"Premiunização" no mundo dos sorvetes

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Pode chamar de tendência, ainda que com este calor absurdo seja mais uma questão de sobrevivência. É uma dádiva topar com as novas sorveterias que andam se multiplicando na cidade de São Paulo. Melhor ainda é constatar que a qualidade do produto e o serviço atencioso têm sido o denominador comum a elas, em especial as de estilo italiano. Como ocorreu com o vinho, o café e a cerveja, os consumidores estão desfrutando de mais um processo de "premiunização", desta vez no mundo dos sorvetes. Aperte, então, a tecla gelato.

Refrescar os miolos hoje é um programa sofisticado. Quem se apodera de uma casquinha aprende geografia com os ingredientes com denominação de origem e amplia o vocabulário com meandros da "emulsificação". Seja nas iniciativas de bairro, como a artesanal Gattamelata, uma loja com longas filas em Perdizes, seja com bandeiras internacionais, como é o caso da Dri Dri, que acaba de abrir nos Jardins sua primeira unidade fora de Londres. Num raio de 300 metros, a bandeira mais nova da região tem cinco concorrentes do mesmo padrão.

Criada pelo italiano Adriano Di Petrillo, a Dri Dri é representada aqui pela holding MV, formada pelos franceses Dimitri Mussard e Nicolas Virieu. Mussard, membro da família fundadora da Hermès, é sócio da Acaju do Brasil, uma empresa que tem se dedicado a trazer para o país marcas de moda e design bacanudas, com preços compatíveis e menos óbvias. "Queria entrar na área de 'food' com a mesma filosofia, ou seja, apostando em produtos de qualidade em nichos que ainda não tivessem tido a atenção devida. E é impressionante como um país tão quente e apaixonado por doces tenha demorado tanto para melhorar sua oferta de sorvetes", afirma.

No começo, Mussard, que adora morar no Brasil, mas sente falta dos croissants da sua terra, pretendia montar uma pâtisserie. Ele salivava por "pain au chocolat" genuíno, mas sabia que era inviável pagar royalties para uma representante internacional. "Só se vendesse cada croissant a R$ 40, e isso vai contra tudo o que acredito. As coisas precisam ser boas e com preço justo." Pensou em chamar um chef e montar uma operação própria - ainda não desistiu da ideia - mas não encontrou uma manteiga de qualidade e num valor viável para a missão. Seu amigo Virieu também queria ficar no Brasil e depois de um ano e meio na busca por uma oportunidade de negócio, avaliou que a sorveteria do primo Di Petrillo teria espaço no país.

"Chegamos a estudar várias gelaterias de Florença para trazer, mas, além de tudo, a Dri Dri tem uma comunicação visual divertida e que tem tudo a ver para a realidade brasileira do varejo em shoppings."

Dados de mercado, como a previsão de crescimento de 49% com faturamento de venda de sorvetes, no período entre 2011 e 2016, também animaram a dupla. A operação até agora consumiu R$ 1 milhão. Com vários ingredientes importados em sua composição, os sorvetes da Dri Dri são fabricados diariamente na loja, com baixíssimo percentual de gordura (6% a 9%). E os preços estão em pé de igualdade com as marcas nacionais. A Gattamelata, por exemplo, cobra R$ 55 pelo quilo. Na Dri Dri, ele custa R$ 60.

O plano de expansão não é ambicioso. "Para construir uma marca de desejo, o crescimento precisa ser orgânico. Não é um produto de massa. Devo abrir mais dois pontos neste ano. Mas acho que minha rede nunca terá mais que 20 lojas." O que Mussard quer é criar novos modelos. Ele gosta da ideia de transformar os caminhões que farão as entregas diárias nas futuras lojas dos shoppings em pontos móveis de atendimento na cidade "se beneficiando da legislação do 'food truck'".

Para ele, a Bacio di Latte, criada por Eduardo Tonolli - rede de gelaterias que desde sua abertura continua a acumular filas -, foi fundamental para tornar consistente o mercado de sorvetes de qualidade no país. O fato de os brasileiros viajarem mais também elevou a exigência. "Tem gente que entra aqui e discute a receita com a gente. Você vê que a pessoa entende mesmo, que tem referências para fazer sugestões."

Em duas semanas após a abertura, a Dri Dri já faturou o dobro do esperado, diz Mussard. "Eu não sou bobo. Sei que a novidade tem a ver com isso. Mas com a qualidade das frutas brasileiras consigo fazer, por exemplo, sorbets melhores que os da Berthillon, em Paris. E é isso que faz o cliente voltar todo dia." Bom, mas vamos combinar que está chapa quente, um marco na história dos verões - é um bom estimulante também, né? "Os santos me protegem desde que eu pisei neste país."



Veículo: Valor Econômico


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