Preço de commodities despencam em 2014

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A combinação entre o aumento da oferta de produtos e a desaceleração da economia da China - um grande importador de matérias-primas - fez os preços das commodities despencarem neste ano, retornando aos patamares do auge da crise financeira global de 2008. Além de significar receita menor aos produtores, a queda dos preços afetará diretamente a já combalida balança comercial brasileira. E o alívio que os preços mais baixos poderiam trazer à inflação, no caso da soja mais barata, por exemplo, não será sentido pelo consumidor por causa da alta do dólar ante o real. O quadro fica pior quando se considera o recrudescimento, no mercado financeiro, do temor sobre uma desaceleração global.

Cálculos da Rosemberg Associados mostram que as receitas de exportações, somente com soja e minério de ferro, devem diminuir em cerca de US$ 17,5 bilhões do total das receitas de produtos agrícolas em 2015. O resultado, estima a consultoria, será um déficit na balança de US$ 2 bilhões - ante expectativa de saldo zero neste ano. De outro lado, o efeito do preço mais baixo desses produtos e de seus derivados não será sentido pelo consumidor no mercado interno. ''O cálculo foi feito com a estimativa de que os volumes exportados irão se manter. A perda, no caso da soja, será de US$ 10,5 bilhões, e a do minério de ferro, de US$ 7 bilhões'', estima Rafael Bistafa, da Rosemberg Associados.

A conta considera uma redução média de 30% nos preços da soja e de 25% no minério de ferro. No caso do minério, a queda no ano já chega a quase 40% no mercado global, mas a Vale, principal produtora mundial, tem um produto considerado de melhor qualidade e acaba conseguindo um prêmio sobre o preço. As duas matérias-primas são responsáveis por 28% da pauta de exportações do país.

No ano até setembro, as exportações brasileiras somavam US$ 173,6 bilhões, sendo 50,1% oriundos da venda de matérias-primas. O principal grupo de commodities é o complexo da soja (grão e derivados), mas minério de ferro, petróleo e outros produtos agrícolas também têm participação significativa.

No caso do petróleo, Bistafa afirma que o efeito acaba sendo neutro, já que o Brasil é exportador e importador do produto e seus derivados.

Com relação aos demais produtos, a queda generalizada de preços não chegará ao bolso do consumidor brasileiro. Primeiro, porque não haverá aumento da oferta no mercado interno, já que os volumes exportados devem se manter. Mas, principalmente, porque o dólar valorizado tende a cobrir a diferença de preços.

Clemens Nunes, professor da Escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP), lembra que uma consequência da queda do preço das commodities é o efeito no dólar. O menor fluxo de moeda estrangeira para o país proveniente das exportações, observa ele, contribui para pressionar a cotação da moeda norte-americana. Alguns analistas, como os da Nomura Securities, já apostam em um dólar a R$ 2,85 até o fim de 2015.

''Ainda não sentimos essa inflação por causa do dólar maior, já que, até agosto, o Banco Central estava tentando controlar a cotação. A alta atual da moeda e a que virá vão influenciar os índices de inflação. Leva um tempo para esse repasse acontecer'', diz Nunes.

Com os preços em baixa nos mercados internacionais, José Carlos Hausknecht, sócio diretor da MB Agro, os produtores de regiões mais afastadas, como o Mato Grosso, ficam em pior situação, pois já têm uma rentabilidade menor por causa dos custos mais elevados de transporte.

'A saída para o produtor vai ser reduzir o custo, investindo menos em tecnologia, o que significa usar uma semente mais barata, mesmo que tenha potencial produtivo menor, e menos fertilizante'', explica ele, referindo-se ao risco de menor produtividade nessas áreas.

No caso da soja, a queda de preços no mercado global foi de 27,4% neste ano. A cotação do buschel (medida de referência usada pelos produtores), por exemplo, passou de US$ 13 no ano passado para cerca de US$ 10 em 2014. Para o ano que vem, a projeção é que recue a US$ 9.

''Esse produtor, que já está com um custo de produção acima do valor de venda, começa a entrar no vermelho. Ele só está honrando os contratos porque tem uma gordura para queimar, já que nos últimos anos o preço estava muito alto (chegou a US$ 17 em 2012)'', diz Fabrício Rosa, diretor-executivo da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Mato Grosso (Aprosoja).



Veículo: Diário de Pernambuco


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