Hemmer Alimentos completa 100 anos com história que se confunde com a de Blumenau

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Empresa do bairro Badenfurt começou produzindo chucrute

 



Caminhar de um setor a outro da mais recente centenária blumenauense é entender o significado de orgulho. É esse o sentimento estampado nos rostos dos que vestem o uniforme azul e branco bordado com o sobrenome do imigrante Heinrich Hemmer, que há cem anos iniciou a venda de porta em porta do primeiro produto da empresa de alimentos: o chucrute.

Um século se passou e hoje, entre os cerca de 300 itens da linha, o repolho fermentado em conserva deixou de ser o carro-chefe e produtos como o pepino lideram as vendas. Com isso, é grande a responsabilidade de um dos funcionários mais antigos da casa: Rubens Michels, 73 anos de vida e 49 de Hemmer. Há três décadas é ele quem cuida do processo de pasteurização dos alimentos em conserva como a beterraba, o palmito e, claro, o pepino.

— Trabalhar na Hemmer é um orgulho, não tem empresa melhor. Não troco esse serviço por nada, só se eu não puder mais trabalhar — diz, emocionado.

Sua função hoje é operar os equipamentos que colocam os produtos em tanques com água em alta temperatura e em seguida resfriá-los. Michels começou transportando casca de palmito em carroças, passou para as caldeiras e depois chegou à pasteurização. O trabalho na empresa ajudou Michels a constituir a família. Casou, teve dois filhos, mudou-se de Pomerode para Blumenau e hoje mora pertinho da fábrica, no bairro Badenfurt. Mas com toda a experiência acumulada em quase meio século de trabalho, uma pergunta ainda tem dificuldade de responder:

— Qual é o produto que o senhor mais gosta?

— É tudo bom... mas eu gosto mais da beterraba, como quase todo dia!

Carlos Roberto Bauler, 40 anos, é outro funcionário cuja história de vida se confunde com a da empresa. Foi contratado aos 14 anos para trabalhar no setor de mostardas, onde hoje é supervisor. Começou na área de embalagem, colando caixas e colocando carimbos, e aos poucos foi crescendo, junto com a empresa:

— Fui pro moinho de pedra pra fazer a mostarda, virei substituto de supervisor e depois de 15 anos me tornei supervisor no setor de mostarda. Se tudo der certo em nove anos me aposento aqui na Hemmer. Tenho muito orgulho de ter trabalhado em uma única empresa durante a vida e de ser em um lugar como a Hemmer, que eu gosto tanto. É muito bom fazer parte de uma história.

O item preferido de Bauler não precisa nem de pergunta, porque ele deixa claro que é a mostarda, e ainda confirma: a escura é mesmo mais forte que a amarela.

— É por causa da semente. Muita gente acha que vai corante, mas não vai, a semente é escura e é ela que faz o picante da mostarda. Vai pimenta também, mas a quantidade é muito pequena. E ela é ótima pra temperar carne — indica.

A Hemmer Alimentos em números

- 100 anos
- 379 funcionários
- 12 mil toneladas de alimentos processados por ano
- 150 garrafas de mostarda envasadas por minuto
- 22 mil metros quadrados
- Mais de 300 itens na linha de produtos
- Presente nos 26 Estados brasileiros e no Distrito Federal

Sede da empresa nos anos 1930. Foto: Arquivo Pessoal

Representante da cultura e sobrevivente de um setor

Encontrados em todo o território brasileiro os produtos Hemmer carregam em cada embalagem a origem blumenauense, e isso se traduz em confiança dos compradores, afirma o diretor comercial da empresa, Elisandro Nunes:

— O fato de ser um produto do Sul já dá essa imagem para as pessoas, mas quando elas descobrem que é de Blumenau a compra é certa, tem muita credibilidade.

Para a historiadora e diretora do Arquivo Histórico Municipal José Ferreira da Silva, Sueli Petry, isso acontece porque a marca sempre se pautou pela seriedade, organização e persistência, primando pela qualidade dos produtos.

— Pode se dizer que ela representa mais um dos grandes produtos de Blumenau que vem resistindo a todas as crises, pois tem uma trajetória em vários momentos da história da cidade e que não esmoreceu — avalia, ressaltando que a Hemmer é uma sobrevivente do setor alimentício que soube se modernizar e se manter fiel aos seus princípios.

Com isso, a história da Hemmer Alimentos se confunde com a de Blumenau. O atual presidente Ericsson Luef — que faz parte da quinta geração da família, assim como os outros cinco diretores — conta que a empresa começou depois de um convite do doutor Hermann Blumenau para que o patriarca Heinrich Hemmer viesse para o Brasil ocupar uma vaga de professor.

Com a demora da viagem, ao chegar o posto já estava preenchido e ele buscou outros caminhos: começou a fazer o chucrute de forma caseira, com o repolho que ele mesmo plantava. Os pedidos cresceram, assim como a variedade, o que para Luef continua sendo o grande diferencial da Hemmer.

—  O carinho e a ligação com os nossos fundadores, e a maneira de produzir muito atenta para que nosso consumidor continue comendo o mesmo produto que o conquistou há 60 anos. Esse respeito ao que os antepassados fizeram, ao legado e a qualidade é o que temos de diferente — finaliza.




Veículo: Diário Catarinense


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