Com demanda e abate menores, preço do boi avança 8,3% no atacado

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Para analistas, crise econômica fez com que os consumidores reduzissem demanda; com dificuldades para repassar o alto custo de produção, frigoríficos diminuíram oferta no mercado

 
São Paulo - Com demanda reduzida e a quantidade menor de carne disponível para o abate, o preço da carcaça de boi avançou 8,3% no mercado atacadista na primeira quinzena de setembro, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da USP.
 
Para analistas, a crise econômica fez com que os consumidores reduzissem a demanda. Por sua vez, os frigoríficos, que tinham dificuldades em repassar a pressão nos custos de produção, diminuíram o volume de bovinos ofertados neste ano.
 
"Os frigoríficos vinham trabalhando com escalas menores e volume de abate mais baixo ainda com a percepção de que a demanda estava enfraquecida. No começo desse mês, com a oferta de carnes menor por conta dos abates, a indústria conseguiu preços maiores na venda", analisa a pesquisadora de Pecuária do Cepea, Shirley Menezes.
 
O preço da carcaça casada saiu de R$ 9,51 para R$ 10,30 entre os dias 31 de agosto e 14 de setembro, de acordo com o indicador Esalq/BM&F Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo).
 
"Houve o aumento da demanda para a compra de animais para abate por parte da indústria, mas os preços do boi não avançaram tanto", pontua Menezes, do Cepea.
 
Prejuízos
 
Embora os pecuaristas de engorda registrem um interesse maior da indústria pela carne bovina, o valor da arroba cresceu apenas 1% entre o último dia de agosto e a quarta-feira (14) passada, saindo de R$ 148,63 para R$ 150,12.
 
Esse valor não é muito diferente do começo do ano. Para se ter ideia, a arroba estava em R$ 149,34 no dia 4 de janeiro. No entanto, depois de bater os R$ 158,74 em 4 de abril, oscilou e depois caiu. O analista de mercado da Scot Consultoria, Gustavo Aguiar, pontua a importação dos defensivos agrícolas e o alto custo com a logística para o fechamento no vermelho dos frigoríficos.
 
"Ainda tem pouca oferta de gado. Historicamente, o preço está alto e oferece uma condição de repassar o custo da produção", opinou Aguiar.
 
Na sua avaliação, a saída para o produtor é aumentar sua produtividade. "Vai ser complicado para o produtor que tem a sua produtividade estabilizada. Os custos de produção estão subindo acima do valor da arroba do boi. É preciso avançar em eficiência para contrapor esses custos maiores, que sobem ano após ano", avalia o analista.
 
De acordo com dados da Scot, o preço da carcaça de boi avançou 23,6% desde o começo de agosto. "Com isso é possível que ainda tenha força para essas altas, tanto no atacado com osso quanto sem osso", completou o analista.
 
Recuperação
 
O temor dos produtores em reajustar o valor é justamente perder mercado. No entanto, a expectativa é que, com as comemorações de fim de ano e o aumento do consumo em meio a oferta reduzida, essa cotação suba ainda mais e seja repassada pela cadeia.
 
"A tendência é que esse movimento [de aumento de preços] acabe se acentuando, porque mesmo com a crise econômica, têm as atividades do fim de ano, assim como o 13º terceiro salário", afirmou o analista de Carnes da Consultoria Safras & Mercados, Fernando Henrique Iglesias.
 
Na sua avaliação, o reajuste propicia uma "sobrevida" aos frigoríficos. "Esse aumento é muito importante para os frigoríficos por conta da pressão nos custos de produção desde o último ano", disse Iglecias.
 
Porém, o especialista entende que é difícil uma recuperação integral no ultimo trimestre, já que a oferta de animais terminados ainda é baixa. "Muito provavelmente eles [a indústria] vão ter que pagar mais pelo boi por conta da escassez de oferta", disse o analista da Safras & Mercados.
 
O reajuste na carne suína, com o encarecimento de insumos como o milho, combinado ao maior consumo de carnes no final de ano, deve incentivar especialmente a recuperação dos bovinos.
 
Na avaliação de Gustavo Aguiar, da Scot, isso ocorre porque o consumidor final, em tempos de crise, migra de um produto mais barato, com proteínas reduzidas. Quando há alguma recuperação na renda, a exemplo do final do ano, esse movimento se inverte.
 
Fonte: DCI 


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