Comércio corta preços do bacalhau para desencalhar estoque

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A primeira data comemorativa do calendário do varejo em 2016 promete entrar para a história do comércio. Com a economia em recessão, as vendas de bacalhau enfrentam sua pior semana santa e, pela primeira vez, às vésperas da sexta-feira da Paixão, os preços do pescado estão em queda. Com a valorização do dólar ante o real, o peixe chegou ao balcão cerca de 40% mais caro. Como efeito da crise na economia, a clientela reduziu os gastos neste período e tradicionais estabelecimentos registraram perdas de até 30%. Com receio do prejuízo iminente, comerciantes traçam estratégias inéditas: a poucos dias do feriado, começam as promoções para salvar o estoque e a promessa é de uma redução de, pelo menos, 10% no preço da vedete da festa religiosa.

O site de pesquisas Mercado Mineiro constatou a redução. Em pesquisa feita ontem, na comparação com o levantamento da semana passada, a empresa aponta que, em Belo Horizonte, houve quedas razoáveis nos preços do quilo do bacalhau Saithe, que era vendido, em média, a R$ 54,78 e passou a ser ofertado por R$ 49,19, recuo de 10,2%. O bacalhau do Porto, que custava, em média, R$ 72,65 o quilo, é vendido a R$ 66,30, uma queda de 8,74%.

Isso não era comum. Para o ovo de Páscoa, por causa da sazonalidade, é tradicional alguma redução no preço com a chegada da data comemorativa, porém, com o bacalhau, item que tem sobrevida, isso é inédito”, comenta o diretor- executivo do site, Feliciano Abreu. Segundo ele, como as vendas não estão boas para os comerciantes da área de pescado, não resta alternativa a não ser as promoções. “De qualquer forma, o peixe encareceu muito e uma redução de 10% ainda o deixa caro para o consumidor, que deve sempre pesquisar. Encontramos variações de mais de 100%”, avisa.

Com 3 mil quilos de bacalhau Saithe no estoque, Alexandre Pereira, dono do Império dos Cocos, antigo comércio instalado no Mercado Central de BH, conta que, em comparação à Semana Santa de 2015, as vendas caíram 30%. Geralmente, em períodos como este, o local chegava, inclusive, a contratar funcionários, mas, este ano, nem precisou. “O peixe, como é importado, sofreu um aumento significativo e não tivemos como não repassar para o consumidor”, justifica o comerciante. O quilo do bacalhau Saithe era vendido ontem no estabelecimento a R$ 54,90, e o do Porto, a R$ 94. “Estamos vivendo a pior Semana Santa dos últimos anos. As pessoas não deixaram de comprar, mas reduziram o gasto. Havia cliente que levava seis quilos de bacalhau nesta época, hoje, compra dois quilos”, compara.

Preocupado com o estoque e ciente de que hoje e amanhã são os dois dias de mais procura pelo bacalhau, Alexandre Pereira resolveu apostar na promoção para salvar a o período. “Estamos estudando reduzir, pelo menos, 10% do preço”, revela. Na loja em frente, Empório Ananda, a medida já foi adotada, além de outras estratégias para garantir a clientela. “A Semana Santa está sofrida. As pessoas estão comprando, mas bem menos do que já compraram”, comenta o gerente do local, Eduardo Costa. Nesta semana, a empresa reduziu o valor do quilo do bacalhau de R$ 127 para R$ 106. “Estamos também dividindo o pagamento em três parcelas. Antes, permitíamos que o cliente pagasse em até duas vezes. Nestes 50 anos de tradição no mercado, essa é a nossa pior crise”, afirma.

A preocupação do dono da Peixaria Modelo, Alfredo Suares, que não vende bacalhau, é “como serão as vendas depois da Semana Santa”. Segundo ele, nos últimos dias, o estabelecimento registra negócios no mesmo patamar daqueles do ano passado, porém, ele ressalta que o Salmão, por exemplo, encareceu cerca de 20%. “Diminuímos o estoque , porque antes a gente comprava para sobrar. Hoje, como não sabemos como vai ser depois da Páscoa, uma vez que o Brasil está economicamente parado, não dá para ter sobras. Nosso receio é qual será o tamanho da freada para nós”, comenta.

Susto à mesa De acordo com pesquisa divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas, por influência do câmbio, com o real desvalorizado em relação à moeda norte-americana, a Páscoa deste ano está 15,17% mais cara que a do ano passado. Segundo a entidade, a taxa supera a inflação acumulada nos últimos 12 meses até fevereiro, que atingiu 10,37%, segundo o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da FGV. Itens importantes, como vinho, azeite e bacalhau, devem ficar no mínimo 25% mais caros, em relação aos preços em 2015. O vinho deve ficar cerca de 28% mais caro, o azeite, 25% e o bacalhau, 30%, na média.

Consumidores já sentiram a diferença. O estudante Germano José de Freitas, de 21 anos, comprou ontem um quilo de bacalhau do Porto, por R$ 94. “Está tudo muito caro, mas comprei porque é tradição no nosso almoço de Páscoa”, disse. Dono do Txai Sushi Bar, Robson da Cunha, confessa estar assustado com os preços dos peixes. “O salmão que custava R$ 28,90 na semana passada agora está sendo vendido a R$ 34,90. O dourado está quase do mesmo preço. Assim, não há como não repassar a alta para o meu cliente”, afirma. Ele comprou, ontem, atum, namorado e camarão e pagou R$ 230, sendo que já chegou a pagar R$ 180 pela mesma compra.

 



Veículo: Jornal Estado de Minas - MG


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