Entrega voluntária em ponto do varejo ganha mais volume

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Convencer o consumidor a levar para um supermercado o lixo reciclável que acumulou em casa parecia uma ideia fadada ao insucesso, até bem pouco tempo atrás. Afinal, com o hábito de separar o lixo em casa ainda pouco difundido entre os brasileiros, quem se daria a esse trabalho? Doze anos mais tarde, a aposta da rede varejista Pão de Açúcar em parceria com a fabricante de produtos de consumo Unilever de oferecer espaços nas lojas para o descarte do material reciclável se revelou certeira. E coleciona números de envergadura: desde 2001, são 71 mil toneladas de materiais recolhidos e destinados a 38 cooperativas de reciclagem. Só na cidade de São Paulo, 20% do lixo reciclável que chega às cooperativas de catadores têm como origem as lojas da rede varejista que oferecem esse serviço.

O projeto começou em 2001, com 12 lojas em São Paulo oferecendo locais para que o consumidor descartasse resíduos como plástico, papel, metal e vidro. Hoje são 126 lojas da bandeira Pão de Açúcar e outras 126 da bandeira Extra, que passaram a oferecer os pontos de entrega voluntária em 2007 - neste caso a indústria parceira é a P&G. Somando as duas bandeiras, o total de materiais recolhidos chega a 82 mil toneladas.

"O volume recolhido nas lojas aumenta em média entre 15% e 20% a cada ano, e mostra a crescente preocupação dos clientes com a reciclagem", afirma Antônio Salvador, vice-presidente de sustentabilidade do Pão de Açúcar. Outro benefício do programa é de caráter social: a venda dos resíduos nas cooperativas gera 1,7 mil postos de trabalho diretos e beneficia 6,9 mil pessoas indiretamente, segundo as empresas.

Os custos do programa, que incluem a contratação de empresas para realizar a logística dos resíduos e o controle mensal dos volumes coletados, são divididos entre o varejista e as duas indústrias parceiras. O valor do investimento não é revelado, mas, segundo as empresas, garante retorno em imagem e reputação. Segundo Salvador, esse perfil de consumidor - bem informado e atento a questões ambientais e sociais - é cada vez mais presente nas lojas, apontam as pesquisas internas do grupo varejista.

Para as empresas, a iniciativa foi um primeiro passo para atender às exigências com a Lei 12.305/10, da Política Nacional de Resíduos Sólidos, que prevê a responsabilidade compartilhada - indústria, varejo, consumidores - para dar destinação final aos resíduos. "O consumidor já tem ciência do seu papel nessa cadeia, mas nem sempre ele é atendido pelos serviços públicos quando quer fazer a separação do seu lixo. Por isso as estações de reciclagem fazem sentido", diz Juliana Marra, gerente de assuntos governamentais da Unilever.

No contexto das negociações de acordos setoriais para aumentar a reciclagem de embalagens, o Ministério do Meio Ambiente analisa três propostas - das associações de fabricantes de vidro e de fabricantes de latas de aço e a da chamada Coalizão - que reúne 22 associações, capitaneadas pelo Compromisso Empresarial para a Reciclagem - Cempre. Entre outros pontos, o projeto da Coalizão prevê intensificar a coleta seletiva nas 12 cidades-sede da Copa de 2014, que juntas respondem por 38% dos resíduos gerados no Brasil e coloca como meta aumentar a taxa de reciclagem de embalagens em 20% até 2015. Atualmente esse índice varia conforme o tipo de resíduo: pode chegar a 98%, no caso das latas de alumínio, e fica em torno de 57% para as embalagens de plástico PET. Também prevê a expansão dos postos de entrega voluntária (PEVs) em supermercados e varejistas.

"Esperamos assinar o acordo setorial de embalagens até o final do ano. Com o aval do governo, as empresas vão se movimentar ainda mais", afirma Fernando Von Zuben, diretor de meio ambiente da fabricante de embalagens longa vida Tetra Pak, uma das companhias que endossam a proposta da coalizão e que vem desenvolvendo um trabalho voltado ao treinamento e profissionalização da gestão das cooperativas de catadores.

O programa "Cooperativa em Ação" da empresa oferece treinamento para 700 cooperativas em todo o país, além de prever investimentos, para este ano, de € 1,2 milhão só em equipamentos, como prensas e caminhões, para ajudar a aumentar a produtividade. "Em média, os catadores conseguiram aumentar seu rendimento mensal de R$ 900 para R$ 1.300, e alguns chegam a ganhar até R$ 2.000 mensais com a reciclagem", explica. "O foco é educar o catador para que ele se torne um fornecedor de matéria-prima para a indústria e ajude a elevar os índices de reciclagem", diz o executivo.


Veículo: Valor Econômico


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