Varejistas criticam governo petista

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Um forte antagonismo em relação ao PT marcou a 54ª Convenção Nacional do Comércio Lojista, realizada entre os dias 17 e 20 de setembro, na Bahia. O setor foi, entretanto, um dos que mais tiraram vantagem da política econômica dos governos Lula e Dilma ao se beneficiar de um forte aumento no consumo da população e o surgimento da chamada classe C.

 

Os varejistas gostam de lembrar, sempre que instados sobre o assunto, que o comércio é o segmento que mais gerou empregos desde 2004, de acordo com os dados do cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).

 

Esse desempenho, porém, tem se desacelerado no governo Dilma Rousseff. Desde 2011, a criação de vagas no comércio varejista passou de 389 mil para 330 mil em 2012 e 262 mil em 2013, todos na série ajustada. Em 2014, o saldo até agosto é negativo em 40 mil, ante uma criação de 41 mil novos postos de trabalho no mesmo período do ano passado. Essa talvez seja a principal explicação para o desconforto dos lojistas em relação ao governo do PT.

 

"Estamos vendo que realmente o ano não está apresentando um crescimento nem próximo ao que tinha na média da última década que era em torno de 8% ao ano. Não devemos crescer mais de 2,5%, falando em Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)", avaliou o presidente da Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL), Roque Pellizzaro.

 

Desde 2003 o indicador, que mede as vendas reais no varejo, tem crescido ininterruptamente na comparação anual. No governo Dilma Roussef, especificamente, as altas no PMC foram de 8,63% em 2011, 4,16% em 2012 e 5,54% em 2013. Já no acumulado de 2014, o indicador está caindo 2,58%.

 

O varejista de Curitibanos, no interior do Paraná, confirma o sentimento negativo em relação ao PT durante a convenção "e esse aqui é um público muito representativo, porque 86% do varejo é composto por micro e pequeno empresa, e 86% dos que estão aqui são micro e pequeno empresários", disse.

 

Já na cerimônia de abertura o secretário de Desenvolvimento da Bahia foi vaiado ao defender a gestão petista em seu discurso para a plateia de cerca de quatro mil pessoas. No dia seguinte, o ex-ministro da Fazenda e sócio da Tendências Consultoria, Maílson da Nóbrega, foi aplaudido toda vez que reservava palavras duras para a política econômica de Dilma ou fazia prognósticos de sua derrota na corrida presidencial deste ano. E esse cenário foi repetido ao longo da convenção todas as vezes que alguém seguia a mesma linha.

 

Mas a visão pessimista em relação ao governo do PT não é consenso entre os varejistas. O maior empresário presente na convenção era o proprietário da rede de farmácias Pague Menos, Deusmar Queiros. "A coisa está boa, as pessoas não entendem", disse ele quando questionado sobre o assunto.

"Está todo mundo indo em função de algo que alguém disse e realmente há um sentimento anti-PT muito grande. Há uma insatisfação. As pessoas não estão contentes, infelizmente. Mas se for comparar com os outros [países], estamos bem", continuou ele, antes de listar as bases de sua visão: "Não está tão ruim quanto as pessoas pintam. Desemprego de 4% no Brasil. quando foi que vimos isso? inflação de 6,5%? eu vivi inflação de 6,5% por semana".

 

Ele emenda: "Sabe qual era o sonho de Fernando Henrique Cardoso? Que o salário mínimo fosse de US$ 100. Quando ele deixou o governo era de US$ 74. Sabe quanto é hoje? US$ 300. Viva esse governo que deu poder aquisitivo para as pessoas!".

 

Já o presidente do conselho executivo da Máquina de Vendas, Luiz Carlos Batista, foi mais cauteloso em relação ao assunto. Primeiro, ele informou que não fala sobre política. Depois, ao discutir a política econômico do governo petista, ele deu um aviso: "A classe C antes não andava de avião e hoje toda ela anda de avião para cima e para baixo, compra eletrodoméstico e está comprando até casa própria. Qualquer governo que entrar vai ter de se preocupar com isso. O país ganhou 40 milhões de consumidores que não existia e ela vai permanecer, independente do governo".

 

Mas mesmo com um discurso otimista, Queiros sabe que há problemas no horizonte. "Se você pensar que 2015 vai ser ruim, acabará sendo. Se o otimismo não ajuda, o pessimismo atrapalha muito", resumiu ele. O proprietário da Pague Menos, inclusive, se esforçou para espalhar essa visão. Ao ser chamado para discursar durante a convenção para uma fala não prevista, Queiros conseguiu passar sua mensagem. "Não acreditem em má noticia", pediu ele da tribuna.

O temor de todos os varejistas ali presentes é o do desemprego. Batista sintetiza essa visão: "Se começar a ter desemprego, vai ter reflexo no varejo, na inadimplência, em tudo. O que não pode acontecer é falta de emprego. Não podemos ter desemprego".

 

A solução, para Batista, é simples. "O Brasil tem que continuar crescendo". Queiros é enfático: "Existe um Brasil bonito por aí e esse pessoal tem que sair com sangue nos olhos, para abrir loja e enfrentar o desemprego. É assim que se enfrenta a crise".

 


Veículo: Valor Econômico

 


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