Critérios 'verdes' pautam as decisões de investimento

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Critérios de sustentabilidade estão pautando as decisões de investimento das empresas nos departamentos de tecnologia da informação (TI). Além da compra de equipamentos que consomem menos energia, as práticas mais comuns na adoção da "TI verde" estão ligadas à economia de papel em parques de impressoras, virtualização de servidores e reciclagem de eletrônicos.

Há iniciativas também de captação da água da chuva em data centers e o uso da videoconferência para evitar viagens e a emissão de gás carbônico (CO2). Em algumas companhias, a utilização de novos modelos de impressão já reduziu o consumo de papel em 30%.

Na fabricante de pneus Goodyear do Brasil, a preocupação com práticas sustentáveis intensificou-se nos últimos três anos, de acordo com Sérgio Rosa, gerente de TI, infraestrutura e novas tecnologias para a América Latina. A estratégia da empresa é considerar aspectos ambientais em todas as substituições de equipamentos. Nas trocas de servidores, por exemplo, há preferência pela virtualização de unidades, para economizar energia.

Sessenta por cento dos servidores da companhia são virtuais, o que permite gastar menos da metade da força usada, há três anos, nos seus data centers. "O descarte das máquinas obsoletas é feito por meio de companhias de reciclagem certificadas", afirma o gerente. "Já foram entregues mais de nove mil quilos de equipamentos para reúso."

Outra ação da fabricante é a distribuição de custos de impressão por departamento e usuário, implementada há seis anos. Com a medida, foi verificado um corte de cerca de 30% no consumo de papel. "Estudamos agora o uso da impressão retida", explica. Nesse modelo, o funcionário envia o documento para a impressão, mas o arquivo não é reproduzido automaticamente. O impresso só é entregue quando o usuário vai até a impressora e usa o crachá para desbloquear o procedimento. A ideia é reduzir gastos com trabalhos que são "esquecidos" nas bandejas das máquinas.

A Goodyear também adota critérios de sustentabilidade na escolha dos fornecedores de TI. Nos processos de seleção de provedores de impressão, o critério ambiental tem peso cinco, de uma escala de zero a cinco. Ganha o parceiro que inclui no contrato o replante de árvores quando um determinado volume de impressos é atingido pelas máquinas.

Nos próximos anos, o grupo pretende adotar computadores "thinclients", que consomem menos energia e têm uma vida útil mais longa ante os PCs tradicionais. Os modelos são ligados em rede e têm poucos ou nenhum aplicativo instalado. "O cloud computing também deve colaborar para a redução de equipamentos", diz Rosa.

A Braskem, de produção de resinas termoplásticas, também adota a impressão retida de documentos para poupar papel e energia. No ano passado, conseguiu poupar quatro milhões de folhas, com um corte de R$ 1,2 milhão em custos. "O parque de impressoras passou de mil para 685 unidades", afirma o diretor de TI Marcos Antônio Milani. "O consumo de energia elétrica também entra como componente de avaliação na compra de servidores e estações de trabalho."

Com reuniões feitas via videoconferência, ao invés de encontros presenciais, a empresa também conseguiu economizar, em 2012, cerca de R$ 5 milhões com deslocamentos e evitou a emissão de 1,6 mil toneladas de CO2, segundo Milani. Foram feitos quase quatro mil reuniões a distância, no período.

Segundo José Luís de Oliveira Brasil, gerente de infraestrutura e operações de TI da Cemig, do setor de energia elétrica, os investimentos anuais em ações "verdes" correspondem a 0,02% do lucro da companhia, que atingiu R$ 4,3 bilhões, em 2012. Uma das principais iniciativas foi a criação de uma política de impressão econômica, com a meta de alcançar 35% de redução no uso de papel. "Podemos fazer a impressão em livreto, o que permite reproduzir quatro páginas em uma única folha." A empresa estuda implantar o desligamento automático de estações de trabalho e monitores que estiverem sem uso por mais de 15 minutos.

A Redecom, de serviços para TI, preferiu adquirir parte de uma empresa de gerenciamento de resíduos eletroeletrônicos, a Zero Impacto, para surfar na onda ecológica. Em 2014, pretende comprar equipamentos para a reciclagem de tubos de raios catódicos, usados em monitores de computadores antigos. "Adotamos o reuso do lixo eletrônico internamente e nos clientes", diz o diretor de qualidade Carlos Eduardo Martins.

A empresa elaborou um manual que explica como deve ser feita a coleta e a armazenagem dos resíduos. Com isso, a equipe de pós-venda recolhe os restos gerados após a execução dos projetos, como cabos e peças de computadores, para guardá-los adequadamente. Depois, uma vez por semana, a Zero Impacto realiza a coleta do material na companhia.

A Alog, de serviços de data center, acaba de inaugurar uma unidade no Rio de Janeiro com um sistema de captação de água da chuva. O líquido será estocado em reservatórios subterrâneos e reutilizado nas descargas dos banheiros, lavagem de instalações externas e áreas verdes. "A capacidade do reservatório é de 13 mil litros", afirma Eduardo Carvalho, presidente da Alog Data Centers do Brasil. A meta é reduzir o consumo em 70%.

Segundo Ricardo Mansur, autor do livro "Governança de TI Verde" (Ed. Ciência Moderna), o Brasil tem muita estrada a percorrer quando o assunto é a adoção de iniciativas responsáveis nos departamentos de tecnologia. "A prática mais utilizada no país é a virtualização de servidores", diz. "As ações ainda estão focadas nas grandes corporações, por causa de fatores como a necessidade de uma imagem institucional de sustentabilidade e a diminuição de custos."

Para Mansur, há iniciativas fáceis de serem adotadas, por companhias de qualquer porte, como a troca da cor do pano de fundo dos computadores. "As máquinas que ficam ligadas o dia inteiro estão gastando muito dinheiro com a tela branca", diz. "O azul consome menos energia."



Veículo: Valor Econômico


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