Reacende debate sobre sacolinhas plásticas

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                         Pesquisas apontam redução do uso na cidade de São Paulo, mas descontentamento com a cobrança é grande.

Uma questão que divide opiniões voltou a ser destaque recentemente: o uso das sacolinhas plásticas para transportar as compras de supermercados e de outros comércios. Na cidade de São Paulo, diversos desses estabelecimentos começaram, neste ano, a cobrar por esse artigo.

E se por um lado, conforme apontamento da Associação Paulista de Supermercados (Apas), a medida permitiu uma redução média de 70% na distribuição de sacolas plásticas em diversos supermercados da capital paulista, por outro, pesquisa do Datafolha, encomendada pela Associação Brasileira da Indústria de Embalagens Plásticas Flexíveis (Abief) e Plastivida Instituto Sócio-Ambiental dos Plásticos, indica que 83% dos paulistanos são contrários à cobrança pelos itens.

De acordo com a Lei Municipal nº 15.374/2011 de São Paulo (regulamentada pelo Decreto nº 55.827 deste ano), está proibida a distribuição das tradicionais sacolas brancas, derivadas do petróleo e mais frágeis, e autorizado o repasse de sacolas das cores verde e cinza, mais resistentes e que têm em mais da metade da sua composição matéria-prima renovável, como a cana-de-açúcar. A cor verde também serve para sinalizar, posteriormente, o descarte de rejeitos recicláveis, e a cinza, para itens não aproveitáveis, como os orgânicos.

A Apas informa que cada associado é livre para escolher se irá cobrar ou não pelas novas sacolas, mas a entidade incentiva a ideia de que os consumidores tragam suas ecobags de casa e assim contribuam com a redução do consumo de plástico. Grandes grupos, como Pão de Açúcar, Walmart e Carrefour, estão realizando a cobrança. O superintendente da Apas, Carlos Correa, salienta que dados da prefeitura indicam que, antes da nova lei entrar em vigor, o consumo médio de sacolas plásticas era de 708 unidades anuais por habitante, resultando em 8,5 bilhões de sacolas por ano ou 23 milhões por dia.

O diretor da Abief Alfredo Schmitt considera um retrocesso a medida adotada na capital paulista e atribui a uma falta de conhecimento a iniciativa. O dirigente lembra que, em comparação, Minas Gerais e o Rio Grande do Sul têm leis específicas que privilegiam o uso responsável, o meio ambiente e o consumidor. No Rio Grande do Sul, o diretor da Abief recorda que há uma lei que determina que as sacolas plásticas devam ser utilizadas dentro da norma da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), que exige um produto mais reforçado. Schmitt acrescenta que o fato de o consumidor pagar pela sacola não ocasionou redução nos preços dos produtos vendidos nos supermercados paulistanos. Além disso, o cliente começou a comprar sacos de lixo para descartar os seus resíduos domésticos.

Sobre as bolsas reutilizáveis, Schmitt diz que existem estudos que revelam que é necessário lavá-las de dois em dois dias, para evitar a contaminação por bactérias. “Vamos pegar água limpa e devolver suja, com detergente e bactérias, para o meio ambiente, em meio a uma crise hídrica? Isso é um absurdo”, defende. O diretor da Abief enfatiza ainda que os plásticos são recicláveis.

O coordenador do Comitê Sinplast-RS (Sindicato das Indústrias de Material Plástico no Estado do Rio Grande do Sul) de Reciclagem, Luiz Henrique Hartmann, considera a cobrança “um golpe dado na população pelos supermercadistas de São Paulo”. Segundo ele, essas empresas transferiram uma conta delas para o consumidor. Sobre a possibilidade da iniciativa ser adotada também no Rio Grande do Sul, Hartmann comenta que essa e outras ações similares, de tempos e tempos, são levantadas, mas não acredita que sigam adiante, por falta de argumentos técnicos.

O presidente da Plastivida Instituto Sócio Ambiental dos Plásticos, Miguel Bahiense, enfatiza que a sacola gratuita já faz parte da cultura do brasileiro. Além disso, o dirigente ressalta que os consumidores já pagam, indiretamente, ao adquirirem produtos nos estabelecimentos comerciais, pelo artigo. Bahiense reitera que a sacola plástica é a melhor forma de transportar os produtos de supermercados e o que precisa é combater o desperdício. “É um movimento (a cobrança) de cunho econômico e não ambiental e o consumidor vai arcar com esse custo”, frisa o presidente da Plastivida. Ele informa que alguns estabelecimentos estão cobrando de R$ 0,08 a R$ 0,10 por sacola em São Paulo. Bahiense comenta que, em média, sacolas dentro dos parâmetros adequados podem suportar até seis quilos.

No entanto, o dirigente admite que é preciso conscientizar o consumidor que hoje há sacolas de maior qualidade, o que descarta a necessidade do uso de uma segunda para garantir o transporte seguro das mercadorias.

Não é apenas em São Paulo que as sacolas plásticas estão sendo discutidas. O Projeto de Lei nº 216/2011 propõe a substituição desse artigo por soluções reutilizáveis no Rio Grande do Sul. O deputado estadual Ronaldo Santini (PTB), autor da ideia, detalha que o texto encontra-se atualmente na Comissão de Constituição e Justiça da Assembleia Legislativa.

“O projeto ficou tramitando quatro anos, no mandato passado, e ninguém quis enfrentar essa situação, que é um problema que uma hora vamos ter que lidar”, afirma o parlamentar. O deputado destaca que as sacolas plásticas causam danos ao meio ambiente ao demorar centenas de anos para se decomporem. Santini diz que a meta é conscientizar as pessoas a trocarem as sacolas desse material por artigos de papel ou pano. Já sobre a estratégia de cobrar pela sacolinha, o deputado considera essa uma posição mais impactante, que pode penalizar quem tem maiores dificuldades financeiras. Santini reforça que todo o projeto colocado à discussão tem pessoas favoráveis e contrárias, mas o debate é positivo, até como forma de conscientização. “Acho que uma das mais contrárias é a minha esposa, dentro de casa eu tenho restrições ao projeto”, brinca o deputado.

O presidente da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), Antônio Longo, revela que o custo da sacola representa hoje cerca de 0,5% dos faturamentos dos supermercados. O dirigente concorda que a conscientização para a redução do consumo é algo importante. Longo acrescenta que a Agas incentiva os associados a darem descontos aos clientes que abrem mão de utilizar a sacola.

O presidente da entidade também sugere o uso de sacolas de qualidade como uma forma de reduzir o consumo de plástico. Porém, quanto à possibilidade dos estabelecimentos no Rio Grande do Sul cobrarem pelo produto, Longo acredita que não seja o momento para adotar essa solução. O dirigente informa que, em média, são usadas duas sacolas por cliente nos supermercados gaúchos, o que o presidente da Agas considera um patamar adequado.

 



Veículo: Jornal do Comércio - RS


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