Manifestação afeta logística e já para fábricas pelo país

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As manifestações que têm bloqueado rodovias do país nesta semana afetaram a operação de companhias de logística, que relatam dificuldades em entregar cargas e cumprir prazos programados. Os setores mais afetados são os que trabalham com pouco estoque. A linha de produção de montadoras já começa a ser interrompida e a distribuição de combustíveis também causa preocupação.

A Fiat parou ontem parcialmente a produção de sua fábrica em Betim (MG) por conta da falta de peças. Segundo a montadora, foi realizada uma parada técnica parcial em razão dos problemas no fornecimento. "A empresa está avaliando o cenário na busca de alternativas para assegurar a normalidade do ritmo da produção", disse a fabricante, em nota. A fábrica da Volkswagen em São Bernardo do Campo (SP) parou por mais de duas horas na segunda-feira. O motivo foi o atraso de funcionários em decorrência dos protestos.

Entidades chamam atenção também para o fornecimento de combustível. O Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e de Lubrificantes (Sindicom) informou que a situação preocupa mais no Espírito Santo. "Estamos em contato com autoridades para restabelecer a circulação dos caminhões permitindo o abastecimento do mercado", disse o sindicato em nota. Ainda segundo a entidade, "os transtornos têm sido contornados, na maioria dos municípios afetados, sem prejuízo ao abastecimento".

Já a Petrobras Distribuidora negou problemas e disse ter reforçado operações nos últimos dias, antecipando a programação de entrega de combustíveis à rede de postos com sua bandeira e aos demais clientes. "A despeito de interrupções no tráfego de caminhões em rodovias de vários Estados, até o momento não há registro de falta de combustíveis", informou.

A petroquímica Braskem também tem sentido efeitos. No fim de semana, a área de logística trabalhou para antecipar as entregas. A empresa está monitorando os clientes para tentar postergar envio de cargas, quando possível.

Controlada pela EcoRodovias, a empresa de logística integrada Elog relata problemas como atraso dos prazos e perdas de agendamentos. Nas entregas expressas, os Correios estão adotando medidas alternativas para diminuir atrasos, entre elas o uso do avião em alguns Estados. "Tão logo as estradas sejam liberadas, a empresa ampliará a quantidade de veículos e reforçará equipes para agilizar a distribuição da carga afetada pelo movimento dos caminhoneiros".

Uma das principais empresas de logística do mundo, a alemã DHL - que presta serviços ao governo americano no país, como entrega de passaportes brasileiros - também registra problemas para a entrega de encomendas no Brasil. Amaury Vitor, gerente de operações, diz que a opção principal também tem sido enviar cargas por avião. Os custos extras são absorvidos pela DHL. As regiões Sul e Sudeste são as mais "problemáticas", diz.

A operadora logística Cargolift, que atende a indústria automotiva, informou que está registrando R$ 100 mil de prejuízo por dia. "O problema é grave. Não tinha uma situação dessas desde 1998", diz o presidente da empresa, Markenson Marques, em referência às antigas manifestações que provocaram a posterior criação do vale-pedágio. Dos cerca de 500 caminhões, contando frota própria e terceirizada, 150 estavam parados em bloqueios na tarde de ontem.

Durante a manhã de ontem, uma manifestação impediu o acesso a Santos (SP). Diversos veículos carregados de açúcar não conseguiam chegar ao porto, principal via de escoamento da commodity. "Na manhã de hoje [ontem], nenhum caminhou chegou aos terminais", afirmou uma fonte. O Brasil, maior produtor e exportador de açúcar, está em plena safra de cana. A recepção de cargas foi liberada no fim da manhã.

No campo, a catarinense Coopercentral Aurora Alimentos deixou de abater, ontem, 150 mil cabeças de aves e 1,8 mil suínos, além de ter deixado de processar 1,5 milhão de litros de leite. Cerca de 2,3 mil funcionários ficaram ociosos, segundo o vice-presidente da Aurora, Neivor Canton. Apesar do relato, fontes do agronegócio descartam outros problemas devido à greve, como importação de fertilizantes ou de exportação de soja.

Ronaldo Silva, diretor de operações da Golden Cargo - companhia de logística voltada a insumos agrícolas - diz que passou a tarde de ontem estudando rotas alternativas. A empresa está evitando trafegar em algumas regiões do país.

Até o canal de televisão por assinatura SporTV foi afetado e cancelou a transmissão do jogo amistoso de futebol entre Cuiabá e Atlético-PR, marcada para as 21h30 de ontem. A unidade móvel de transmissão não conseguiu acesso à capital do Mato Grosso diante de um bloqueio.

Apesar das dificuldades, diversas outras companhias negaram ter enfrentado problemas durante a semana e amenizaram o tom de tensão. A América Latina Logística (ALL), de concessões de ferrovia, diz que não identificou nada que prejudicasse as operações contratadas por seus clientes. A JSL, maior operadora logística rodoviária do país, também disse que os problemas foram apenas pontuais.

No varejo, não há desabastecimento - apesar de haver maiores custos. A fabricante Dori Alimentos aponta um aumento de 10% nas despesas com logística. A fabricante de cigarros Souza Cruz fez uma operação especial. "A companhia ativou seu plano de contingência para garantir o abastecimento do varejo em todo território nacional", informou a empresa em nota.

Para a fabricante de cerveja Heineken, "até o momento os impactos foram pequenos, localizados em pontos específicos, mas nada que venha comprometer a operação". Tupa Gomes, presidente da Martin Brower - empresa de logística que atende restaurantes de fast-food -, diz que não nota grandes problemas. "O grande estresse foi na segunda-feira, já foi resolvido", disse ele, que considera mais críticos os segmentos de medicamentos e combustíveis.



Veículo: Valor Econômico


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