Ficar menor pode ser saída para a Nestlé

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A Nestlé, maior companhia de alimentos do mundo, precisa retomar suas vendas, que desapontam os investidores há quatro trimestres consecutivos. Uma solução seria ficar menor.

A multinacional informou no dia 8 que está "avaliando ativamente" suas 8 mil marcas para identificar aquelas que não estão se saindo bem, após registrar o mais fraco crescimento trimestral de vendas em quatro anos. A Nestlé afirmou que terá problemas este ano para cumprir sua previsão de expansão anual das vendas de 5% a 6%, por causa da desaceleração nos mercados emergentes, da crise na Europa e dos desempenhos fracos de produtos dietéticos, águas e alimentos congelados.

O cenário aumenta a urgência com que o CEO Paul Bulcke precisa resolver o problema das áreas com desempenhos insatisfatórios, especialmente na medida em que seus concorrentes ficam mais enxutos. A Unilever, por exemplo, levantou mais de US$ 1 bilhão com a venda de ativos este ano, para se concentrar nos segmentos de xampus e desodorantes, que estão crescendo mais, e seu CEO mundial, Paul Polman, já disse que mais vendas virão. A Kraft se dividiu em duas, a Sara Lee fez o mesmo e a Campbell Soup negocia boa parte de sua unidade europeia.

"Estamos falando de uma cirurgia e não de uma amputação", disse Thomas Russo, sócio da Gardner Russo & Gardner , que investe na Nestlé desde 1987. "Eles alocaram capital para negócios com perspectivas de retornos elevados e você pode pensar que aqueles que ficaram sem capital acabarão sendo colocados à venda. Eu apoiaria isso."

O crescimento mais lento da Nestlé vem representando um dilema incomum para os investidores, que durante grande parte da década passada compraram ações da empresa com ágio em relação aos papéis de outras fabricantes de bebidas e alimentos. Agora, as ações da companhia estão sendo negociadas com descontos, segundo dados compilados pela Bloomberg. Ontem elas foram negociadas em Zurique a 61,85 francos suíços, uma queda de 0,4%. No ano, acumulam valorização de 3,78%.

O "ar de invencibilidade e confiabilidade" da Nestlé vem sendo corroído, disse Andrew Wood, analista da Sanford C. Bersntein, em uma nota a clientes no dia 9.

A venda de uma grande operação de alimentos seria uma saída para a companhia. Somente neste ano a rival Unilever vendeu a marca de manteiga de amendoim Skippy por US$ 700 milhões e a marca de molhos para saladas Wish-Bone por US$ 580 milhões.

A Unilever vem se desfazendo de negócios cujas vendas estão concentradas na Europa e nos Estados Unidos. A Nestlé possui ativos parecidos, como os centros de dietas Jenny Craig, a marca de refeições congeladas Lean Cuisine, os petiscos PowerBar e algumas águas na América do Norte.

Este ano, a Nestlé reforçou uma ferramenta que chama de "metodologia celular", que analisa mil unidades de negócios distintas nos 194 países onde atua, para ajudá-la a decidir quais devem receber mais ou menos investimentos.

Sobre negócios com problemas, Bulcke disse em uma apresentação a investidores em março: "ou você o coloca em termos aceitáveis e há um cronograma para isso, ou você o vende". O diretor de relações com os investidores da Nestlé, Roddy Child-Villiers não revelou quantas das mil unidades apresentam desempenho insatisfatório.

A Jenney Craig é "um problema que precisamos resolver", disse Wan Ling Martello, diretora financeira da Nestlé, a analistas em 8 de agosto. A Nestlé pagou cerca de US$ 600 milhões pela empresa americana em 2006 e quatro anos depois tentou levá-la à Europa. Não funcionou. A empresa deixou o Reino Unido e está fechando cerca de 100 centros nos EUA.

A unidade de alimentos congelados da Nestlé também está sob pressão nos Estados Unidos, segundo disseram executivos em uma apresentação em fevereiro, por causa de uma percepção crescente entre os americanos de que os alimentos congelados são menos saudáveis que os frescos. As vendas de congelados como os da marca Lean Cuisine "continuam lutando por crescimento" em 2013, segundo informou a companhia este mês.

Em bebidas, a operação de água engarrafada da Nestlé obtém cerca de 80% de suas vendas anuais de 7,2 bilhões de francos suíços (US$ 7,7 bilhões) na América do Norte e Europa, e sua margem operacional é a metade de outras unidades da Nestlé. As 65 marcas de água da multinacional suíça incluem Perrier e San Pellegrino e seu rótulo Pure Life é o maior do mundo.

"É possível que eles queiram concentrar todas as suas atenções na Pure Life" e se desfazer de marcas regionais dos Estados Unidos como Arrowhead e Deer Park, afirma James Targett, analista do Berengerg Bank. Potenciais compradores poderiam incluir companhias como a Coca-Cola, segundo Russo, o investidor da Nestlé.

A participação da Nestlé no mercado norte-americano de água engarrafada, avaliado em US$ 22 bilhões, caiu de 24% em 2010 para 22% em 2012, segundo dados da Euromonitor.

A companhia poderia manter seu curso com o portfólio que tem. Fazer isso mostraria a mesma determinação que ela exibiu ao desenvolver a máquina de café Nespresso, que demorou 15 anos para começar a ser vendida, mas que se tornou a marca de crescimento mais acelerado da companhia.

"Eles já abriram mão de negócios antes e tenho certeza que vão fazer isso novamente", disse Russo, cujas ações da Nestlé representam 10% dos US$ 6 bilhões em ativos que ele gerencia. "A dúvida de US$ 64 mil do momento é se a Nestlé conseguirá manter sua agenda ou se vai concordar com Wall Street."



Veículo: Valor Econõmico


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