Semestre de trabalho intenso à espera das festas de final de ano

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Produtores de aves e suínos, fabricantes de brinquedos, especiarias e espumantes representam setores da indústria que mais crescem com as festas de final de ano. Em alguns casos, as comercializações para o período representam até 50% da produção


Para determinados setores da indústria, os preparativos para o Natal começam em agosto, às vezes, até em junho. São pelo menos seis meses de trabalho acirrado, à espera de que o Papai Noel faça sua parte, contribuindo no aumento da demanda do varejo no ano seguinte. É o caso das vinícolas, que chegam a arrecadar até 60% do faturamento total somente no último trimestre de cada ano. Para tanto, a maioria das empresas intensifica a produção ainda no início do segundo semestre, como a gaúcha Vinícola Garibaldi, que produziu 1,1 milhão de garrafas para encher os estoques de atacados e supermercados, a fim de garantir a comercialização destes produtos no final de ano.

Segundo o gerente comercial da região Sul da Garibaldi, Vanderlei Pramio, este volume de espumantes destinado somente às vendas de Natal e Réveillon foi encomendado em agosto e começou a ser distribuído para todo o Brasil em setembro e outubro. A entrega para os 4,6 mil clientes ativos no Rio Grande do Sul e outros estados foi feita por caminhões, que retornaram mais duas ou três vezes para reabastecer estoques, com objetivo de que não faltem produtos nas gôndolas até 31 de dezembro.

Este ano, a Garibaldi utilizou 18 milhões de quilos de uva, sendo que quatro milhões de quilos da fruta foram destinados somente aos filtrados e espumantes. Na área construída, de 32 mil m2, as duas linhas de produção da vinícola só rodam juntas a partir de outubro. “Como temos que preparar vinhos e sucos de uva também neste período, utilizamos uma linha somente para os espumantes”, explica Pramio. Ele diz que, de outubro a dezembro, foram envazadas oito mil garrafas por hora. “Em períodos normais, são seis mil garrafas/hora.” No último trimestre, a empresa também aumentou em 15% o número de funcionários. De 103 efetivos, passou a comandar 120. Mas, além dos temporários que ajudam a tocar a produção da clássica bebida de festas de fim de ano, em outubro, a vinícola ainda precisou contratar 20% mais degustadores, promotores de vendas e repositores do que os 50 profissionais que mantém durante o ano nos três estados da região Sul, destaca o gerente comercial.

Todo fim de ano é isso. A carga horária dos trabalhadores também aumenta a partir de outubro. “O pessoal da produção trabalha dois turnos de sábados até o Natal. O expediente normal é de segunda a sexta-feira”, compara Pramio. Ele calcula que a contratação de temporários e as horas extras dos colaboradores fixos representem 2% a mais em cima do custo de produção da empresa. Também o pessoal do carregamento e da expedição, que normalmente trabalha das 7h às 17h15min, permanece na vinícola até às 22h, diariamente, até que todo o abastecimento atrelado ao Natal e ao Réveillon se conclua.

Com faturamento estimado em R$ 59 milhões, 30% das vendas da Garibaldi são de espumantes. Este ano, a produção da bebida inflou em 20%, de acordo com a estimativa de crescimento da empresa para o segmento. “O moscatel tem se destacado, somente este produto cresceu 35% em relação ao ano anterior”, diz Pramio.

Vinícolas que não trabalham com produtos de entrada, como filtrados doces, lidam menos com sazonalidade, mas não escapam disso. Instalada no Vale Trentino, em Farroupilha, a Perini é um exemplo. Com cinco mil clientes no Brasil, a empresa projeta crescimento mais arrojado nas vendas de espumantes: 25% em comparação a 2011. O incremento representa aproximadamente 750 mil garrafas da bebida. De acordo com o diretor comercial, Franco Perini, a demanda pela categoria de espumantes finos é mais linear, mesmo assim, o abastecimento do varejo aumenta no final de ano. “Cerca de 50% das vendas acontecem de janeiro a agosto, e outros 50% se concentram nos últimos quatro meses do ano”, admite.


Especiarias nas gôndolas



De Marchi calcula um crescimento de 20% nas vendas da Uniagro.


O boom do consumo de frutas secas, azeitonas e conservas de cerejas, pêssegos e figos tem data marcada no Brasil: dezembro, mês das festas de Natal e Réveillon, é o período de maior venda destes produtos, que importadoras costumam trazer de diferentes países. Em meados de junho e agosto, inicia-se a demanda para o varejo abastecer gôndolas em clima natalino. A distribuição ocorre em setembro e outubro. Para agilizar os trabalhos, a gaúcha Uniagro aumenta em 20% o efetivo de agosto a dezembro. De acordo com o fundador e presidente da empresa, Zildo De Marchi, este ano, a previsão é de que as comercializações aqueçam em 10%, atreladas às festas de final de ano. Ele afirma que os recordistas em vendas são a cereja, a ameixa, a uva passa, o pistache e a tâmara. “Os azeites e os vinagres balsâmicos também têm boa saída nesta época do ano, por isso encomendamos a vinda destes produtos (da Espanha e Itália), ainda em junho.”

Responsável pela importação de 200 variedades (com o dobro deste volume em apresentação), a Uniagro detém, em seus estoques anuais, em torno de 5 a 6 mil toneladas de especiarias. No último trimestre, a venda destes produtos aumenta em 40%, se comparada ao restante do ano. “Mesmo em dezembro, abastecemos nossos quatro mil pontos espalhados no mercado, nunca faltam especiarias nas gôndolas”, diz De Marchi, que importa de Espanha, Itália, Tunísia, Grécia, Turquia, Peru, Chile e Argentina. A carga chega em contêineres de navios ou por caminhões terceirizados.


