Marfrig busca apoio do governo do RS para manter Alegrete

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Uma nova reunião entre representantes da Marfrig, do governo do Rio Grande do Sul e dos criadores de gado bovino para tratar do futuro da unidade da empresa em Alegrete ocorrerá no início da próxima semana, num momento em que a Marfrig emite sinais contraditórios sobre os planos para o Estado. Ao mesmo tempo em que negocia um pacote de medidas de apoio com o governo para reverter a decisão de desativar a planta, a companhia estuda assumir as unidades de Capão do Leão e Mato Leitão, arrendadas do frigorífico Mercosul em 2009, mas desativadas desde 2012, e contratou os serviços de confinamento de gado de uma fazenda em Eldorado do Sul.

A incerteza gera ansiedade entre os 2,2 mil funcionários da Marfrig no Estado, distribuídos nos frigoríficos de Alegrete e Bagé, também arrendados do Mercosul, e na unidade própria de São Gabriel, que abatem 1,5 mil animais por dia, segundo os sindicatos dos trabalhadores nas indústrias de alimentação dos três municípios. "Não estamos seguros", disse o presidente da entidade de São Gabriel, Gaspar Neves, mesmo depois que a planta local contratou 110 pessoas em setembro e chegou a mais de 700 empregados.

O temor se espalhou entre os trabalhadores depois que a Marfrig anunciou, em agosto, que suspenderia os abates em Alegrete por tempo indeterminado devido a uma "decisão estratégica e mercadológica" tomada em linha com a "dinâmica do setor" e disse que as plantas de Bagé e São Gabriel teriam "expansão significativa" nos meses seguintes. Diante da iminência da demissão de 650 pessoas, o governo gaúcho e a empresa criaram uma "mesa de negociação" em busca de alternativas para manter as operações da planta, que por ora segue funcionando.

Procurada pelo Valor, a Marfrig respondeu, em nota, que "tem mantido discussões com algumas entidades e órgãos da administração pública no intuito de buscar alternativas que possam ajustar as condições mercadológicas enfrentadas no Estado do Rio Grande do Sul e, eventualmente, viabilizar a manutenção da operação da unidade de Alegrete". Também reafirmou que estuda adquirir as plantas de Capão do Leão e Mato Leitão, além dos frigoríficos de Pirenópolis (GO), Tucumã (PA) e Nova Londrina (PR), todos arrendados do Mercosul.

Segundo o secretário em exercício da Secretaria de Desenvolvimento e Promoção do Investimento (SDPI), Luís Fernando Farinati, os pedidos da Marfrig incluem benefícios tributários, apoio na implantação de um sistema de rastreabilidade e rapidez no licenciamento ambiental de um confinamento, além da adoção do regime de banco de horas na planta de Alegrete. Segundo o secretário da Agricultura, Cláudio Fioreze, a reunião com representantes de produtores e da empresa seria hoje, mas foi adiada por problemas de agenda dos executivos da Marfrig.

Mas o licenciamento já emitido pela Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) em apenas 20 dias intrigou os sindicalistas. A fazenda Simental do Jaguaretê, em Eldorado do Sul, que confinará até 3 mil cabeças para a empresa, fica a 450 quilômetros de Alegrete, a 115 de Mato Leitão, a 280 de São Gabriel, a 300 de Capão do Leão e a 330 de Bagé. Segundo o chefe da divisão agrossilvipastoril da fundação, Arno Kayser, em 2012 a Marfrig obteve licença prévia para um confinamento próprio de 4 mil animais em Bagé (a 300 quilômetros de Alegrete), mas não levou o projeto adiante.

Para o presidente do sindicato dos trabalhadores de Alegrete, Marcos Rosse, a menos que a empresa terceirize outro confinamento mais próximo, a operação em Eldorado do Sul pode significar o fim definitivo dos abates no município. Segundo ele, a Marfrig propôs um sistema de banco de horas com apuração de jornada extra a receber ou a compensar pelos funcionários a cada seis meses, mas a entidade quer um prazo de 90 dias e limitação dos "saldos devedores" dos funcionários acumulados em função de eventuais reduções do ritmo de produção.



Veículo: Valor Econômico


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