Governo promete apoio à comercialização de milho

Leia em 5min 30s

O Ministério da Agricultura poderá anunciar nas próximas semanas apoio à comercialização de milho caso os preços do cereal se mantenham abaixo do mínimo de garantia no Centro-Oeste, maior produtora de segunda safra. No entanto, apesar da sinalização, os leilões devem ocorrer a partir de agosto, quando, segundo o secretário de Política Agrícola do Ministério, Seneri Paludo, o governo terá uma avaliação mais clara da safrinha, ainda em fase inicial de colheita. "Se o ministério achar necessário, pode fazer o anúncio em julho, mas é muito difícil implementar (leilões) ainda no mês", disse Paludo em entrevista ao Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado.

O apoio à comercialização pode envolver desde contratos de opção de venda futura, aquisições diretas a leilões de prêmios para estimular o escoamento do grão da região produtora para áreas de consumo, mas a tendência é de que, assim como ocorreu em 2013, a opção seja por Prêmio Equalizador Pago ao Produtor (Pepro). Algumas entidades do setor produtivo afirmam ser imprescindível essa intervenção governamental para não desestimular o plantio do cereal já que a tendência é de preços mais baixos no segundo semestre e menor demanda para exportação.

De acordo com Paludo, o ministério avalia o volume que será necessário apoiar, considerando que a safra deve chegar a 43,759 milhões de toneladas, na estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O montante de recursos que será destinado à operação tampouco está definido, ainda que o ministro Neri Geller já tenha afirmado que R$ 5,6 bilhões estão disponíveis para o Programa de Garantia de Preço Mínimo (PGPM) neste ano.

Na prática, tanto o governo quanto o setor produtivo esperavam redução mais significativa de produção do que os 6,8% estimados pela Conab na comparação com a safra passada, quando produtores colheram 46,928 milhões de toneladas. A colheita menor poderia afastar a necessidade intervenção no mercado. Na temporada passada, os preços ficaram abaixo do mínimo durante todo o período de safra, chegando a R$ 9/saca no Médio-Norte de Mato Grosso, ante mínimo de garantia de R$ 13,02/saca na época. O governo ajudou a escoar pelo menos 10 milhões de toneladas por meio de leilões de contratos de opção, Pepro e compras dentro do programa de Aquisição do Governo Federal (AGF) para a formação de estoque regulador, tentando garantir a remuneração mínima. Hoje, produtores do Médio-Norte de Mato Grosso vendem milho a R$ 12,50/saca. Em Mato Grosso do Sul, as indicações de compra para julho, pico da safra, estão em R$ 17/saca e em Goiás, a R$ 17,50/saca para agosto. Nos dois Estados, o mínimo de garantia do governo é de R$ 17,56/saca.

A redução de área foi de 3,9%, segundo a Conab, para 8,692 milhões de hectares em todo o País, mas mesmo em Estados em que produtores optaram por culturas com maior perspectiva de rentabilidade o clima favorável impulsiona o tamanho da safra. É o caso do Paraná, que reduziu a área plantada em 12,1%, para 1,905 milhão de hectares, mas a safra ainda será de 9,97 milhões de toneladas (-3%). Na safrinha do último inverno, o Estado havia cultivado 2,169 milhões de hectares e colhido 10,485 milhões de toneladas. Mato Grosso reduziu área em 5,8%, para 3,155 milhões de hectares, e a produção deverá ser 14,4% menor, de 16,564 milhões de toneladas.

"A expectativa desse ano era de redução de área plantada e, com isso, talvez não precisasse de intervenção. As produtividades surpreenderam e isso, lógico, gera pressão sobre os preços", complementou Paludo.

Leonardo Machado, técnico da Comissão Nacional de Cereais, Fibras e Oleaginosas da Confederação Nacional de Agricultura (CNA), afirmou que alguns Estados, a exemplo de Goiás, devem compensar a redução de área registrada em Mato Grosso e Paraná, os dois maiores produtores de milho safrinha do País, o que explica a queda dos preços. "Só não vai ter produção recorde porque houve redução de tecnologia", disse.

