Estratégia da Sadia é alvo de críticas

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Jamie Oliver, defensor da alimentação saudável, causa polêmica ao fazer parceria com a marca


-SÃO PAULO- Uma parceria entre o aclamado chef Jamie Oliver e a Sadia — uma das maiores produtoras de carne de frango no mundo — causou polêmica nas redes sociais e rendeu críticas ao inglês, que se tornou celebridade com seus programas de receitas. Os itens da nova linha de pratos congelados, com a assinatura de Oliver, chegam às gôndolas em setembro e foram apresentados como opções mais saudáveis.

Nos últimos anos, Oliver tomou à frente do movimento Food Revolution, que propõe mudar a maneira como as pessoas se alimentam, promovendo o consumo de itens naturais e produtos frescos para uma vida mais saudável, evitando alimentos processados. Aos olhos dos defensores da boa alimentação que apoiam o movimento, a Sadia faz comida industrializada e vai usar a imagem do chef apenas para vender mais.

Indagado ontem sobre a reação à parceria, Oliver disse entender as críticas e que já pensou como essas pessoas.

— Há uns três ou cinco anos, eu não trabalharia para grandes empresas. Mas amadureci e sei que para ser grande temos de trabalhar numa escala maior — disse, ponderando que o “ativismo deve estar em todas as esferas”.

EMBAIXADOR DEIXA PROJETO A parceria com a Sadia prevê o desenvolvimento de pratos individuais e porções maiores à base de frango. As receitas deverão ser definidas durante sua visita ao país, que se encerra no domingo. Segundo a Sadia, as porções individuais dos pratos de Oliver devem custar entre R$ 15 e R$ 20, e as maiores, de R$ 20 a R$ 25. A Sadia informa já ter investido R$ 50 milhões no projeto, iniciado há um ano. Principalmente na melhoria da condições de criação dos frangos em 183 granjas, uma exigência do chef para aceitar a parceria. Segundo ele, 40 milhões de aves já estão sendo criadas nestas condições.

Mas para parte dos “embaixadores” brasileiros e latino-americanos do programa Food Revolution, isso não foi suficiente. Alguns deles, que têm o papel de disseminar os princípios da boa alimentação, abandonaram o programa.

— Não faz sentido ele defender alimentação saudável e se unir à Sadia — disse a especialista em alimentação natural Lara Folster, uma das três embaixadoras do programa em São Paulo. — Para nós que estamos no Food Revolution, um projeto muito profundo e que nos dá muito trabalho, não faz nenhum sentido essa parceria.

Para Oliver, estar “dentro” de uma grande empresa — a Sadia produz 18% de toda a carne de frango do mundo — éa oportunidade de auxiliá-la a melhorar seus processos, o que resulta em alimentos mais saudáveis.

O embaixador do Food Revolution em Montevidéu, Diego Ruete, decidiu sair do programa assim que soube da parceria. Ao GLOBO, ele reafirmou a ideia de não haver sentido no acordo.

— Represento o Food Revolution há cinco anos. Não sei como explicar essa parceria às pessoas que me perguntam. E nós, representantes de Jamie e do programa no mundo, a cara visível em cada país, ficamos expostos a isso — disse o uruguaio, que vai iniciar um movimento próprio em seu país, para defender a melhoria da alimentação.

Ruete não vê como possível a mudança na elaboração de produtos “ultraprocessados” a partir da elaboração de uma linha premium.

— O benefício econômico para ambas as partes supera qualquer filosofia de boa alimentação — disparou.

De acordo com a Sadia, associação com Oliver tem por objetivo fazer com que o “consumidor sinta prazer em finalizar uma receita que traz ingredientes selecionados, com cuidados especiais do campo à mesa e, principalmente, com o aval de um renomado profissional”. O valor do contrato com Oliver não foi divulgado.

O chef inglês veio ao Brasil também para conhecer os restaurantes de comida italiana que levam a sua marca, inaugurados em março do ano passado e em fevereiro deste ano, um na capital paulista e outro em Campinas. “ENTRE SAUDÁVEL E SEMISSAUDÁVEL” Outro motivo da visita é o lançamento de um novo livro de receitas. Oliver explicou que o livro está dividido em três subtemas: saudável, semissaudável e “se permitir”. Perguntado sobre em qual dessas categorias enquadraria uma receita preparada com frango Sadia, ele disse que entre saudável e semissaudável. Sobre a possibilidade de usar o frango, agora criado em melhores condições, em seus restaurantes, ele disse que isso não deve acontecer, “já que frango não é italiano".

Outro reflexo da parceria Oliver-Sadia deve ser a provável retirada do espaço Food Revolution do Festival de Gastronomia Orgânica em São Paulo, um dos eventos mais importantes de alimentação saudável do continente, que ocorre em outubro.

Nas redes sociais, internautas reagiram com críticas e dizendo estar decepcionados. Na primeira visita que fez ao Brasil, na Copa do Mundo, seus comentários sobre brigadeiro e quindim pegaram mal nas redes sociais. Na ocasião, ele classificou os doces de “bando de porcaria”.

Veículo: Jornal O Globo


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