Nível de estoque no varejo volta a crescer

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A frustração das vendas no comércio em maio e junho, afetadas pela Copa, elevou para o maior nível em três anos o número de varejistas com estoques acima do desejado na Região Metropolitana de São Paulo. Neste mês, 31,8% dos empresários declararam ter um volume de estoques acima do adequado ao ritmo de vendas, aponta a pesquisa da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio-SP).

O resultado é quase 40% maior do que o registrado em julho de 2013 e está 8,7% acima do mês passado, segundo a enquete que consultou 600 varejistas. "É um indicador preocupante para a indústria porque posterga as novas encomendas e a recuperação do ritmo de atividade", afirma o assessor econômico da Fecomércio-SP, Altamiro Carvalho. Pelos indicadores de julho, ele avalia que a tendência é de a alta dos estoques no varejo continuar.

Na primeira quinzena deste mês, levantamento da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) mostrou que o número de consultas para vendas a prazo e à vista caiu 6% em relação ao mesmo período de 2013, confirmando a retração no varejo.

Na análise do economista, vários fatores negativos combinados levaram à queda nas vendas e ao aumento dos estoques. Um fator foi a elevação da taxa de juros, que encareceu o crédito, por causa da política monetária mais apertada para combater a inflação, explica Carvalho.

Com isso, a velocidade de tomada de novos empréstimos para consumo diminuiu. Também o avanço da inflação, combinado com a estabilização no nível de ocupação dos trabalhadores, deixou o consumidor mais cauteloso. Ele reduziu as compras de bens duráveis, que são itens de maior valor, e concentrou os gastos nos itens essenciais, como alimentos, moradia e transportes, exemplifica.

A pesquisa da Fecomércio-SP não detalha estoques no varejo por setor. Mas, por esse raciocínio, Carvalho acredita que os estoques estejam elevados nos segmentos de eletroeletrônicos, veículos, materiais de construção e vestuário.

Liquidações

Nos shoppings e nas lojas de rua, o que não faltam são cartazes anunciando liquidações. Os descontos na butique de roupas e artigos para decoração Lia Bueno, localizada na Avenida Sumaré, vão até 70%. "Era para ser uma época de liquidação normal, e não de queima", diz Ercilia Bueno, proprietária da loja. "Mas o estoque está cheio."

Para a empresária, o varejo está em liquidação desde março. Ela avalia que a baixa saída das promoções de verão, no fim do primeiro trimestre, serviu como termômetro para um inverno fraco. "Algumas lojas começaram a liquidar em pleno mês de maio já. Isso pressionou o comércio como um todo." A queda nas vendas da Lia Bueno em junho foi de 25% em relação ao mesmo mês do ano passado.

Na Rua Teodoro Sampaio, na zona oeste da capital paulista, também não é difícil encontrar faixas de produtos em "off" ou "sale". A loja de calçados Pink, que geralmente entra em liquidação no fim de julho, deu início às promoções já no fim de junho. "O mês dos namorados é geralmente bom, mas desta vez as vendas foram fracas", diz Orlando Fernandes, responsável pela loja. "No Dia dos Namorados, que coincidiu com o início da Copa (12 de junho), ninguém vendeu nada na Teodoro", contou outra funcionária.

O "efeito Copa" também afetou lojas de decoração. A Freelar, que tem uma loja-conceito na região, estampou em sua vitrine verde e amarela "uma goleada de ofertas" em letras garrafais. A promoção começou durante o Mundial. O conjunto de dois sofás foi de R$ 3.336 para R$ 1.992. Em dia de jogo do Brasil, a loja fechava duas horas antes e não abria mais.

E não só a Copa afastou os consumidores. Os valores altos assustam. "Não importa mais se é Centro ou se é Paulista (Avenida). Os preços são absurdos", diz Bernardina Santiago, que trabalha com contabilidade e caminhava pela Teodoro Sampaio. Ela vive contendo os custos para administrar seu salário de cerca de R$ 2 mil.



Veículo: Diário de Pernambuco


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