Frigoríficos buscam estratégias para elevar os preços internos e externos

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JBS prepara novos repasses dos custos de produção ao consumidor final e avança com resultados positivos da Seara e da unidade americana de suínos; Marfrig tem prejuízo líquido no trimestre


São Paulo - Para driblar um cenário classificado como "desafiador", de redução no preço médio das exportações e aperto nas margens internas, os frigoríficos JBS e Marfrig Global Foods traçam estratégias que permitam a elevação nos valores praticados pelos mercados doméstico e internacional.
 
O presidente-executivo da gigante JBS, Wesley Batista, foi taxativo: "No mix geral, vamos ter um aumento de preço relevante. Temos a pretensão de repassar o custo que a gente acredita que deve ser repassado, independente do competidor, pois estamos olhando a nossa posição interna", disse, ontem, em teleconferência de análise de balanço trimestral.
 
No mercado brasileiro, a companhia já reajustou 8% dos valores no segundo trimestre, mas Batista acredita que, "claramente", não foi o suficiente. O impacto da pressão de custos dos grãos chegou mais rápido do que a absorção na ponta final. "Tem que repassar mais preço para recompor a margem".
 
Lá fora, a valorização do real, negativa para as exportações, convergiu com um redução nos preços internacionais da carne. Era um mercado interno com dólar menor e externo com a demanda comprimida. Neste caso, a JBS conta com o atributo da forte internacionalização, utilizada ainda como ferramenta de "hedge natural", pela diversificação.
 
Graças a redução no rebanho suíno da China e a incorporação dos ativos da Cargill Pork, em 2015, a unidade norte-americana para esta proteína encontrou a combinação entre um bom nível de rebanho suíno nos Estados Unidos; ampla oferta de grãos para ração; e demanda externa aquecida - para se ter uma ideia, a diminuição nos animais chineses equivale à produção total dos norte-americanos, tornando necessárias as importações.
 
Com o apoio das unidades de negócios Seara, no Brasil, e JBS USA Carne Suína, nos Estados Unidos, o lucro líquido do grupo saltou para R$ 1,54 bilhão no trimestre, ante os R$ 80,1 milhões registrados no mesmo intervalo de 2015. A companhia nacional teve alta de 3,3% na receita líquida, para R$ 4,6 bilhões, muito pela aposta na melhoria da gama de produtos e também pela recuperação de 15% na margem. A operação americana marcou forte avanço nos rendimentos, de 71,6%, a R$ R$ 1,36 bilhão.
 
"A JBS acredita que construiu uma plataforma internacional, um hedge natural. Quando um país está pior, ele consegue beneficiar outro país e equilibrar os negócios", destacou o presidente, em referência às operações do grupo, presentes no Brasil, Mercosul, Estados Unidos (com três unidades de negócios, incluindo Austrália e Canadá no segmento de bovinos) e Europa. Financeiramente, essa estratégia aparece uma vez que a companhia zerou sua posição de derivativos relacionados à proteção cambial na controladora.
 
Concorrência
 
A Marfrig sofre com o mesmo plano de fundo da concorrente, de custos altos e preços baixos lá fora. O diretor presidente do grupo, Martin Secco, adiciona a limitada disposição de gado para abate no País entre os fatores que tornam o cenário de bovinos desafiador.
 
No segundo trimestre, a empresa obteve prejuízo líquido de R$ 132 milhões, uma piora de R$ 126 milhões em relação ao mesmo período do ano anterior, que havia sido positivamente influenciado pelo ganho recorrente na compra de ativos de Mercomar, na época, e pela maior despesa financeira com a recompra de bonds.
 
"Sofremos com o menor preço de venda no mercado internacional, que poderia ser pior se o Brasil não continuasse com política de abertura comercial", comentou o executivo, ontem, em teleconferência com jornalistas.
 
A recente abertura dos norte-americanos para compra de carne bovina in natura brasileira foi considerada importante por toda a indústria na precificação dos produtos, por abrir portas aos mercados do Canadá e México.
 
Na Ásia, a China deve aquecer as importações entre agosto e setembro, fato que também colabora para recompor parte dos valores de venda. Para aquele mercado, ainda haverá o suporte da nova operação da Marfrig na Tailândia, que agregará 20 mil toneladas, ou 60% da produção atual.
 
Nos Estados Unidos, a divisão de food service Keystone, segundo Secco, foi beneficiada pela redução de 17% nos custos da ração e 15% na carne. A operação teve alta de 10% na receita líquida trimestral, em reais, para R$ 2,36 bilhões.
 
Questionado sobre possíveis negociações no BNDES para resgate de debêntures da empresa, detidas pelo braço de participações do banco de fomento, o presidente do grupo frigorífico enfatizou que não há nenhum fato relevante em andamento e não comentaria "rumores do mercado".
 
Fonte: DCI


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