Capacidade de estocagem é muito baixa

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De acordo com o levantamento do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), enquanto a capacidade estática de estocagem nas fazendas brasileiras hoje é de 15%, na Argentina esse índice está entre 35% e 45%; na Austrália, em 35%, nos Estados Unidos entre 55% e 60% e no Oeste do Canadá em 85%. Segundo cálculos do governo, será necessário um investimento da ordem de R$ 16 bilhões apenas para reduzir o déficit de armazéns.

Para o presidente do Conselho Empresarial da América Latina (Ceal), Ingo Ploger, para que os produtos do agronegócio recuperem a competitividade é preciso investir na modernização das rodovias, do sistema de transporte, das ferrovias e também na cultura de estocagem nas fazendas, que hoje não é muito adotada.

"O caos logístico registrado no país, em relação ao transporte da safra, está mais concentrado no primeiro quadrimestre do ano. Além da necessidade de investir na infraestrutura das rodovias, portos e ferrovias, também é importante criar condições de ampliar os estoques nas fazendas. Com isso, o país teria melhores formas de balizar os preços no mercado, já que tem condições de regular os estoques, e também de melhorar o escoamento dos produtos, uma vez que o embarque da safra não ficaria concentrado somente entre janeiro e abril", disse Ploger.

Outro fator considerado fundamental para resolver o gargalo logístico no país seria o aumento dos investimentos. De acordo com o sócio-diretor da Schwartsman & Associados Consultoria Econômica, Alexandre Schartsman, o valor destinado atualmente, cerca de 2% do Produto Interno Bruto (PIB), é insuficiente.

"Os problemas com a infraestrutura estão travando o desenvolvimento e a competitividade da agricultura. Se pensarmos nas condições atuais, o valor destinado aos investimentos em logística está aquém das necessidades. O volume de 2% do PIB é pequeno e, nos anos 70, o volume representava cerca de 5,5% do PIB. Precisamos ampliar este índice para 4% do PIB, o que só será possível com o ajuste fiscal dos gastos do governo. Caso contrário a questão dependerá do financiamento internacional, o que irá ampliar ainda mais a dívida brasileira", disse Schartsman.

 Rodovia é o principal modal para escoar produção

De acordo com dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), áreas frágeis nos vários modais de transportes comprometem o desempenho e limitam o potencial de expansão do agronegócio.

Em um país de grande dimensão territorial como o Brasil, o caminho da produção a partir da fazenda até o porto é muito longo e, por isso, exige um bom sistema de transporte e de silos para estocagem dos produtos.

O levantamento da OCDE mostra que cerca de 60% de toda produção brasileira são transportadas pela malha rodoviária, as ferrovias são responsáveis por apenas 21% e o modo aquaviário por 14%. Os sistemas dutoviário e aéreo não alcançam 5% da produção.

Em relação aos custos, o gasto com o transporte rodoviário representa mais do que o dobro do hidroviário, sendo também 66% superior quando comparado com o ferroviário. Enquanto um trem, composto por 77 vagões, ou um comboio (com 6 barcaças) transportam, cada um, o equivalente a 5,4 mil toneladas, são necessárias 216 carretas para transportar a mesma quantidade.

O custo se multiplica ainda mais, ao se calcular o consumo de combustível nessas diferentes modalidades, com grande desvantagem para o transporte por rodovias. Quando se movimenta uma tonelada de alimento num trecho de mil quilômetros, a quantidade gasta de combustível é de 56 litros nas rodovias, 10 litros nas ferrovias e somente 5 litros nas hidrovias.

Para o diretor-presidente da Empresa de Planejamento e Logística (EPL), Bernardo Figueiredo, o governo está investindo na formulação de projetos consistentes e na execução das obras. Porém os problemas ainda são grandes e requerem dedicação a longo prazo.

"Os problemas enfrentados hoje são os mesmos relatados nos anos 70, e o que vemos é que de lá até hoje nada de concreto foi realmente feito. Nosso objetivo é reverter a situação ao longo dos próximos anos, criando um sistema mais eficiente para substituir o rodoviário, que seria o ferroviário, interligando as principais regiões produtoras do país.  preciso ter um pacote de investimentos anuais e os planos atuais projetam que em 2017 os investimentos em infraestruturas poderão ficar em R$ 100 bilhões",disse Figueiredo.

Ainda segundo Figueiredo, os desafios são grandes. "Hoje temos uma malha rodoviária insuficiente, com caminhões com idade média de 18 anos. Além disso, operamos no limite da capacidade e com baixa produtividade nos portos. No caso das ferrovias, as mesmas são dedicadas ao transporte de minério de ferro, quando não, os preços são monopolizados e variam conforme a demanda e oferta. Faltam investimentos em modernização, renovação e ampliação da abrangência", disse Figueiredo.

Para o economista e diretor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas, Yoshiaki Nakano, a seriedade e a fiscalização na execução dos projetos do governo voltados para a infraestrutura são outros desafios a serem superados.

"Se nos basearmos na tradição histórica do Brasil em relação à execução de projetos rodoviários e ferroviários vamos ficar desanimados, uma vez que o abandono dos projetos é constante em todo o país, o que causa grandes prejuízos financeiros e no desenvolvimento econômico.  necessário que as obras sejam iniciadas e concluídas em tempo hábil", disse Nakano.



Veículo: Diário do Comércio - MG


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