Déficits de volume e valor na balança brasileira de café torrado

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Maior produtor e exportador mundial de café verde, o Brasil fechará 2014 com os maiores déficits da história recente em sua balança comercial do produto torrado, de valor agregado mais elevado. Não só as importações baterão recorde nessa frente, tanto em volume quanto em receita, quanto, nos dois casos, as compras no exterior serão maiores que os embarques, também uma combinação inédita.

Conforme especialistas ouvidos pelo Valor, o movimento é diretamente influenciado pela expansão do mercado interno de cápsulas, ainda fortemente dependente de importações. Em boa medida graças à demanda adicional gerada por esse avanço, de janeiro a novembro já desembarcaram no país 2.254 toneladas de café torrado, 46% mais que em igual intervalo de 2013, de acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex/Mdic) compilados pela P&A Marketing Internacional. Na mesma comparação, as exportações diminuíram praticamente 15% e somaram 1.524 toneladas.

Se no caso dos volumes é a primeira vez que as importações brasileiras de café torrado superam as exportações, no da receita é uma tendência já observada desde 2011, mas que vem se aprofundando (ver infográfico ao lado), como observa João Alberto Peres Brando, gerente da P&A. Nos 11 primeiros meses deste ano, essas compras custaram US$ 44,140 milhões, 47,8% mais que em igual intervalo de 2013, enquanto os embarques caíram 20,3%, para US$ 11,219 milhões, de acordo com os dados da Secex.

Em grande parte por conta do aumento das importações de cápsulas, bastante valorizadas no mercado internacional, o preço médio das importações brasileiras de café torrado chega, atualmente, a US$ 20 por quilo, ao passo que a cotação média das exportações do país está em torno de US$ 7, conforme informações da P&A.

Das 2.254 de toneladas de café torrado importadas pelo Brasil de janeiro a novembro deste ano, 1,6 mil já vieram em cápsulas - foram cerca de 350 milhões delas, considerando-se uma quantidade média de 5 gramas para cada unidade. Pesquisa realizada pela Nielsen a pedido da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) mostra que o volume de cápsulas consumido no mercado doméstico já cresceu 52,4% de 2013 para 2014.

Com base em projeções da Euromonitor sobre o consumo mundial de café, Carlos Brando, sócio-diretor da P&A, estima que existe uma tendência de que o mercado de cápsulas no Brasil cresça 20% ao ano nos próximos dez anos. Como a base ainda é pequena, reforça ele, o avanço tende a ser vigoroso.

Brando também observa que deverá demorar bastante tempo para que o Brasil produza o volume de cápsulas que atualmente é importado, mesmo que já existam iniciativas em curso, promovidas por diversas empresas brasileiras e multinacionais, para elevar a produção doméstica.

A suíça Nestlé, por exemplo, confirmou na semana passada que vai construir em Montes Claros, em Minas Gerais, sua primeira fábrica de cápsulas fora da Europa, conforme havia antecipado o Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor. A 3corações também anunciou uma unidade de cápsulas no mesmo município. Além das duas, companhias de pequeno porte já estão produzindo no Brasil.

A agregação de valor com as cápsulas é grande, diz Brando. Enquanto um quilo de café torrado e moído tradicional custa entre R$ 10 e R$ 12, a mesma medida de cápsulas vale entre R$ 250 e R$ 300.

O Brasil sempre foi fornecedor de café verde, matéria-prima que chega a torrefadores de outros países - principalmente europeus, além dos EUA - e é transformada por eles em produto torrado e moído para exportação, com preços mais altos. Segundo Carlos Brando, essa lógica é difícil de ser modificada, porque o Brasil não tem marcas reconhecidas no mercado externo.

Guilherme Braga, diretor-geral do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (CeCafé), acrescenta que, além da falta de marcas reconhecidas, outro problema para o crescimento das exportações brasileiras de café torrado e moído é o custo de manter distribuição lá fora, além da competição com grandes empresas que dominam as prateleiras nos supermercados. Para ele, uma possibilidade de o Brasil elevar os embarques de café industrializado no médio prazo é por meio de múltis de porte que venham a produzir no país.

Conforme dados do CeCafé, as exportações brasileiras de torrado e moído decresceram de 110.954 sacas de 60 quilos, em 2008, para 30.846 em 2013. Neste ano, até novembro, o volume embarcado recuou 6,3% sobre igual intervalo de 2013, enquanto os embarques de café verde cresceram 17,7%, para 29,909 milhões de sacas.




Veículo: Valor Econômico


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