Machado afirmou que as conversas da CNA com o Ministério da Agricultura ainda são informais, mas, pelas estimativas da entidade, o governo precisaria apoiar a comercialização de cerca de 10 milhões de toneladas, volume semelhante ao do ano passado. A mudança, no entanto, deve ser o aumento de recursos para Goiás e Mato Grosso do Sul, ainda conforme Machado. Ele pondera, ainda, que, além dos leilões de Pepro, o governo precisará comprar milho para estoques públicos, hoje em 1,728 milhão de toneladas, já que a Conab continua escoando cereal para a região da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene). "O governo não deve fugir do Pepro e deve fazer aquisição de estoques, como no ano passado", completou.

O presidente da Associação de Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso do Sul (Aprosoja-MS), Maurício Saito, informou que, numa estimativa "conservadora", a produção do Estado deve alcançar 7,5 milhões de toneladas, abaixo das 7,8 milhões de toneladas colhidas na safrinha de 2013. "Houve uma diminuição de tecnologia de produção, mas o clima compensou. Não registramos geadas neste ano e não tivemos ataque de pragas", explicou. O executivo observou que entidade espera a colheita ganhar ritmo, a partir de 10 de julho, para ter dimensão mais clara do tamanho da safra e então apresentar uma proposta de apoio à comercialização ao governo. "Tudo vai depender da evolução de colheita e se diminuir porcentual de exportação vai impactar no preço ao produtor", completou.

DEMANDA INTERNACIONAL


O setor produtivo tem mostrado preocupação com a possível diminuição da demanda internacional para o milho brasileiro, mas representantes afirmaram que o Pepro deve ser suficiente para garantir o ritmo dos embarques. As exportações são fundamentais para enxugar o excesso de produção, especialmente em Mato Grosso, que consome cerca de 4 milhões de toneladas de milho por ano, ante previsão de produção de mais de 16 milhões de toneladas.

O temor é de que, após a seca de 2012 nos Estados Unidos, que fez o país perder cerca de 100 milhões de toneladas de produção e abriu espaço para exportações brasileiras, os norte-americanos devem recuperar mercado na temporada 2014/15, após segundo ano consecutivo de safra recorde no país, de mais de 350 milhões de toneladas.

Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic) mostram que os embarques no primeiro semestre estão diminuindo. As vendas brasileiras ao exterior recuaram 35,5%, para 7,875 milhões de toneladas no acumulado de janeiro a maio. Fontes do mercado estimam que no mês de junho a redução pode ultrapassar 60%. Apesar do recuo, tradicionalmente as exportações brasileiras de milho se concentram no segundo semestre do ano.



Veículo: A Tarde - BA


Veja também

Crescimento de supermercados em bairros muda ofertas de emprego

Das mil vagas abertas em Salvador, 700 são para lojas de bairros populares.Empresas preferem candidatos que morem...

Veja mais
LG supera meta e venda sobe 45% no 1ºtrimestre

A multinacional sul-coreana LG superou sua meta de vendas para o Brasil no primeiro trimestre de 2014, registrando cresc...

Veja mais
Cravando os dentes no mercado de leite no Brasil

Se não for por seu desempenho em campo, a seleção do Uruguai entrará para a crônica de...

Veja mais
Nutra Vita amplia processo de produção

De olho no crescimento do mercado de alimentos saudáveis, a Nutra Vita está apostando na ampliaç&at...

Veja mais
Vendas de distribuidores farmacêuticos crescem 16,77%

As vendas dos distribuidores de produtos farmacêuticos cresceram 16,77% de janeiro a maio deste ano na compara&cce...

Veja mais
Minério, milho e café colaboram para deflação do IPA

Na passagem de maio para junho, o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), apurado pela Fundaç&ati...

Veja mais
Preço de remédios pode cair 11%

Brasília. O governo publicou na última sexta-feira a atualização da lista de substânci...

Veja mais
Índice de confiança do varejo registra forte mudança

Rio de Janeiro - O Índice de Confiança do Comércio fechou o segundo trimestre de 2014 em queda de 6...

Veja mais
Galerias e hipermercados acirram a competição

A redução dos gastos iniciais incentiva quem deseja começar um pequeno negócio dentro de um ...

Veja mais