Varejo adianta ofertas para driblar queda nas vendas

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Após duas semanas de manifestações populares que prejudicaram o movimento nas lojas, liquidações prometem aquecer a demanda

Junho não foi um mês muito fácil para os lojistas do Centro de Porto Alegre. Obrigados a baixar as cortinas de ferro mais cedo nos dias em que ocorreram os protestos na cidade, a maioria deixou de vender o almejado para o período. Outros tiveram prejuízo com vitrines quebradas ou lojas saqueadas. Fato é que, para correr atrás do prejuízo, cerca de 60% do comércio de roupas e sapatos já está em liquidação. De acordo com o presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas de Porto Alegre (CDL POA), Gustavo Schifino, a antecipação não chega a ser “aguda”, mas “em parte” inclui a estratégia de equacionar o fluxo de caixa dos varejistas.

“Houve impacto negativo nas vendas de junho, apesar de ter sido um período muito frio, com boa saída de produtos que em geral pressionam mais a decisão de uma liquidação, como peças de lã e casacos pesados”, comenta o dirigente. “Já os lojistas de roupas e sapatos só perderam”, admite. Mesmo não tendo data específica para reduzir preços, o comércio, em geral, inicia as liquidações em meados de julho. Mas há quem já esteja baixando preços desde a semana passada. É o caso da Zukky Fashion, localizada na Otávio Rocha, que está remarcando as etiquetas de diversos produtos. “Fomos bastante prejudicados pelas manifestações”, declara a gerente da loja, Nedia Silveira Trindade, emendando que as vendas “enfraqueceram nos últimos dias”.

A gerente da Zukky acredita que, além dos protestos, também o endividamento dos consumidores contribuiu para que este inverno começasse mal para o setor. “O poder aquisitivo das pessoas está um pouco baixo, então o pessoal está se contendo nas compras”, avalia. De acordo com Nedia, a liquidação na Zukky, que tem roupas para todos os públicos a partir de 18 anos, iniciou-se com descontos até 15%. “Temos mercadorias a partir de R$ 9,99, e casacos que custariam R$ 149,00 que estão sendo ofertados por R$ 99,00”, resume a comerciária.

Na rede de lojas Aldo, voltada para os públicos de classe C e D, o abatimento é pequeno. “Entramos com uma promoção no início do mês onde o cliente tem desconto de 15% em uma peça, 20% em duas, e 30% se levar três ou mais”, diz o gerente da unidade localizada na rua José Montaury, Edemar Peres Gunsh. Ele garante que a ação já deu bons resultados. “Nosso crescimento em relação aos primeiros dias de julho do ano passado foi de 4% desde segunda-feira”, compara. “Estamos apostando alavancar as vendas com esta promoção, porque na quinzena anterior, houve uma queda significativa.”

Ontem pela manhã, a motorista Jaqueline da Rocha Gomes, 33 anos, entrou em uma unidade da rede Aldo para dar continuidade à sua pesquisa de preços em busca de roupas de inverno para as filhas de 12 e 5 anos. “Estou rodando o Centro, e os valores estão muito diferentes em geral, tem coisa muito cara, outras mais em conta”, avalia. Com a chegada do frio, Jaqueline quer comprar um conjunto de calça e moletom para cada uma das meninas, mas diz que está tendo “algum trabalho”, pois não pretende gastar mais que R$ 170,00 com estas mercadorias. “Está tudo muito caro. E quando encontro o preço ideal, não encontro o tamanho da peça”, reclama.

Já a dona de casa Cleonice Macedo Machado, 43 anos, conseguiu encontrar o par de botas que procurava para a filha por um preço que considerou “bem bom”. Depois de circular pelo comércio, ela encontrou o produto por R$ 99,90. “Consegui um design bem diferente. Vou levar”, anunciou na loja, para o contentamento das vendedoras. Na Zapatto, onde Cleonice efetuou a compra do presente para a filha, a meta é crescer 40% em relação ao ano anterior, a partir da liquidação, segundo os cálculos da gerente, Roseli da Rosa. Desde que os preços baixaram, na terça-feira, o otimismo voltou a reinar no ambiente. “Estávamos mal, mas neste dia vendemos 20% mais botas que o normal”, comemora a gerente. A redução dos preços ajudou: produtos que custavam R$ 179,00 agora estão na vitrine por R$ 99,00. “Já os scarpans de R$ 79,00 caíram para R$ 29,99”, destaca Roseli.
Lojistas oferecem descontos de até 70% nos produtos

Na Rua dos Andradas, um homem conclama os consumidores, via microfone, a entrarem nas lojas Marisa, onde todos os produtos estão em oferta por até 70% de desconto. O sucesso da campanha é tamanho que as três unidades da marca localizadas no Centro, distantes no máximo em dois quarteirões, já estavam cheias de consumidoras ávidas por comprar, em plenas 10h de ontem. As gerentes das lojas não passam informações, mas o bom fluxo de pessoas em todos os setores, as filas consideráveis nos caixas e as sacolas nas mãos de quem saía das lojas sinalizavam que as ofertas anunciadas estão rendendo boas vendas para a rede. A funcionária pública Zaíra da Conceição, 57 anos, confirma “que os preços estão bem baratos” na Marisa. Ela acordou cedo no seu dia de folga para aproveitar os primeiros momentos de liquidação da rede e saiu de lá com as compras realizadas. “Entre outras coisas, encontrei um casaco de napa, que está caríssimo em outros lugares, por um valor bem acessível”, revelou.

A auxiliar administrativo Bárbara Barcelos, 36 anos, não está tão otimista. “Não encontrei ofertas muito válidas. Pagar R$ 60,00 na compra de uma blusa em plena liquidação não dá”, dispara. A gerente da Maria da Praia, Daiane Dias, diz que, apesar do frio, a loja aderiu à baixa dos preços, em vista de um “movimento coletivo”. “A grande maioria do varejo na Andradas está com ofertas, e já tivemos bom resultado nas vendas. Temos casacos de R$ 219,00 que estão sendo ofertados por R$ 99,00. Isso está ajudando a clientela a aproveitar para levar outras peças.”

“Os consumidores têm que ficar atentos a estas oportunidades, porque produtos mais pesados, como casacões, devem durar pouco nos estoques, já que muitos foram comercializados em junho”, adverte o presidente da CDL POA, Gustavo Schifino. De acordo com o dirigente, a meta do comércio na Capital é de crescer 8% em relação a julho do ano passado.



Veículo: Jornal do Comércio - RS


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