No longo prazo. De acordo com especialistas, em diferentes metodologias, entrada de capital estrangeiro em 2015 deve recuar no Brasil, mas mercado interno voltará a ser atrativo
São Paulo - A retomada do ingresso acumulado de investimentos estrangeiros diretos (IED) no Brasil deve vir somente em meados de 2017, de acordo com especialistas. A expectativa deles é que neste ano, esse fluxo de recursos recue.
De acordo com Luís Afonso Lima, diretor presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), com base na metodologia da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad, na sigla em inglês), a previsão é de que a entrada de IED caia de US$ 62,5 bilhões registrados no ano passado, para US$ 55 bilhões. "Acreditamos que fique neste patamar em 2016 e até 2017", afirmou ao DCI.
Se confirmada o montante de 2015, seria mais um ano de retração do ingresso de IED. Ontem, o diretor da Sobeet apresentou o resultado do relatório World Investment Report 2015 (WIR 2015), que revelou uma queda de 2,3% nessas entradas no Brasil em 2014, comparado a 2013, quando registrou quase US$ 64 bilhões.
Já para o presidente da Fractal, Celso Grisi, com base em dados do Banco Central (BC) do Brasil, a estimativa é de que o ingresso desses recursos internacionais diminua de US$ 96,9 bilhões, para US$ 70 bilhões. Mas para 2016, ocorra ligeira retomada para US$ 74 bilhões. "O clima atual para receber investimentos é ruim. Houve até um movimento positivo em alguns meses. Mas a sinalização é de que o Brasil não volte a receber investimentos como antes", explica.
Por outro lado, Grisi entende, assim como o economista e membro do Conselho Federal de Economia (Cofecon), Antonio Correa de Lacerda, que o Brasil continuará a ser destaque na América Latina. A participação brasileira é de 40% do fluxo total de IED para a região.
O presidente da Fractal afirma que, apesar dos problemas que investidores estrangeiros encontram no Brasil, tal como o complexo sistema tributário, o mercado nacional apresenta vantagens, como um consumo da população em potencial.
"O investidor internacional não olha a atual conjuntura, mas sim o cenário a longo prazo. E temos ainda um grande mercado e necessidades, como em melhorar nossa infraestrutura", comentou Lacerda, durante a apresentação do WIR 2015 à imprensa brasileira, na sede da Sobeet, em São Paulo.
Fatos negativos
De acordo com o relatório da Unctad - apresentado ontem em diferentes países -, o declínio de investimentos no Brasil foi impulsionado por uma queda no setor primário (representado pelas extrações de petróleo e gás natural e de minério), de 58%, para US$ 7 bilhões. A queda dos preços de commodities foi o fator da diminuição de ingresso de IED não só aqui, mas também em países emergentes, segundo Afonso Lima.
Por outro lado, os fluxos na indústria e serviços no Brasil subiram 5% e 18%, para US$ 22 bilhões e US$ 33 bilhões, respectivamente. O IED para os veículos motorizados, na indústria, registrou o maior aumento em termos absolutos (de US$ 1,4 bilhão) e atingiu um montante total de US $ 4 bilhões, colocando este segmento entre os quatro maiores setores beneficiários em 2014, após comércio (US$ 6,8 bilhões), Telecomunicações (US$ 4,2 bilhões), e de extração de petróleo e gás (US$ 4,1 bilhões dólares).
No entanto, no que diz respeito ao Brasil como investidor, o cenário é oposto. O País foi o último no ranking da América Latina no ano passado, com um déficit de US$ 3,5 bilhões, o quarto consecutivo.
Enquanto entre os "recebedores" de recursos, o Brasil está na quinta posição - em 2009 estava na 12ª colocação -, como investidor nem aparece entre as 20 nações principais.
Já o Chile, em 2014, foi o destaque positivo em entrada de IED (com alta de 38%, para US$ 22,9 bilhões, comparado a 2013), assim como em investir em outros países (acréscimo de 71%, para US$ 13 bilhões).
"Porém, o Brasil possui um grande número de empresas que são tradicionais investidores externos, sendo o caso mais recente da JBS. Portanto, somos capazes de investir em outros países", avalia Grisi.
Na América Latina, houve queda de 18% desses investimentos no exterior entre 2013 e 2014, para US$ 23 bilhões. O mesmo ocorreu no caso das entradas, de 14,4%, para US$ 159,4 bilhões, a primeira depois de quatro anos seguidos de alta.
Além dos preços mais baixos das commodities, a redução das operações de fusões e aquisições na América Central e Caribe foi responsável pelo resultado do fluxo negativo de recursos para a região. "A atual desaceleração nos fluxos de IED para o local é motivo para reflexão. No contexto da agenda de desenvolvimento após 2015, os formuladores de políticas podem considerar potenciais opções políticas sobre o papel do IED para o desenvolvimento da região", sugere a Unctad no relatório referente a dados de 2014.
Ao participar da exposição do WIR 2015 no Brasil, o diretor do departamento de assuntos financeiros e de serviços, Embaixador Carlos Márcio Bicalho Cozendey, informou que o Brasil está intensificando as negociações para novos acordos de cooperação e facilitação de investimentos (ACFI). "Estamos em negociação avançada com a Colômbia, e iniciamos as conversas com Chile e Peru, e temos a intenção de tratar do tema como países do Norte da África", afirmou. Neste ano, foram assinados ACFIs com México, Angola e Moçambique.
Cozendey explicou que esses acordos se referem aos Acordos de Promoção e Proteção de Investimentos (APPIs), concebidos no início da década de 90, mas que foram negados pelo Congresso Nacional, por não estarem de acordo com as regras brasileiras. Segundo o embaixador, a tentativa agora, após mudanças nas cláusulas dos acordos, é de que esses tratados sejam aceitos politicamente. Com a consolidação dos já aprovados, ele espera que o Brasil possa avançar as negociações com países desenvolvidos.
No mundo
O WIR 2015 revelou que, de modo geral, o fluxo de investimentos estrangeiros diretos no mundo recuou 16,3% em 2014, para US$ 1,23 trilhão, devido "principalmente pela fragilidade da economia global, incertezas entre investidores e uma geopolítica elevada de riscos", conforme a Unctad.
Neste cenário, a China, país em desenvolvimento, passou a ser a primeira no ranking de entrada de IED, ao passar de US$ 124 bilhões para R$ 129 bilhões, ente 2013 e o ano passado. Os Estados Unidos registraram ingresso de US$ 92 bilhões, uma queda de 60%, nesta mesma base de comparação. No entanto, esse país é o primeiro colocado como investidor, com US$ 337 bilhões em 2014.
Veículo: DCI