Brasil 'entusiasma' a francesa Lactalis

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Por Alda do Amaral Rocha | De São Paulo


Não se pode dizer que a manteiga Président seja exatamente popular no Brasil, mas, sem dúvida, é mais conhecida que o nome de seu fabricante, a francesa Lactalis. No entanto, isso pode estar perto de mudar. A Lactalis, que faturou no mundo € 16 bilhões em 2013, começou a produzir queijos no Brasil, há menos de um ano, após a compra da Balkis. Mas, apesar do estilo discreto, já mostrou que tem planos mais ambiciosos para o Brasil.

Depois de tentar comprar, sem sucesso, o controle da LBR-Lácteos Brasil no ano passado, a Lactalis, que é controladora da italiana Parmalat S.p.A desde 2011, negocia há seis meses a aquisição da divisão de lácteos da BRF. Ao mesmo tempo, fez oferta de R$ 250 milhões por ativos da LBR, colocados à venda dentro de processo de recuperação judicial da empresa de lácteos brasileira.

O diretor de fusões e aquisições do grupo francês, Erick Boutry, disse que não pode comentar as negociações, mas não esconde o entusiasmo em relação ao Brasil quando questionado se veio ao país apenas para participar da assembleia de credores que vai decidir o destino dos ativos da LBR. "Estou aqui por causa de LBR, BRF e de outras [empresas]

", afirmou, rindo, em uma indicação de que vê muitas oportunidades no segmento no país.

O interesse num mercado de 200 milhões de pessoas, onde o consumo de lácteos cresce a cada ano - saiu de 50 quilos per capita em 2000 para estimados 170 quilos per capita em 2013, segundo a Milkpoint - e ainda tem espaço para avançar, inclusive em produtos de maior valor agregado, move a gigante francesa. "Brasileiro toma leite", disse Boutry, bem-humorado.

Ainda que Cláudio Galeazzi, CEO da BRF, tenha dito nos últimos dias, em teleconferência com analistas, que a empresa pode fazer um spin-off da divisão de lácteos, caso a venda da operação não ocorra, a expectativa, no mercado, é de que um desfecho das negociações entre a companhia e os interessados pelos ativos aconteça em breve. Além da Lactalis, a BRF também recebeu propostas da também francesa Danone, da canadense Saputo e da mexicana Lala, segundo fontes do setor.

A proposta da Lactalis contempla a maioria dos ativos da BRF, conforme apurou o Valor. No momento, as negociações acontecem entre os conselhos de administração da BRF e da Parmalat S.pA., por meio da qual será feita a eventual aquisição. Se dependesse da disposição da Lactalis, a negociação já estaria mais avançada, apurou a reportagem.

De qualquer forma, a negociação de seis meses entre as duas empresas é considerada um período normal para a Lactalis. Para se ter uma ideia, as conversas entre a Lactalis e a indiana Tirumala Milk Products, que foi adquirida em janeiro deste ano pela francesa, durou 15 meses.

No mercado, a informação é de que a Lactalis já estaria mesmo realizando "due diligence" na BRF. Fontes próximas à negociação, pelo lado da francesa, não confirmam. O valor da negociação, na casa de R$ 1,5 bilhão, também não é confirmado. Procurada ontem, a BRF disse que não comentaria.

Além do interesse no parque industrial da BRF e em sua bacia leiteira, a Lactalis também está firme no propósito de recuperar o controle da marca Parmalat no país. A marca está sob licença da LBR até 2017 no Brasil, e a Lactalis, que controla a Parmalat S.p.A, pretende usar a marca principalmente na comercialização de leite UHT. Por isso, em sua proposta de compra dos ativos da LBR, condiciona a aquisição à rescisão do contrato de uso da marca.

A empresa já deu a entender, aliás, que tem direito a rescindi-lo, uma vez que tem créditos (concursais e não concursais) junto à LBR relativos ao contrato de uso da marca. A proposta de R$ 250 milhões da Lactalis é pelas seguintes unidades produtivas isoladas da LBR Lácteos Brasil: Líder, Fazenda Vila Nova, Barra Mansa, Boa Nata (unidades em Curral Novo e Pouso Alto e a marca Boa Nata) e Poços de Caldas.

Com uma captação global de 14,6 bilhões de litros de leite, a Lactalis deixou claro, ao apresentar sua proposta pelos ativos da LBR em assembleia de credores na última segunda-feira, que uma de suas prioridades no Brasil é ter um relacionamento direto com os produtores que fornecem leite. Tradicionalmente, em todas as regiões do mundo onde atua, a empresa de lácteos dá prioridade à compra direta dos produtores pois considera que essa é a única forma de garantir a qualidade do leite.

A Lactalis se tornou uma das maiores de lácteos do mundo - em receita ainda fica atrás da Nestlé e da Danone, conforme ranking do banco holandês Rabobank - depois de adquirir o controle da italiana Parmalat S.p.A em julho de 2011.

Mas antes disso vinha crescendo por meio da aquisição de negócios de portes pequeno ou médio no segmento de lácteos, principalmente em queijos. Entrou no Brasil assim, com a compra da pequena Balkis. Contudo, quer crescer mais no país. E a LBR e a BRF parecem ser as melhores opções na mesa neste momento.

Veículo: Valor Econômico


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