Definida, enfim, a venda de ativos da LBR

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Alda do Amaral Rocha



Após seis sessões, a assembleia de credores da LBR - Lácteos Brasil aprovou ontem, por unanimidade, a combinação de propostas recomendada pela companhia para venda de 14 unidades produtivas isoladas (UPIs), dentro de seu plano de recuperação judicial.

Essa combinação, considerada mais favorável pela LBR por permitir a entrada do maior montante de dinheiro à vista no caixa da empresa, envolve as propostas, por diferentes unidades, da francesa Lactalis (R$ 250 milhões), da ARC Medical Logística (R$ 203,3 milhões), da Colorado (R$ 40,177 milhões), do Laticínios Bela Vista (R$ 25 milhões), da Cooperativa do Vale do Rio Doce (R$ 7 milhões) e da Agricoop (R$ 6 milhões). Todas as 14 UPIs postas à venda foram alienadas e com a venda a empresa vai arrecadar um montante total de R$ 531,477 milhões.

Houve aprovação unânime de credores da classe trabalhista e também dos credores com garantia real. Houve ainda unanimidade entre credores sem garantia (quirografários), mas cinco abstenções. Agora, a decisão dos credores tem de ser homologada pelo juiz da recuperação judicial, Daniel Carnio Costa.

Entre parte dos credores, a avaliação era de que aprovação das propostas combinadas era o melhor caminho por conta da situação financeira da LBR, que corria o risco de parar por conta da dificuldade de obter capital de giro. Dessa forma, mesmo temas polêmicos (ver abaixo) acabaram sendo superados pelos credores.

Antes da aprovação da venda, que aconteceu por volta das nove da noite, um ponto da operação gerou incertezas entre os proponentes que tiveram suas ofertas recomendadas pela LBR junto com a oferta da Lactalis. A francesa só pagará os R$ 250 milhões pelas unidades Fazenda Vila Nova, Barra Mansa, Boa Nata e Poços de Caldas após a aprovação da operação de aquisição pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). A expectativa é de que o órgão se manifeste em 30 a 40 dias, segundos os advogados da Lactalis. Eles consideram o risco de não aprovação desprezível.

Mas a LBR admitiu que uma eventual não aprovação pelo Cade, que significaria a saída da Lactalis, poderia inviabilizar as negociações com os outros proponentes porque a LBR conta com os recursos da empresa francesa para liberar gravames (pendências que poderiam impedir a venda) de outras unidades. A aquisição das unidades pela Lactalis tem de ser submetida ao Cade por se tratar de grupo econômico com faturamento superior a R$ 750 milhões.

O presidente estatutário da LBR e sócio da Ivix (que reestruturou a empresa de lácteos) Nelson Bastos não escondia a satisfação após o resultado da votação pelos credores. "A LBR tem satisfação em ver o plano, com venda de parte significativa dos seus ativos operacionais, aprovado por unanimidade", afirmou.

A LBR que restará após a venda de ativos é uma empresa com três unidades em operação e receita líquida projetada de R$ 317,7 milhões no próximo ano, segundo apresentação feita ontem de manhã na assembleia de credores. Em apresentação a LBR mostrou projeções financeiras num cenário de alienação das 14 unidades produtivas isoladas.

A LBR informou que após as vendas das 14 unidades seguirá operando o consórcio que tem hoje com as companhias Gloria e Ibituruna - uma negociação para arrendamento das unidades de Governador Valadares e Guaratinguetá está em curso. Além disso, a LBR também já acertou o arrendamento da unidade de Tapejara da ARC Medical Logística, proponente escolhida para alienação da planta.. Nessa planta, irá produzir leite com a marca Bom Gosto. A LBR também irá licenciar o uso da marca Ibituruna, adquirida pela Cooperativa do Vale do Rio Doce, conforme a recomendação da LBR.

Segundo a empresa, o faturamento projetado de R$ R$ 317,7 milhões é calculado com base numa captação média de 500 mil litros de leite por dia, com um preço médio de R$ 1,98 pelo litro do leite longa vida. A previsão, com o enxugamento da estrutura, é alcançar uma margem Ebitda de 5%. As três unidades que seguirão operando, conforme a empresa, geraram em 2013 uma receita bruta de R$ 846 milhões, ou cerca de 40% do faturamento total da LBR, que ficou em R$ 2,01 bilhões.

Apesar da substancial redução dos seus ativos industriais, a LBR afirma que terá capacidade de produção suficiente para manter "uma significativa presença no mercado de leite UHT". Segundo a companhia, as três unidades, sem investimentos adicionais, podem processar mais de 2,3 milhões de litros por dia. Cerca de 800 funcionários trabalharão nas plantas.

As projeções financeiras da LBR também consideram que a empresa terá o ressarcimento de um crédito liquido de PIS-Cofins de R$ R$ 178 milhões no próximo ano. A empresa também reafirmou o plano de realizar o chamado leilão holandês ou leilão de desconto da dívida para os credores quirografários. O valor total no leilão será de R$ 50 milhões, considerando o desconto mínimo de 50% em parte da dívida.

Quando foi criada no fim de 2011, após a associação entre a Leitbom, controlada pela Monticiano Participações (GP Investimentos e Laep), e a gaúcha Laticínios Bom Gosto, a LBR era uma empresa com 35 unidades e cerca de oito mil funcionários em todo o país. Hoje, há cerca de 20 fábricas fechadas (não considerando as unidades colocadas à venda).



Veículo: Valor Econômico


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