Para alegrar os pimpolhos


No ramo de brinquedos, o Dia das Crianças é um termômetro para as vendas de Natal.


E, para antecipar as comercializações da data máxima para os pequenos, os lojistas apostam na exposição de novidades a partir de julho, ensina o diretor de Marketing da Estrela, Aires Leal Fernandes. “Os produtos que tiveram melhor desempenho são os mais requisitados para o Natal. Neste caso, as encomendas começam a ser atendidas no final de outubro.” Presente entre milhares de lojas espalhadas no Brasil, os brinquedos da Estrela são lançados ao longo do ano. Somente em 2012, mais de 220 novidades chegaram ao mercado, sendo que uma centena para o Dia das Crianças e uma dezena para o Natal. Do total da produção, 70% são voltados para o segundo semestre, por conta das duas datas.

“O Natal representa uma vez e meia o Dia das Crianças em termos de vendas”, revela Fernandes. Ele diz que, para que o varejo esteja bem suprido, a Estrela contrata cerca de 400 profissionais temporários para o período de alta de produção (abril a outubro). “Isso está em nosso planejamento, e programamos com antecedência os ciclos de produção para não sobrecarregar os funcionários.” Fernandes estima crescimento de 10% a 15% nas vendas de brinquedos da fabricante em 2012.

Além da Estrela, outras 522 fábricas de brinquedos instaladas no País geram 26 mil empregos diretos e produzem cerca de 1.800 lançamentos a cada ano, afirma o presidente da Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos (Abrinq), Synésio Batista da Costa. Ele reforça que o Natal é a segunda data mais importante para a indústria de brinquedos e representa 30% das vendas anuais do setor. A entidade estima crescimento de 14% neste ano, totalizando R$ 3,944 bilhões de faturamento para as fabricantes – no varejo, este número deve chegar perto de R$ 7,5 bilhões.



Pesos-pesados da avicultura


Em novembro e dezembro, aves temperadas (como chester e bruster) reinam ao lado de perus natalinos nos supermercados.


“Nesta época, a demanda aumenta consideravelmente entre os brasileiros”, ressalta o diretor-executivo da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav), José Eduardo dos Santos. “Nos demais meses, o peru é usado como subproduto para outros pratos e nos processados e embutidos, como presunto e mortadela”, explica o dirigente, calculando que, no final do ano, o consumo destas aves costuma subir entre 70% e 80%.

Com previsão de abate de 5,142 milhões de perus (46 toneladas), a produção do segmento aumentou 12% este ano, se comparada à de 2011. Além disso, a estimativa é de que tenham sido abatidas outras 10 milhões de aves natalinas para abastecer parte do mercado gaúcho e de outros estados, gerando uma média de mais 45 toneladas somente no último trimestre. Neste caso, são aves especiais (5kg), especialmente preparadas para as festas de fim de ano.

As agroindústrias que optam pelas aves temperadas têm sistema de manejo planejado. A preparação ocorre com certa antecedência, porque este tipo de ave vai ter peso maior – recebe suplementos vitamínicos e se alimenta mais vezes. Já o peru precisa plataforma industrial maior, para suportar o peso (em torno de 7kg) na linha de abate. As duas linhas de produção, juntas, abasteceram o mercado com 86 mil toneladas de aves natalinas este ano. “Hoje, a economia dá condições para classes antes menos favorecidas terem acesso”, destaca o diretor da Asgav.


A vez dos suínos


Do abate de suínos, uma série de cortes é destinada às receitas de Natal.


Os dias que antecedem o Natal e o Réveillon são os mais importantes para a suinocultura. O crescimento da demanda de linhas de curados, carnes temperadas (cortes especiais) e linhas de festas costuma ser de 25% com vistas ao abastecimento do varejo nos meses de novembro e dezembro. Com preparo diferenciado, estes produtos exigem mais tempo de produção do que os demais, por isso, a indústria começa o trabalho a partir de agosto.

“Alguns chegam semiprontos nos supermercados, depois de defumados ou cozidos, ainda são embalados. Além disso, tem toda a logística até chegar ao ponto de venda, isso requer bom tempo”, salienta o diretor-executivo do Sindicato da Indústria de Produtos Suínos (Sips) no Estado, Rogério Kerber, lembrando que isso inclui levar os produtos de 23 agroindústrias gaúchas para São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Nordeste. “É uma logística bem ampla: são produtos congelados e resfriados. É necessário que a viagem seja rápida e eficiente.” No Brasil, o transporte destes cortes é feito por caminhões frigoríficos.

Do abate de suínos, uma série de cortes é destinada às receitas de Natal e Ano-Novo: são lombos, pernis e sobrepaletas que precisam ser estocados ao longo dos meses. Mas, apesar do crescimento da demanda ser sazonal, o desafio de produção é diário. “A capacidade instalada de abate permanece normal”, garante Kerber, afirmando que o número de matrizes alojadas para produzirem leitões respeita o ciclo evolutivo do animal para que o mesmo chegue com peso adequado no abate. Outra linha com bastante pedidos nesta época do ano é a das linguiças. “Depois das noites em que ocorrem as tradicionais ceias se costuma fazer churrasco. Aí entram as linguiças de suínos”, reforça o dirigente.



Veículo: Jornal do Comércio - RS


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