Os planos da Leardini para sair da crise e evitar a falência

Leia em 4min 10s

                              Processadora de pescados pode negociar R$ 84,5 milhões dos R$ 121 milhões que tem em dívidas



Um documento de quase cem páginas procotolado no Fórum de Navegantes promete ser a salvação de uma das maiores empresas de pescado do país. Em processo de recuperação judicial desde maio, a Leardini apresentou em meados de julho o plano para quitar R$ 84,5 milhões dos R$ 121 milhões que tem em dívidas e aguarda manifestações dos credores e o agendamento da assembleia que vai decidir pela aprovação da proposta ou a falência do negócio.

Com 387 funcionários diretos, a Leardini estima arrecadar R$ 1,6 milhão em impostos por mês aos cofres do município e alega que o encerramento das atividades poderia afetar a economia da região de maneira significativa. O plano de recuperação da pesqueira envolve sete pontos, que preveem desde renegociação com bancos e fornecedores, venda parcial de bens, a emissão de títulos a mudanças no comando da empresa.

O documento afirma que a empresa não possui dívidas trabalhistas, mas uma relação de credores apresentada pela administradora judicial, Mara Denise Poffo Wilhem, reconhece um credor com R$ 46,6 mil a receber. Nesse caso, a Leardini assume que pagará o valor total da dívida, quitando o equivalente a cinco salários mínimos até 30 dias depois da homologação do plano. O restante será pago em um ano.Devendo R$ 9,5 milhões para três credores com garantias reais sobre o negócio – BNDES, BRDE e Banco do Brasil – a Leardini sugere 30% de desconto na dívida, um ano de carência e pagamento em seis anos, com parcelas semestrais.

Dívida paga em até 10 anos

À maior parte dos credores, classificados como quirografários (sem garantias), a proposta assinada pelos advogados Sandro Antônio Schapieski e Michele Tomazoni propõe desconto de 30% nas dívidas e 10 anos de prazo para pagar quitar os créditos. Eles começariam a receber pagamentos semestrais dois anos depois da homologação
do plano.

Caso o credor seja de uma micro ou pequena empresa, a Leardini sugere desconto de 15% caso o valor a pagar seja superior a R$ 2 mil, e de 10% caso seja inferior ou equivalente a R$ 2 mil. Nesse caso, o pagamento dos créditos se estenderia durante um ano, a contar 90 dias depois da aprovação do plano.

Abertura de capital e emissão de títulos

A Leardini ainda sugere que os credores usem as dívidas para investir ou fornecer matéria-prima para o negócio. No primeiro caso, a companhia quer que o chamado credor fornecedor essencial aporte recursos financeiros ao custo total máximo de 1,5% ao mês em troca de pagar a quantia injetada com metade do desconto previsto para a classe em que o crédito se encontra.

Na segunda situação, a proposta é que para cada quantia aportada em forma de matéria-prima, com prazo mínimo de 60 dias a contar do recebimento da mercadoria, a mesma quantia do crédito sujeito à recuperação será paga com metade do desconto previsto na classe, no prazo e com carência estipulados para a categoria de credores em que se enquadrar.

A Leardini também prevê se tornar uma Sociedade Anônima, constituindo conselho de administração. Com a mudança, a empresa poderia emitir debêntures, um tipo de título da dívida, conversíveis ou não para capitalizar suas operações e substituir dívidas. Nesse caso, o vencimento dos títulos não poderá ter prazo inferior a 60 meses e a Leardini terá a possibilidade de oferecer garantias reais a este credor.

Procurado pela reportagem para falar sobre o plano, o advogado Sandro Schapieski disse que a empresa não deve se manifestar e que espera apenas que a assembleia de credores ocorra “o mais rápido possível”.

Consultoria aponta dificuldades e fortalezas

Anexo ao plano de recuperação judicial, um laudo assinado pela consultoria Bewerten Business & Strategy expõe as principais dificuldades que a Leardini deverá
enfrentar ao longo do processo.

De acordo com a análise, o cenário externo à empresa é desfavorável a curto e médio prazo devido à crise econômica e à redução de consumo nas famílias. No entanto, “passado o período de ajuste fiscal, o crescimento da demanda de pescado deverá voltar a crescer, se aproximando de indicadores de consumo mundiais, o que representa oportunidade de recuperação para a Leardini”, escreve a consultoria.

A consultoria completa que as condições internas da empresa são favoráveis à recuperação. Entre os pontos positivos, a Bewerten relata que a Leardini apresenta “equipamento moderno, em bom estado, e é conhecida pela qualidade e pelo nível da tecnologia empregado”. E conclui que “de forma geral a empresa demonstra racionalidade na gestão dos recursos e comprometimento com eficiência”.


Números da Leardini
27 anos de fundação
Faturamento em julho - R$ 8.532.819,99
Prejuízo acumulado em 2015 - R$ 7,2 milhões (até julho)
Clientes - 4 mil (entre brasileiros e estrangeiros)
Produção - 24 mil toneladas por ano
Filiais - 5 (Fortaleza (CE), São Paulo, Rio Grande (RS), Belém (PA) e Recife (PE)



Veículo: Jornal de Santa Catarina


Veja também

IBGE detecta recorde na suinocultura

O abate de suínos no Brasil no 2º trimestre foi de 9,70 milhões de cabeças, registrando record...

Veja mais
Aves puxam alta de 3,2% em ração pecuária

São Paulo - Reflexo de um movimento positivo na cadeia de carnes, o setor de alimentação animal esp...

Veja mais
Abates de animais em Minas Gerais têm queda

A menor oferta de bovinos em Minas Gerais fez com que o abate dos animais recuasse 9,7% ao longo do segundo trimestre, f...

Veja mais
ABCZ mostra potencial da carne bovina brasileira

A Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ) vai participar de uma das maiores e mais globalizadas ...

Veja mais
Volume de exportações de bovino cai 15% em 2015

São Paulo - Entre os meses de janeiro e agosto, as exportações de carne bovina atingiram US$ 3,8 bi...

Veja mais
Com 1 boi por hectare, pecuária extensiva degrada cerrado

                    ...

Veja mais
JBS cria presidência global de operações

O executivo Gilberto Tomazoni, que estava no comando da JBS Foods, braço de produtos processados do grupo JBS, da...

Veja mais
Picanha tem preço mais sensível à variação no quilo do boi gordo, seguido de lombo e filé mignon, diz pesquisa

Altas são repassadas de forma mais intensa do que as baixas para o consumidor, principalmente nas épocas d...

Veja mais
Quilo do suíno vivo sobe R$ 0,28 no Rio Grande do Sul, diz Acsurs

O preço do quilo do suíno vivo no Rio Grande do Sul subiu R$ 0,28 nesta semana e alcançou R$ 4,04, ...

Veja mais