Redes buscam logística eficiente

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A acelerada expansão das redes de franquias nem sempre tem sido acompanhada por estruturas logísticas azeitadas. No caso das franquias de alimentos, especialmente aquelas ligadas a produtos artesanais como doces, salgados e lanches, as redes ainda estão tateando em busca de um sistema mais eficiente de distribuição. A opção por um operador logístico, que poderia trazer eficiência ao sistema, muitas vezes é descartada pelo temor do franqueador de introduzir mais um elo no cadeia e, por tabela, encarecer os custos para o franqueados, que já trabalham no limite da margem.

"Isso ocorre no Brasil porque 62% das franquias ainda adotam um modelo embrionário baseado em marca/produto, cujo objetivo é vender produtos aos franqueados", analisa Marcus Rizzo, consultor da Rizzo Franchise. Esse modelo se oporia ao sistema mais avançado, na sua avaliação, que é o de franquia de negócio formatado, em que o franqueador licencia fornecedores especializados e negocia a compra em escala para a rede.

"É o modelo adotado pelo McDonald's, que dá muita atenção ao Custo de Mercadoria Vendida, enquanto, no primeiro modelo, o franqueador é o único fornecedor e ganha quanto maior for o estoque do franqueado", afirma Marcus Rizzo.

Ainda que sem a consciência dessa distinção conceitual, a Sodiê Doces, especializada em bolos e doces artesanais, adota um modelo mais próximo ao do McDonald. A empresa não vende produtos para os franqueados, mas apenas os capacita com as técnicas e as receitas que fizeram o sucesso da marca, criada há 16 anos por Cleusa Maria da Silva, uma ex-doméstica fundadora da rede, que espera fechar este ano com 140 franquias.

Cada loja produz os seus produtos e o franqueado compra as matérias primas dos fornecedores que a rede credencia e também negocia preços por volume para obter escala, sendo o principal deles a Nestlé. Isso já ocorre com 60% dos insumos, mas com relação a produtos como leite, farinha e açúcar, Cleusa diz que ainda não conseguiu fechar uma negociação porque são commodities. "Os fornecedores não têm interesse, pois os preços variam e eles não conseguem me oferecer negociação nem por cinco dias. E também não conseguimos formar estoques, pois com a explosão do mercado imobiliário a locação é o item que mais pesa nos custos e não há espaço", lamenta Cleusa.

Essa estratégia vem sendo adotada pela Mr. Mix, rede de franquias de milk shakes, com 112 lojas em 17 Estados e outras 60 em processo de abertura. Clederson Cabral, fundador da rede, conta que ele acessa sites de cotação de açúcar e de leite, que representam 70% dos custos, e acompanha boletins com a previsão do tempo e análises do mercado de commodities para saber com antecedência se os preços estão para subir ou cair.

"Isso vai contra os manuais de administração que orientam manter estoques baixos, mas, no nosso caso, permite uma economia de até 10% em relação à média de preços praticados no mercado", afirma Cabral.

Da fábrica na cidade de Sumaré, no interior de São Paulo, com capacidade de 400 toneladas, sai a base do milk shake, que é distribuída para as cerca de 50 lojas em um raio de 600 Km. O produto vai em frota própria de três caminhões refrigerados e tem validade de 21 dias. As demais lojas recebem um produto seco, para ser hidratado no local, com validade de 4 meses. "Essa distribuição é feita por frota terceirizada. Agora estamos avaliando uma unidade no Nordeste que poderá ser um centro de distribuição ou uma fábrica", diz Cabral.

A empresa Salgados do Brasil - rede de três franquias em São Luís (MA), Fortaleza (CE) e Brasília (DF), procura dar liberdade ao franqueado, que pode identificar fornecedores locais se obtiverem melhores condições do que as oferecidas pelos fornecedores credenciados. O principal produto, porém, sai congelado da fábrica em Cotia (SP), onde são produzidos 120 mil salgados por dia. São transportados em caminhões refrigerados de transportadoras. "O operador logístico é uma tranquilidade para o franqueador, mas essa não é nossa filosofia, pois poderia encarecer a operação", afirma Daniel Sarmento, sócio da empresa.

Na rede de docerias Amor aos Pedaços, a frota é de responsabilidade do franqueado, que tem seu próprio veículo acondicionado para receber mercadoria em três temperaturas na fábrica de Cotia, que tem capacidade de 2,5 mil toneladas. Esse modelo é adotado para as 40 lojas de São Paulo, que fazem o acabamento das coberturas e o recheios no local. Segundo Silvana Abramovay Marmonti, diretora operacional da rede, as 20 lojas fora do Estado de São Paulo são abastecidas por transportadoras locais.

"A logística no Brasil é difícil, existem poucas operadoras, e temos um trabalho árduo de homologação de fornecedores. Temos que treinar as equipes das transportadoras, pois são mais de 150 produtos perecíveis e elas têm de entender e saber tratar cada um", diz Silvana.

Para não ter esses tipos de problemas, o Griletto, rede de 130 restaurantes de grelhados, optou pelo operador logístico Martin-Brower, especializado em food service, que também atende ao McDonald's. Segundo Ricardo José Alves, fundador da rede, o operador compra dos fornecedores que a Griletto credencia e vende 80% dos itens para os franqueados. O franqueado só compra localmente a bebida, por meio de um contrato global com a Coca-Cola. Se o franqueado encontrar melhores condições, pode indicar o fornecedor. "Esse modelo pode encarecer um pouco porque no Brasil não temos um regime tributário para operador logístico, mas nos dá mais segurança. A ideia é que o franqueado se dedique ao que é mais importante para o seu negócio, que é gerir a sua equipe e cuidar do cliente", afirma José Alves.



Veículo: Valor Econômico


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