Pressão externa leva pecuarista a investir no corte de emissões

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O aumento da pressão do mercado externo para a produção de carne bovina de forma sustentável tem levado pecuaristas brasileiros a buscar apoio para neutralizar as emissões de gases de efeito estufa e certificar o produto local. Com isso, o setor espera manter sua competitividade.

 

“Cada vez mais os mercados vão elevar as exigências em relação à pecuária brasileira e os produtores estão atentos à necessidade de mostrar que podem produzir de forma sustentável”, afirma o consultor do Grupo Roncador para sustentabilidade e responsabilidade social corporativa, José Carlos Pedreira de Freitas. “Com o aumento dessas exigências, esse tipo de produção deixará de ser focado apenas em um nicho de clientes preocupados com sustentabilidade”, garante Freitas.

 

O alto nível de emissões de gases de efeito estufa é um fardo carregado por pecuaristas, o que deixa o setor com uma imagem negativa no mercado. Porém, mudar essa realidade exige investimento. “O custo para recuperar pastagens ainda é muito alto e é difícil ter acesso a recursos”, avalia o presidente do Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável (GTPS), Ruy Fachini Filho. Ele se refere ao Plano Agricultura de Baixo Carbono (ABC), que também financia a recuperação de áreas de pastagens degradadas. Desde a safra 2010/2011, o plano liberou R$ 14,5 bilhões de um total estimado em R$ 197 bilhões até 2020.

 

Um exemplo dessa necessidade é o projeto Carbono Araguaia, desenvolvido pela Liga do Araguaia – movimento voltado ao desenvolvimento sustentável na região do Vale do Araguaia, em Mato Grosso – em parceria com a Dow Agrosciences. Participam 24 produtores que somam 89 mil hectares de pastagem e 100 mil cabeças de gado. Juntos, estes pecuaristas devem reduzir em 580 mil toneladas as emissões de gases de efeito estufa até 2020.

 

A primeira medição do balanço entre emissões de gases de efeito estufa e sequestro de carbono ocorreu na safra 2014/ 2015. Até 2020, uma vez por ano, um novo balanço será feito para identificar os avanços para a mitigação das emissões. “Com a recuperação das pastagens, é possível ampliar o sequestro de carbono e reduzir o balanço líquido das emissões. Mesmo que o pecuarista aumente a lotação com a maior disponibilidade de pastagens, ele terá mais velocidade de sequestro do carbono”, destaca Freitas. A lotação média das áreas de pecuária brasileira é de aproximadamente 1 unidade animal (UA) por hectare. Em áreas de pastagem recuperadas ou com produção de pastagem intensificada, o limite ideal para que se produza com a emissão de carbono neutralizada é de 3 UA a 3,5 UA por hectare. “Temos uma enorme possibilidade de ampliar a produção e ainda assim trabalhar forma sustentável”, avalia Freitas. A medição usa uma versão do sistema Green House Gas, desenvolvido pelo Instituto de Recursos Mundiais (WRI, em Inglês), adaptada pela Embrapa à realidade da produção tropical.

 

“As informações que vêm de fora sobre as emissões de gases do efeito estufa pela pecuária são muito tendenciosas, pois utilizam como referência o modelo de pecuária intensiva dos Estados Unidos, que é diferente do nosso”, argumenta o diretor do Grupo Roncador, Caio Penido Dalla Vecchia. Nos Estados Unidos, a maioria da produção se dá em confinamentos, enquanto no Brasil a maior parte da pecuária é feita com a alimentação do gado a pasto. “Se o mundo estivesse realmente preocupado em comprar carne sustentável, com alta produtividade e preservação de florestas, compraria a carne brasileira”, destacou o diretor.

 

Comprovação

 

Mas não basta medir a neutralização de acordo com a realidade brasileira sem mostrar isso ao comprador. Até agora, a Embrapa, por meio do selo Carne Carbono Neutro, certifica a produção pecuária que neutraliza as emissões em áreas de integração Lavoura - Pecuária-Floresta (iLPF), na qual as emissões de carbono pelos animais são sequestradas pela floresta.

 

A partir de 2018, serão realizadas pesquisas para medir e certificar essa neutralização em outros dois sistemas: Integração Lavoura-Pecuária – com o sequestro de carbono no solo – e em áreas de pastagens recuperadas e sistema de terminação a pasto, em confinamento ou semiconfinamento.

 

Um termo de cooperação assinado entre a Roncador e a Embrapa prevê que, por um período de 22 meses, serão feitos testes para verificar se é possível conceder o selo de Carne Carbono Neutro também para esses sistemas. Duas propriedades do grupo participam do projeto, a Água Viva, em Cocalinho, e a Roncador, em Querência, ambas no Mato Grosso. “Quando demonstramos que isso é possível, estimulamos outros produtores a buscar a certificação”, argumenta Freitas.

 

A sustentabilidade, porém, ainda é foco de poucas propriedades no País, avalia a engenheira agrônoma Leda Tavares, da ONG WWF. “A demanda ainda é baixa, embora seja algo que está se disseminando”, afirma. “É mais fácil e barato começar com a recuperação de pastagens, embora a recuperação de florestas seja um meio mais eficiente, porém, mais caro de neutralizar emissões.”

 

Fonte: DCI São Paulo

 

 

 

 


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