Indústria investe em logística para se manter competitiva

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Setor produtivo Diversas empresas estão investindo mais tempo e dinheiro em suas operações de armazenagem e transporte de peças para aumentar a produtividade e reduzir erros

 

 



Diversas indústrias brasileiras estão investindo mais tempo e dinheiro em suas operações logísticas. O objetivo é aumentar a produtividade, reduzir erros e se manter competitivas, já que a infraestrutura do Brasil é considerada altamente deficitária.

"No Brasil, operar a logística é mais caro que em outros países. Transporte, estrutura portuária, condições de ferrovia ruins, desembaraço dos produtos. O custo realmente é visível", afirmou ao DCI o gerente de logística da divisão automotive aftermarket da Bosch, Patrick Dietz.

Por dez anos, a multinacional alemã, uma das líderes globais na fabricação de autopeças, terceirizou a sua operação logística no Brasil. Há pouco tempo, a companhia passou para o chamado sistema híbrido, no qual toda a gestão da distribuição de peças do aftermarket (pós-vendas) é feita pela Bosch e, o transporte, por terceiros.

Com investimento de R$ 20 milhões, o projeto Fênix reduziu o número de funcionários da divisão de 360 pessoas, em três turnos, para 230 pessoas em dois turnos. O empreendimento fica em Louveira (SP), cidade onde está localizado o centro de distribuição da Bosch.

"Ganhamos 30% de produtividade, ou seja, temos mais pedidos atendidos em menos tempo", pondera Dietz.

O executivo afirma que em um País como o Brasil, o custo de um erro pode sair muito caro. "O processo reverso custa para nós, em média, três vezes mais. Dependendo da região, pode custar até oito vezes mais", diz.

Altos custos

O custo de armazenagem da Bosch aftermarket gira em torno de 3,5% do faturamento anual. "Nosso foco com o projeto Fênix não foi redução de custos, mas sim aumento de produtividade. As reclamações caíram 85% no último ano e isso acaba se transformando também em redução de despesas", destaca Dietz.

A sueca Scania também é um exemplo de fabricante que está investindo constantemente em suas operações logísticas. Cerca de 8% do faturamento da montadora são usados na gestão da área e no transporte de peças.

O sistema adotado pela Scania, em que a gestão e o desenho do processo logístico são de responsabilidade da companhia, fez com que o aproveitamento da frota de transporte de peças subisse 15% quando implantado. Os caminhões que rodam diariamente para fazer a logística da montadora passaram a registrar um aproveitamento de até 95%.

"Estamos falando de uma economia substancial, já que fazemos 103 viagens a menos por ano", afirma o chefe da área de logística da Scania, Fábio Castello. O executivo pondera que a competitividade da montadora depende altamente da gestão deste sistema.

"Por mais que a indústria busque melhorias, ainda dependemos da base de infraestrutura e logística do País. A competitividade brasileira está diminuindo", observa Castello.

Ele ressalta que as iniciativas da Scania visam à manutenção da competitividade da marca. "A nossa corrida é contra os custos crescentes de infraestrutura e logística", complementa.

Castello conta que estoques custam altas cifras para as montadoras. A Scania opta, no País, por manter menos de dois dias de partes estocadas para reduzir os custos. "Qualquer problema, como filas em portos ou rodovias, pode causar um grande transtorno para o nosso cliente e um prejuízo para nós", diz.

Ele diz ainda que os custos com transporte de cargas é bastante superior no Brasil. "Na Europa, as distâncias são menores, mas a infraestrutura é muito melhor do que aqui. Esse déficit impacta a nós e aos clientes", destaca Castello.

O gerente da Bosch também acredita que operar a logística no País é mais custoso do que em outros mercados. "Encaramos essa área como se fosse uma fábrica: recebemos as peças, reembalamos e despachamos para os clientes e toda essa operação é impactada pelas deficiências do sistema de infraestrutura brasileiro", diz Dietz.

Perspectivas


De acordo com o coordenador técnico do LL.M. em direito da infraestrutura do IBMEC e sócio do LL Advogados, Leonardo Coelho, a indústria vem se reinventando para otimizar os seus custos. "Muitas empresas têm até verticalizado suas operações logísticas para se manterem competitivas", pondera.

Ele explica que, recentemente, houve algum avanço dos investimentos em infraestrutura por conta da Copa do Mundo, mas não da forma como era esperado. "Estamos em um momento em que as coisas têm que acontecer. O cenário é de recessão técnica, os aportes precisam sair do papel e os custos com logística só aumentam", destaca Coelho.

O executivo da Scania concorda. "O nível de investimentos em estrutura de transporte vem caindo nos últimos 20 anos. Isso faz com que nossa indústria tenha um grande gap global", comenta Castello.

Ele acrescenta que a indústria está fazendo a sua parte, mas que os investimentos em infraestrutura e logística precisam crescer.

"Alguns projetos do governo precisam acelerar de maneira significativa de forma a nos devolver a competitividade em relação aos outros países",afirma.

Para o especialista em infraestrutura do LL Advogados, no início do ano que vem as movimentações na área de infraestrutura ainda serão lentas.

"Com a renovação de parte do Congresso e os escândalos de corrupção, as discussões acerca dos aportes no setor serão colocadas em segundo plano", avalia Coelho. "Teremos um começo de 2015 um tanto letárgico", complementa.

Ele acredita, contudo, que algumas concessões devem sair do papel em 2015, como por exemplo nas áreas de rodovias e ferrovias. "Alguns trechos com demanda comprovada já estão avançando", arrisca. "Devemos ter alguns certames, porém, ainda longe do que o País precisa para se tornar mais competitivo", pontua Coelho.




Veículo: DCI


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