Aumenta a pressão baixista sobre os preços dos grãos no mercado global

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Novas estimativas sobre oferta e demanda de grãos no mundo divulgadas ontem pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) e pela FAO, o braço das Nações Unidas para agricultura e alimentação, ampliaram a pressão baixista sobre as cotações internacionais de milho, trigo e soja nesta temporada 2014/15 - que já se encontra em fase de colheita no Hemisfério Norte e cujo plantio começará a ganhar força no Brasil nas próximas semanas.

Referência maior para a formação dos preços dessas commodities no que se refere aos "fundamentos" de cada mercado, o USDA elevou suas estimativas para as produções e para os estoques finais mundiais dos três grãos no ciclo atual. E, também para o trio, os dois indicadores apresentam aumentos em relação à safra 2013/14, tingindo com cores ainda mais vivas o quadro confortável de abastecimento que ganhou seus primeiros contornos no fim do ano passado e que já levou a um forte recuo das cotações nos últimos meses.

Para o milho, grão mais produzido do planeta, o órgão americano passou a projetar uma colheita global recorde de 987,52 milhões de toneladas em 2014/15, quase 1 milhão a mais que no ciclo anterior, até agora o mais polpudo da história. O USDA revisou para cima suas projeções para os volumes dos mais importantes produtores mundiais, especialmente nos Estados Unidos, onde o clima tem favorecido produtividade e colheita. Com isso, passou a estimar os estoques no fim da temporada, em agosto de 2015, em 189,91 milhões de toneladas, quase 10% acima de 2013/14.

No caso do trigo, o USDA elevou sua estimativa para a produção mundial em 2014/15 para 719,95 milhões de toneladas, 0,8% mais que na safra anterior, em virtude sobretudo da melhora do clima na Ucrânia, na Rússia e na União Europeia. A demanda também deverá aumentar, para 710 milhões de toneladas, mas mesmo assim os estoques mundiais finais deverão chegar a 196,38 milhões de toneladas, quase 10 milhões a mais que em 2013/14.

Para o preço da soja, carro-chefe do agronegócio brasileiro, o quadro é ainda mais baixista. O órgão americano passou a projetar a produção mundial de soja em 311,13 milhões de toneladas em 2014/15, 9,9% mais que na temporada anterior. Como a expectativa é que a demanda aumente 5,9%, para 284,98 milhões de toneladas, os estoques finais mundiais passaram a ser calculados em 90,17 milhões de toneladas, um incremento de 34,8% na comparação.

As novas projeções do USDA confirmam que a colheita americana será mesmo a maior da história (106,5 milhões de toneladas) e mostram que as boas perspectivas para o plantio no Brasil também deverão levar a produção a bater recorde no país - a estimativa do órgão subiu para 94 milhões de toneladas, um aumento de 8,4% em relação a 2013/14. No tabuleiro do USDA, o Brasil permanecerá na liderança das exportações globais do grão, à frente dos EUA, com 46,7 milhões de toneladas em 2014/15.

Diante de todas essas novas estimativas, as cotações de milho, trigo e soja recuaram ontem na bolsa de Chicago, bem como as projeções do USDA para os preços médios que serão recebidos pelos produtores americanos ao longo da temporada. Má notícia para os exportadoras, a tendência anima empresas que processam essas matérias-primas para a produção de alimentos ou que têm nas rações uma fonte importante de custos, e tende a aliviar os índice inflacionários globais - como, aliás, já vem acontecendo.

Ao mesmo tempo em que também publicou novas estimativas que corroboraram o cenário de aumento da oferta mundial de grãos traçado pelo USDA, a FAO divulgou ontem que seu índice global de preços de alimentos voltou a recuar em agosto, desta feita para o menor patamar desde setembro de 2010. E tanto o indicador da agência da ONU específico para o grupo formado pelos cereais (inclui milho e trigo) quanto o que mensura os rumos das cotações dos óleos vegetais (inclui soja) colaboraram para isso.

O índice geral caiu pelo quinto mês seguido e atingiu 196,6 pontos no mês passado, bem abaixo, por exemplo, dos resultados médios de 2011 (229,9 pontos, maior nível anual já registrado), 2012 (213,3) e 2013 (209,8). No caso do indicador dos cereais, o recuo foi para 182,5 pontos, ante as médias anuais de 240,9 pontos de 2011, 236,1 de 2012 e 219,3 de 2013. E no caso dos óleos vegetais, a queda em agosto foi para 166,6 pontos, ante médias de 254,5 pontos de 2011, 223,9 de 2012 e 193 do ano passado.

Também recuaram em agosto os preços médios mundiais dos lácteos e do açúcar. Apenas o grupo formado pelas carnes apresentou alta na comparação com julho, por conta, basicamente, de ofertas restritas de bovinos em importantes países produtores e exportadores. Conforme a FAO, na Austrália os preços dispararam. E no Brasil, como já informou o Valor, também estão em nível bastante elevado.



Veículo: Valor Econômico


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