Petros não apoia Abilio Diniz na BRF

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O nome de Abilio Diniz, acionista do Grupo Pão de Açúcar, para o conselho de administração da BRF-Brasil Foods não é um consenso entre os fundos de pensão que controlam a empresa de alimentos, como antecipou ontem o Valor Pro, serviço de tempo real do Valor. A Petros, fundo de pensão dos funcionários da Petrobras, não apoia a ideia.

Abilio foi convidado pela gestora de recursos Tarpon para ocupar vaga no conselho como membro e possivelmente, na presidência, e o vazamento dessa informação incomodou a Petros. Esta avalia, no momento, a possibilidade de contratar assessores para formular uma "raid defense" - uma forma de "defesa de controle", usada quando um acionista percebe que outro acionista quer controlar a companhia.

Nesse caso, a intenção não seria defender-se de uma oferta hostil, mas de um "ativismo'" na BRF. Na estratégia estaria a intenção de arregimentar investidores, existentes e novos, para votar com a gestão atual - em uma movimentação semelhante àquela que está sendo feita pela Tarpon. Esta, de seu lado, também pode estar vendo que a Petros quer exercer o controle da BRF, observou uma fonte.

Segundo fontes, os maiores acionistas da BRF não estão hoje tão afinados sobre os rumos da empresa. A Tarpon lideraria um grupo, no qual estaria a Previ (o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil), que quer mudanças na empresa, enquanto a Petros acredita que a BRF deve continuar com a liderança de Nildemar Secches, atual presidente do conselho. O novo conselho de administração da BRF deverá ser eleito em abril, em assembleia.

A expectativa dos envolvidos é que haja uma definição de consenso até essa assembleia, para evitar a exposição da companhia. Quanto menor for o conflito, maiores as chances de uma composição pacífica, avaliam aqueles que participam dessas conversas.

Para compor o conselho da BRF, Abilio não precisa ter ações da empresa, bastaria sua indicação pelos acionistas. Mas fez a opção de aplicar recursos por entender que se trata de uma oportunidade.

A opção de aplicar em ações da BRF e de compor o conselho da companhia foi levada a Abilio pela própria Tarpon em meados do ano passado, próximo à época em que o Casino assumiu o controle isolado do Grupo Pão de Açúcar.

As ações que Abilio tiver também significarão votos que podem ser necessários para a sua eleição.

Quando foi procurado, o empresário não via necessidade de assumir a presidência do conselho da empresa de alimentos. A ideia surgiu de um plano que tentou ser colocado em prática, mas não avançou, em que a Tarpon, fundos de pensão e Abilio se uniriam num novo acordo na BRF. Porém, a indefinição dos fundos para uma decisão rápida não permitiu que o projeto evoluísse. Havia também preocupação com a pílula de veneno da companhia, que dificulta a formação de um grupo com mais de 20% do capital.

Abilio mantém o desejo de participar do conselho da companhia, sem que seja necessário para isso que assuma a liderança do colegiado, especialmente, se houver um cenário de conflitos. Mas por ser um nome de peso da universo corporativo nacional, representa uma oportunidade para o grupo que deseja dar um novo fôlego à companhia, com uma administração mais agressiva.

Como integra a Câmara de Políticas de Gestão, Desempenho e Competitividade do governo de Dilma Roussef, Abilio já teria tido conversas em Brasília para não surpreender o governo sobre seu interesse de investir na BRF, dentro da sua estratégia de diversificação de investimentos.

Abilio pretende aplicar cerca R$ 1,5 bilhão na BRF - fatia próxima ao que já vendeu de preferenciais do Pão de Açúcar (R$ 1,7 bilhão). Mas quando foi apresentado a essa ideia, há mais de seis meses, a ação da BRF estava pouco abaixo de R$ 30 e agora já perto de R$ 45, o que pode diminuir a velocidade da formação de sua posição.

Tarpon e Abilio não pretendem fazer uma oferta pelo controle da BRF. A Tarpon não adota, em geral, uma postura de confronto nos negócios em que o fundo atua como sócio. Os dois aliados desejam ter um poder maior no comando das decisões pela maioria no conselho - a BRF é uma empresa de capital pulverizado. Até março de 2012, havia um acordo de voto entre os fundos de pensão, mas ele venceu e não foi renovado. Juntos, os fundos têm cerca de 27% das ações.

A Tarpon quer que essa transição no conselho aconteça da forma mais tranquila possível. O Valor apurou que a Tarpon e a Previ são contra mudanças no comando executivo, nas mãos de José Antonio Fay. Para pessoas próximas à gestão da BRF, quanto mais construtivo for o discurso, maior a chance de haver aderência entre acionistas e atuais membros do conselho em busca de uma solução para esse momento.

O cenário que se desenha, caso essa definição não ocorra até abril, é que os acionistas possam pedir que a eleição do novo conselho da BRF seja por voto múltiplo - nesse caso, em vez de votar em chapas, cada candidato a conselheiro receberá votos individualmente - ficaria mais difícil prever qual a composição final do conselho da BRF.

Nildemar Secches que está em férias e retorna hoje ao país, tem dito a pessoas mais próximas que prefere fazer uma transição de sem traumas para a empresa.

Procurados pelo Valor, Previ, Petros e Tarpon não deram entrevista. Nildemar Secches não foi localizado. Abilio Diniz não se manifestou.



Veículo: Valor Econômico


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