Pequeno varejo do interior vai enfrentar a força do 'atacarejo'

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Troca de local. O menor poder de compra, o endividamento e o aumento da inflação deverão levar o consumidor a migrar de canal para abastecer a despensa, em busca de custo-benefício

 



As redes supermercadistas regionais de pequeno e médio porte devem começar a enfrentar um aumento da concorrência com os grandes players do chamado 'atacarejo' (cash & carry na sigla em inglês). A mudança é consequência de novos hábitos dos consumidores, que procuram este canal devido à oferta de mix e preços competitivos.

Atualmente, quem supre a demanda do consumidor que tem buscado driblar o aumento do preço dos alimentos nas cidades interioranas são os supermercados - hoje com 70% de participação no varejo alimentar, conforme pesquisa da consultoria Nielsen sobre mudanças no mercado de consumo.

"Hoje, 50% dos cash & carry estão no interior, mas eles ainda atendem a um público pequeno. Uma loja no interior atrai 80 mil pessoas, ou 14% da população local, em média. Na capital, uma loja atende a 69% desse público", contabilizou a executiva de atendimento da Nielsen, Gloria Tittoto.

A movimentação, explica ela, deve-se ao fato de o consumidor buscar a economia nos gastos fora do lar para conseguir manter o padrão de compras do consumo residencial. "64% dos brasileiros reduziram gastos em lazer para poder manter o padrão de consumo, já que a renda média parou de crescer. Os brasileiros estão muito mais endividados do que em anos anteriores", disse a executiva.

A pesquisa apontou também que 13% dos consumidores têm economizado para honrar compromissos anteriores. "Após a farta oferta de crédito, veio o endividamento. E é claro que o brasileiro quer quitar o débito para continuar a consumir", ressaltou Gloria.

Ainda no estudo da consultoria, foi identificado também que no interior as redes regionais são mais rentáveis, ou seja, faturam o dobro das redes globais de supermercados. "Hoje, o consumo no interior cresce duas vezes mais do que o na capital. É um bom local para investimento", reforçou a executiva de atendimento da Nielsen, Mayane Soares.

Novas lojas

No ano passado, 47 operações no formato cash & carry foram inauguradas, fazendo o segmento crescer 12% no período. Players como Assaí Atacadista, do Grupo Pão de Açúcar (GPA); Atacadão e Supeco, ambas do Carrefour, e Maxxi Atacado, do Walmart são algumas das empresas de olho no nicho fora das capitais. O sucesso das redes é justificado pela boa oferta de sortimento. "E oferecem preços mais atraentes, fazendo o consumidor ter a sensação de obter maior custo benefício na hora da compra", enfatizou Gloria.

Entre as empresas, só o Assaí possui 86 unidades em 13 estados. No ano passado, a rede inaugurou nove lojas e ampliou a presença em quatro regiões. A bandeira fechou 2014 com vendas líquidas de R$ 8,3 bilhões e expansão de 32,7% em relação ao ano anterior. Assim como a operação de vizinhança, o Minimercado Extra, a Assaí tem sido a operação com maior demanda de investimento.

No ano passado, para chegar ao interior de São Paulo, a supermercadista Carrefour resolveu trazer uma nova bandeira de 'atacarejo' ao País: a Supeco - projeto internacional que ficou engavetado durante anos na operação brasileira. Com formato de atacado de proximidade, a rede conseguiu suprir a demanda com sortimento reduzido para as cidades do interior. Ainda segundo dados da pesquisa da consultoria Nielsen, o estudo identificou que os 'atacarejos', como são popularmente chamados, atendem hoje a 1,4 milhão de lares brasileiros e já têm público cativo. "Eles têm consumidores chamados compradores repetidores, que são responsáveis pelo aumento de 96% dos gastos neste canal", detalhou Mayane.

O atacado tem surpreendido. Entre 2000 e 2013, o segmento ampliou o faturamento em 121% e saltou de R$ 89 bilhões para R$ 197,3 bilhões em pouco mais de uma década. "E eles ainda têm muito potencial de crescimento no País", falou Gloria. Este ano, a projeção da Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores de Produtos Industrializados (Abad) é que o setor cresça até 2% este ano. Volume igual ao previsto pela Associação Brasileira de Supermercados (Abras).

Hábitos mudados

Com a perspectiva da inflação a quase 8%, bem acima do teto da meta, de 6,5%, o valor dos produtos são impactados e a solução é diversificar os canais de compra e procurar por itens promocionais. Por isso, o consumidor mais uma vez tem que se ser criativo para continuar a consumir este ano. "Houve uma queda de 4,7% nas idas aos pontos de venda. Ações que ajudem a impulsionar as compras devem ser adotadas", disse Gloria.

A boa notícia é que o tíquete médio de compras subiu 5,6% de 2013 para 2014, pois o consumidor tem comprado mais itens a cada ida ao ponto. "Não é reflexo do aumento dos preços, mas de produtos de necessidade básica", explicou Mayane.

Neste caso, quem tem maior representatividade são os minimercados e os supermercados. "No formato mini, houve incremento de 7,4% na venda média, o que representa 24 itens por conta. Já no super, a venda média cresceu 4,9% e a compra se resume a 12 itens a casa visita à loja", explicou Gloria.

Outra dica das executivas é ficar atento ao consumidor da alta renda. Ao invés de pensar somente dos consumidores emergentes da classe C, estar atento aos pertencentes as A e B deve estar no radar das varejistas. "Não há crise nesse nicho", disse Gloria. Hoje, os ricos brasileiros correspondem a 60% do consumo, enquanto os C e D são 33% e 7%, respectivamente.



Veículo: DCI


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