Receita da Lactalis deve somar R$ 3,5 bi no país

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A operação que vai surgir da união entre os negócios da LBR - Lácteos Brasil e da divisão de lácteos da BRF, ambos recém-adquiridos pela francesa Lactalis, deve gerar um faturamento bruto anualizado de R$ 3,5 bilhões, estimam pessoas familiarizadas com as transações. O número também inclui os negócios da Balkis, comprada pela empresa francesa em agosto do ano passado. Todas as aquisições foram realizadas por meio da italiana Parmalat S.pA, que tem capital aberto na bolsa de Milão, e é controlada pela Lactalis desde julho de 2011.

As três operações somadas devem ter cerca de 6 mil funcionários, de acordo com estimativas preliminares das mesmas fontes. As projeções ainda variam porque não é possível saber exatamente quantos funcionários a Lactalis vai herdar, principalmente no caso da aquisição dos ativos de lácteos da BRF. Isso porque, na prática, a operação de lácteos não existia separadamente na BRF. Assim parte dos funcionários, como os de áreas de venda, por exemplo, também atendiam outros segmentos. Procurada, a Lactalis preferiu não atender o pedido de entrevista.

Com as duas recentes aquisições, que precisam ser aprovadas pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), a Lactalis chegará a 17 unidades de lácteos no Brasil - já tem duas por conta da compra da Balkis. A empresa, dona da tradicional manteiga Président, também terá no seu portfólio marcas como Parmalat, Boa Nata e DaMatta, Poços de Caldas, Batavo e Elegê. A expectativa é de que tenha cerca de 15 mil fornecedores de leite nos nove Estados em que terá unidades de lácteos, para produção de leite UHT, refrigerados, queijos e requeijão.

A Lactalis deve gastar R$ 2,050 bilhões nas duas recentes aquisições, sendo R$ 1,8 bilhão pelos ativos de lácteos da BRF e R$ 250 milhões pelas unidades e marcas da LBR. Na prática, nesse último caso, a avaliação no mercado é de que a Lactalis pagou para antecipar a retomada da marca Parmalat no Brasil. A marca, da qual é dona, estava em uso pela LBR sob licença até 2017. A condição da Lactalis para adquirir os ativos da LBR, dentro do processo de recuperação judicial da empresa brasileira, foi que o contrato fosse desfeito.

Os próximos passos da Lactalis no Brasil serão, sem dúvida, desafiadores. Ontem, a empresa protocolou no Cade o pedido de ato de concentração relacionado à aquisição dos ativos da LBR. Terá de fazer o mesmo com os ativos de leite adquiridos da BRF. Depois do aval do órgão antitruste para as duas operações, a Lactalis dará início ao processo de integração dos negócios. Um trabalho certamente complexo.

A expectativa, conforme fontes próximas à companhia, é de que essa tarefa e a administração dos negócios fique a cargo de executivos franceses. Brasileiros que atuam nas duas operações hoje também devem participar de um comitê de transição durante a integração.

Empresa protocolou ontem no Cade o pedido de ato de concentração relacionado à aquisição dos ativos da LBR

Foi esse o modelo em grande parte das aquisições da Lactalis, um movimento que ganhou força na empresa a partir dos anos 2000, quando Emmanuel Besnier, neto do fundador da companhia de lácteos, assumiu os negócios após a morte de seu pai Michel Besnier. Desde então, a empresa com sede em Laval, no oeste da França - fez cerca de 26 aquisições - sem considerar os ativos de LBR e de BRF -, que a levaram a um faturamento global de € 16 bilhões em 2013 e a uma captação global de 14,6 bilhões de litros de leite.

Discreto, Emmanuel Besnier, que tem 43 anos e assumiu a empresa aos 29 anos, acompanhou de muito perto as transações para compra dos ativos no Brasil. O diretor-presidente e dono da Lactalis visitou várias unidades da BRF e da LBR nos últimos meses.

Segundo apurou a reportagem, chegou a visitar até oito fábricas em apenas três dias, em trajetos feitos de avião, ou após longos quilômetros em estradas. Também visitou supermercados pelas cidades onde passou. "É um ser humano normal", descreveu uma pessoa com quem teve contato nas recentes visitas. "Comeu até sanduíche de mortadela", garantiu.

Chamado de "bilionário invisível", "rei do queijo" e "imperador do leite" pela imprensa francesa, Emmanuel Besnier tem modos espartanos, surpreendentes para alguém com tamanha riqueza - segundo a Forbes, sua fortuna é de US$ 7,5 bilhões. Essa característica pessoal se reflete na sua forma de gerir os negócios, segundo quem o conhece.

Numa das visitas a unidades, Besnier não escondeu que a considerou luxuosa, algo que não combinaria com uma indústria de lácteos, em sua visão. Não à toa, a empresa deve escolher como sede o escritório onde funciona hoje a área administrativa da LBR, num prédio sóbrio na capital paulista.

Agora, a expectativa é de que Besnier implemente no Brasil seu modelo de gestão, que tem foco em agregação de valor de produtos e prioriza a compra direta dos produtores de leite como forma de garantir a qualidade da matéria-prima. Na França, a Lactalis, que até 1999 chamava-se Société Laitière Besnier, é conhecida como a empresa que conseguiu transformar queijos artesanais, como o camembert, em produtos de maior escala comercial.

Os últimos movimentos da Lactalis no Brasil foram vistos de forma positiva até por concorrentes, que consideram que ao fincar o pé no país, a francesa valoriza o setor de lácteos. Além de estimular a concorrência e a busca por eficiência, as aquisições da Lactalis - por montantes considerados altos por fontes do setor - também valorizariam os ativos de lácteos no país.

Apesar dos passos ambiciosos que a Lactalis vem dando, a verdade é que ser uma gigante de lácteos só se tornou uma possibilidade real após a compra do controle da italiana Parmalat, em 2011.

De uma certa forma, a Lactalis acabou sendo impelida a buscar o controle da Parmalat. Em março de 2011, atingiu uma participação de 29% no capital da empresa italiana, então gerida por Enrico Bondi, que assumira como interventor depois que a Parmalat quebrou em dezembro de 2003. Na época, a companhia francesa disse que não pretendia aumentar essa fatia - conforme as regras italianas no mercado de ações, o acionista é obrigado a fazer oferta pela empresa inteira se a fatia passar de 30%.

Mas a participação de 29% já assegurava à Lactalis o controle de fato do grupo italiano, o que gerou reações negativas na Itália. Apoiados pelo governo do país, bancos e a Caixa de Depósitos italiana tentaram formar uma aliança para conter o avanço da Lactalis. Além disso, o governo italiano adotou um decreto anti-OPA (Oferta Pública de Aquisição), como parte de uma série de reformas voltadas para proteger empresas italianas de aquisições indesejadas. As reformas incluíram o adiamento de uma assembleia de acionistas da Parmalat, na qual a Lactalis pretendia eleger a maioria dos membros do conselho de administração da Parmalat.

Contrariando expectativas e numa reação à estratégia dos italianos, a Lactalis anunciou uma OPA das ações da Parmalat. Em julho de 2011, no encerramento da oferta, atingiu 83,3% do capital da italiana.



Veículo: Valor Econômico


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