São Martinho aposta na alta do açúcar

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Por Fabiana Batista | De São Paulo



Diante da convicção de que a real quebra da produção de açúcar nesta safra no Centro-Sul do Brasil ainda não está expressa nas cotações da commodity na bolsa de Nova York, o grupo sucroalcooleiro São Martinho deixou para vender a maior parte de sua produção de açúcar a partir do segundo trimestre do ciclo.

Até o fim dos primeiros três meses da safra, ou seja, até 30 de junho, a companhia havia fixado preços de 393 mil toneladas da commodity, o equivalente a apenas 47,3% de sua exposição líquida - total de vendas de açúcar menos o volume de cana comprado de fornecedores. Na mesma época de 2013, esse percentual era de 91% de sua exposição líquida.

Destacando que se trata de um retrato até 30 de junho, o presidente do grupo, Fábio Venturelli, afirma que ainda há uma certa desconfiança do mercado internacional em relação à safra brasileira. "Há esperança de que a produção da commodity vai surpreender favoravelmente aos que apostam na baixa dos preços", avalia o executivo.

Entretanto, sua visão é a de que, a partir do fim de agosto, o mercado vai começar a perceber a queda da produção e o impacto na moagem. A companhia, diz ele, continua acreditando que essa mudança de tendência está próxima. "Quando se olha a fotografia agora, com produtividade e teor de açúcar na cana elevados, o cenário é de 'céu de brigadeiro'. Mas, quando as usinas, que agora moem aceleradamente, forem colher em outubro, não vão encontrar cana. Aí virá a surpresa", avisa.

O volume de açúcar fixado até 30 de junho está com um preço médio equivalente a 44,46 centavos de real por libra-peso, resultado de uma combinação de preço médio de 18,30 centavos de dólar por libra-peso e de um hedge cambial ao dólar médio de R$ 2,43. Esse valor em reais já é 10% superior ao preço médio de 40,46 centavos de real por libra-peso registrado em todo o ciclo passado.

"O dólar foi determinante. No ciclo passado, nosso hedge cambial médio ficou na casa dos R$ 2,25", compara o diretor financeiro e de relações com investidores da São Martinho, Felipe Vicchiato.

A São Martinho, diz Venturelli, ainda não vai revisar sua projeção para o ciclo 2014/15, de moagem de 19,640 milhões de toneladas de cana, apesar da estiagem. "O clima na unidade de Goiás (Usina Boa Vista) tem sido muito favorável, o que tende a compensar possíveis perdas nas usinas paulistas", afirma.

No primeiro trimestre da safra, o volume de moagem e produtividade da companhia cresceu, em decorrência do grande volume de cana que ficou no campo do ano passado para este e da aquisição do controle da usina paulista Santa Cruz. Mas Venturelli reconhece que ao longo dos próximos trimestres o desempenho da planta tende a se estabilizar e até recuar. De abril a 30 de junho, a São Martinho processou 7,6 milhões de toneladas de cana, 37,8% acima de igual período da safra passada.

Em balanço divulgado ontem, o grupo informou um lucro líquido de R$ 60,7 milhões no primeiro trimestre, 75% mais que nos três meses encerrados em 30 de junho de 2013. Venturelli afirma que os resultados foram fortemente influenciados pela venda de energia elétrica e de etanol anidro (que é misturado à gasolina). No período, a receita líquida com a comercialização de eletricidade foi a R$ 50 milhões, ante os R$ 9 milhões obtidos um ano antes, e cerca de 10% da receita total do grupo no trimestre (R$ 511 milhões).

Houve um aumento no volume vendido e do preço médio, que avançou para R$ 256 por MWh, contra R$ 167 o MWh de um ano antes. "Vendemos 40 mil MWh no mercado spot (sem contrato), com preço médio de R$ 740 o MWh", detalhou o diretor financeiro e de relações com investidores da companhia. Com isso, o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado ao valor justo dos ativos biológicos (canaviais) aumentou 7,3% no primeiro trimestre do ano, a R$ 227 milhões. Na mesma comparação, a margem Ebitda subiu 1,6 ponto percentual, a 44,4%.

A dívida líquida subiu 2,6%, para R$ 1,579 bilhão, equivalendo a 2,02 vezes o Ebitda. Com a aquisição do controle da Santa Cruz, concluída na sexta-feira passada, o endividamento líquido deverá subir para R$ 1,980 bilhão, ou 2,14 vezes o Ebitda.



Veículo: Valor Econômico


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