agroflorestal começou há dois anos com o plantio de 100 hectares em uma fazenda em Capelinha, no norte de Minas Gerais. A primeira colheita desse café começará no início de julho.

Deverão ser colhidas 1,8 mil sacas dos 60 hectares em produção. E o produto já têm comprador: torrefadores da Suécia e Austrália. A produtividade, em torno de 30 sacas por hectare, só não é maior porque as lavouras ainda são muito novas, de acordo com Marcos Soares Rezende, sócio-diretor da Primavera Agronegócios.

O plano é aumentar a área com o café sombreado de 100 para 400 hectares nos próximos dois anos, nas áreas que não são irrigadas com pivô, e mais 400 hectares de um outro projeto que está sendo negociado, conforme Rezende. Atualmente, o grupo Montesanto Tavares mantém um total de quase quatro mil hectares de café.

Embora ainda não existam dados precisos sobre os efeitos do sombreamento com o mogno - a planta leva entre 12 e 16 anos para o primeiro corte -, o café sombreado tem a vantagem de aumentar as temperaturas mínimas durante o frio e reduzir as temperaturas máximas, que são os extremos de risco para a cultura do café, de acordo com Rezende. "Melhora o ambiente e a produção", afirma.

Além disso, pode representar uma renda adicional com a comercialização do mogno. Hoje, o produto vale cerca de R$ 2.300 por metro cúbico e um hectare de mogno pode render 200 metros cúbicos de madeira. "É uma renda de curto prazo com o café e uma renda de longo prazo com o mogno", diz Rezende.

O plantio do mogno próximo aos cafeeiros também não representa custos maiores para o produtor, pois ele é cultivado nas mesmas "linhas" do café e aproveita os adubos e outros insumos usados para o grão. O sistema agroflorestal pode ser utilizado por pequenos cafeicultores com áreas a partir de um hectare.

O modelo utiliza 25% da área com o mogno. A cada quatro "ruas" de café, é intercalada uma com o mogno. Um hectare abriga 180 a 200 plantas de mogno e cinco mil pés de café.

No Brasil, o modelo da cafeicultura é a pleno sol, mas os primeiros cafeeiros que surgiram na Etiópia, na África, eram sombreados, observa Rezende. Na América Central, tradicional região produtora de café arábica de boa qualidade, a maior parte dos cafezais também é sombreada. O grão sombreado tem grande apelo comercial na Europa, que defende a preservação das florestas, pondera Rezende.

Ricardo Tavares, presidente do grupo, afirma que a empresa aposta na qualidade superior dos cafés sombreados, cuja maturação é mais homogênea e produz um sabor mais adocicado, trazendo um valor diferenciado que será valorizado pelo importador. "Dependendo da variedade do café e do manejo, o valor poderá ficar entre 10% a 30% acima do mercado".

O café é a principal atividade do grupo Montesanto Tavares, que também é considerado o maior investidor em mogno africano no país e atua em outras áreas, como logística e transporte. No início de maio, o grupo firmou uma joint venture com a trading japonesa Itochu para a criação de uma nova empresa, a Cafebras-Cafés do Brasil S/A, para ampliar a exportação de café verde de alta qualidade para a Ásia e outras regiões, como Europa e Estados Unidos.

O grupo, criado em 2000, após a venda pela família Tavares do Café 3corações para a israelense Strauss, detém também a Atlântica, empresa voltada para exportação de café verde. O faturamento da Montesanto Tavares foi de R$ 580 milhões em 2012.



Veículo: Valor Econômico


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