Produtor terá ganhos menores com cesta básica do brasileiro

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Arroz, feijão e hortaliças são parte essencial da alimentação do brasileiro. Neste ano, o consumidor não deve ter surpresas com os preços na hora de levar esses ingredientes para casa. O produtor, por outro lado, terá um 2018 marcado por preços mais baixos e margens apertadas na maior parte destas culturas.

 

A perspectiva é válida especialmente para a dupla arroz e feijão. A colheita do arroz terá início no Sul nesta quarta-feira (21), com projeção de produção de 7,5 milhões de toneladas no Rio Grande do Sul, que responde por 70% da safra nacional. A queda prevista de 6% ante o ciclo anterior deve ocorrer em função das baixas temperaturas na região, o que prejudicou a formação do grão. “O atraso no plantio também fez com que parte da lavoura tenha sido cultivada fora do período ideal”, explica o vice-presidente da Federação das Associações de Produtores de Arroz do RS, Alexandre de Azevedo Velho.

 

A área cultivada deve recuar 1,8%, para 1,9 milhão de hectares, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A produção total do grão deverá atingir 12 milhões de toneladas neste ano, ante um consumo estimado em 11,5 milhões de toneladas.

 

A conta, entretanto, não é tão simples. A expectativa é que o estoque de passagem (quantidade de produto armazenado entre uma safra e outra) seja de 1,5 milhão de toneladas. Além disso, a importação do grão de países do Mercosul tem se tornado atraente para as indústrias, o que aumenta a oferta e pressiona os preços ao produtor. “No Brasil, temos valores como a Taxa de Cooperação e Defesa da Orizicultura (CDO) e o Funrural que não pagamos na importação. Além disso, o custo para trazer o arroz do Uruguai é a metade do que para transportar o arroz brasileiro”, afirma o diretor da Associação Brasileira da Indústria do Arroz (Abiarroz), Mário Pegorer.

 

Neste cenário de oferta abundante, o consumidor deve sair ganhando. Os produtores, por outro lado, têm recebido menos que os R$ 36,01 por saca, valor mínimo estabelecido pelo governo federal. “E esse valor já está entre R$ 6 e R$ 7 abaixo do custo de produção. Esperamos o anúncio na sexta feira (23) de Aquisição do governo federal (AGF) de pelo menos 300 mil toneladas para que tenhamos sustentação de preços”, estima o dirigente.

 

No caso dos produtores de feijão, a redução de 5,3% na área plantada na primeira safra, para pouco mais de 1 milhão de hectares, deve resultar em produção de 1,25 milhão de toneladas, segundo a Conab. “Junto com a queda na produção, veio a menor qualidade, o que faz com que os preços não sejam mais atrativos para o produtor. O consumidor vai ter feijão barato neste ano”, afirma o produtor de feijão caupi de Sorriso (MT), Leandro Lodea.

 

Ele explica que o preço pago ao produtor não cobre o custo da irrigação e dos insumos. Para a segunda safra, porém, a Conab estima aumento na área plantada e incremento na produção, estimada em 1,23 milhão de toneladas. Ainda assim, a produção total deve recuar 2,9%, para 3,3 milhões de toneladas, considerando a terceira safra.

 

Hortifruti

As hortaliças, porém, devem pesar um pouco mais no bolso do consumidor neste ano. A redução na área de produção deve dar sustentação a preços da cebola e do tomate. “É importante que o consumidor entenda que quando os preços estão muito baixos, o benefício é temporário”, diz o pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), João Paulo Bernardes Deleo.

 

No caso do tomate, a perspectiva é que a área recue ao longo do ano, devido aos baixos preços pagos ao produtor na safra passada, o que deixou muitos agricultores no prejuízo. “Na safra de verão, a queda deverá ser de 10% a 15% da área”, estima o pesquisador. No inverno, a redução pode chegar a 10%.

 

“A oscilação de preços é grande por causa da temperatura, já que o clima impacta na maturação”, observa o pesquisador.

 

Na avaliação de Deleo, porém, a tendência é de aumento nos custos de produção ao longo do ano, o que deve deixar as margens dos produtores mais apertadas. “Ainda assim, será um ano de bons preços ao produtor pela queda da oferta”, destaca o pesquisador.

 

Também a área cultivada com cebola deve diminuir nesta safra em razão dos preços baixos pagos ao produtor, o que pode reduzir a oferta do item na região Sul do País, onde a safra termina em maio. Com isso, a perspectiva é de que a cebola esteja mais valorizada, estima a pesquisadora do Cepea, Marina Marangon Moreira.

 

No Nordeste, Sudeste e Cerrado – onde a colheita começa em maio – os preços já foram maiores com a menor área no ano passado, situação que deve se repetir neste ano. “A área voltou a diminuir. Além disso, tivemos a crise hídrica e a queda de produção no Nordeste”, pondera Marina. Para o segundo semestre deste ano, ela espera uma nova redução de área e preços ao produtor sustentados.

 

Para os produtores de batata, 2018 será um ano de desafios. A perspectiva é de manutenção de área cultivada em um cenário em que muitos produtores tiveram prejuízos com preços abaixo do custo de produção na safra passada. “Se essa projeção se concretizar, será um ano bom para o consumidor e ruim para o produtor”, avalia Deleo.

 

Mais popular entre as folhosas, a alface deve ter uma área de produção semelhante a do ano passado nos principais estados produtores, São Paulo, Rio e Minas Gerais. No entanto, não é uma garantia de maiores preços. “ A produção é muito pulverizada e o clima vai ditar os preços”, avalia Marina.

 

 

 

Fonte: DCI São Paulo


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