Com destaque para inflação e Trump, Copom repete corte menor na Selic

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Por outro lado, "atividade econômica aquém do esperado no curto prazo" pode acelerar o ritmo das diminuições na taxa de juros durante o ano que vem. Próxima reunião acontecerá em janeiro.

 

 


São Paulo - O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) anunciou, ontem, o segundo corte consecutivo de 0,25 ponto percentual da taxa básica de juros. Em nota divulgada no final da tarde, a autoridade monetária destacou o cenário externo atual. Considerado "especialmente incerto" pelo colegiado do BC, o quadro internacional conta com dúvidas "quanto ao rumo da política econômica nos Estados Unidos" afirmaram os diretores do BC. A última reunião do Copom foi realizada antes da eleição de Donald Trump.

 


Na decisão unânime, também foram citados "sinais de pausa no processo de desinflação de alguns componentes do IPCA [Índice de Preços ao Consumidor Amplo] mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária". Segundo Tatiana Pinheiro, economista do Santander, a preocupação com o exterior foi a principal causa do corte menos intenso, que levou a taxa a 13,75% ao ano. "Em segundo lugar, pesou a resiliência dos preços. Acredito que o Copom está se referindo à inflação de serviços", completou a especialista.

 

Por outro lado, foi ressaltada, no documento, a atividade econômica "aquém do esperado no curto prazo". Por isso, cortes mais elevados, no ano que vem, "são mais prováveis", comentou Tatiana. "A ociosidade da economia será mais importante do que esse cenário internacional." No penúltimo parágrafo do texto, os diretores do BC escreveram que o ritmo de desinflação "pode se intensificar caso a recuperação da atividade econômica seja mais demorada e gradual que a antecipada". Esse seria um possível indício de que a abordagem do banco será alterada.

 

 

Economista-chefe da Porto Seguro Investimentos, José pena considerou essa possibilidade. "Ao mesmo tempo em que [o Copom] faz esse corte, ele sinaliza de forma diferente para cortes mais intensos nas próximas reuniões", projetou.

 



Discordância

 

 

De acordo com especialistas entrevistados pelo DCI, a redução da taxa de juros precisa ser mais intensa e deveria ter começado mais cedo. "As previsões para o crescimento da economia brasileira estão cada vez piores. Já se fala em PIB de 0% no ano que vem. Acredito que o Banco Central deve acelerar o processo de corte na Selic para evitar essa queda", afirmou José Luís Oreiro, professor de economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

 



Ele também destaca que a manutenção da taxa de juros é um dos motivos da valorização do real, que prejudica as exportações do País. Já Mauro Rochlin, professor de economia da Fundação Getulio Vargas (FGV), defendeu que o banco precisa ser "muito mais agressivo" em relação à taxa de juros. "Mesmo vivendo uma recessão, a Selic real cresceu neste ano, passando de 4% para quase 8%", lembra ele. O entrevistado ressaltou ainda que a inflação oficial perdeu força nos últimos meses, o que também favoreceria uma diminuição maior da taxa de juros no curto prazo.

 

 


Próximas reuniões

 



Ao falar sobre as próximas decisões do Copom, Rochlin indicou uma aceleração dos cortes. "No ano que vem, a inflação estará ainda menor e o ajuste fiscal deverá estar mais avançado, o que traria mais segurança para o BC", justificou o especialista. Segundo Pena, uma menor instabilidade em relação Donald Trump também pode facilitar a redução da Selic nos primeiros meses de 2017. As projeções da Porto Seguro indicam que, em dezembro do ano que vem, a taxa de juros chegará a 10,5% ao ano.

 



"Na primeira reunião, de janeiro, a baixa deve ser de 0,5 ponto percentual, mas nada impede que aconteçam cortes mais intensos, de 0,75 ponto percentual, se os cenários interno e externo possibilitarem", avaliou o analista. O último relatório de mercado Focus, divulgado pelo BC na segunda-feira, traz previsão um pouco mais conservadora, com a Selic em 10,75% ao ano no final de 2017.

 

 


Repercussão

 

 



Após a divulgação da nota pelo BC, diversas instituições se posicionaram quanto à decisão. "A atitude é correta diante de um cenário mais estável do que no passado recente", analisou a FecomercioSP. "Trata-se de uma decisão incompreensível se levarmos em conta os dados mais recentes de nossa economia", contrapôs a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP). A Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB) seguiu a mesma linha. "Faltou ousadia ao Copom para redução mais acentuada dos juros."

 

 

 



Renato Ghelfi

 



Fonte: DCI - São Paulo

 

 

 

 


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