Retração no consumo derruba exportação de bacalhau para o Brasil

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                                         Crise brasileira acende alerta em um dos países mais ricos do mundo. Produtores temem não receber.

Até mesmo o país dos vikings, que possui o melhor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do planeta e uma economia estruturada, está sentindo a crise econômica brasileira. A Noruega, segundo maior exportador de frutos do mar no mundo, vem registrando queda nas exportações de bacalhau para cá. De janeiro a julho deste ano, o país nórdico exportou para o Brasil 25% menos que no mesmo período do ano passado. Segundo produtores, a retração na economia brasileira e a entrada do bacalhau chinês no Brasil são os principais culpados pela queda. Alguns empresários chegaram a perder 30% do mercado daqui e confessam temer o calote dos importadores brasileiros.

O Brasil, de acordo com informações do Conselho Norueguês da Pesca, é o principal importador de bacalhau da Noruega. Em segundo lugar, está Portugal. Somente em 2014, o país norueguês exportou 27,4 mil toneladas da espécie para os brasileiros, ou, 1,8 mil toneladas a mais do que em 2013. Este ano, no entanto, já no primeiro semestre a conta veio menor. De janeiro a julho foram 9,6 mil toneladas de bacalhau para o país. Em 2014, no mesmo período, vieram 13 mil toneladas. “O Brasil é um mercado muito importante para nós. Na nossa fábrica, 25% da produção vai para vocês. São cerca de 7 mil toneladas por ano”, comenta Johnny Haberg, diretor Brasil da fábrica Brødrene Sperre em Ellingsøy, localizada em Alesund, interior da Noruega. A região é responsável por 95% do bacalhau norueuguês exportado para o Brasil.

Segundo Jonny, a fábrica Brødrene Sperre detinha 80% do mercado de bacalhau no Brasil. “Mas, agora, estamos com 50%, chegando a 55 mil toneladas por ano”, afirma. Além da retração no consumo, resultado da política econômica brasileira, ele culpa a concorrência chinesa. Um pescado da China pode chegar no Brasil até 40% mais barato que o de outros lugares. “O que precisamos é nos adaptar a essa situação. E, para competir, com os chineses, vamos vender postas de bacalhau em pacotes de um quilo, que chegarão ao mercado brasileiro até a páscoa de 2016”, revela o diretor de vendas da Brødrene Sperre em Ellingsøy, Arne Sperre.

Ele conta que, no Brasil, a venda é feita em dólar. “Não tem como diminuirmos os preços, porque, para a nossa produção, levamos em conta o valor da moeda norte-americana, da coroa norueguesa e o real”, diz. A coroa norueguesa, inclusive, também se desvalorizou diante do dólar e, segundo Jonny, o preço da matéria-prima para a produção já subiu cerca de 20%. “Temos 50 importadores brasileiros, e o nosso maior receio é de que, com essa crise, eles não nos paguem”, diz.

A estratégia usada pela Sperre será a mesma da empresa Mathias Bjørge AS. Com cerca de 20% de toda a sua produção direcionada ao Brasil, Torgeir Bjørge, um dos sócios da empresa, diz que o país é o mercado mais importante para o seu negócio e, com receio do que pode ocorrer com a economia brasileira, eles estão monitorando a situação. “Contamos com três pessoas que, do Brasil, nos enviam diariamente relatórios sobre a crise. Mas essa não é a primeira crise brasileira e acreditamos que, em pouco tempo, o Brasil vai se recuperar”, aposta. Mesmo otimista, ele diz que, para se precaver, tem trabalhado com as grandes empresas brasileiras e também vai apostar no bacalhau em postas.

Queda na renda A situação de empresários da Noruega diante da retração econômica brasileira, na visão da professora de Economia Internacional da Fundação Getúlio Vargas, Zirene Matesco, tem explicações simples. “Primeiro que o mercado, hoje, para o bacalhau, tem outros fornecedores; em segundo lugar, está a queda na renda da população brasileira, que passou a cortar itens da lista de compras”, diz. Outro fator que ela resssalta é o desemprego no país, que chegou a 7,5% e pode chegar aos 10% ainda este ano. “O bacalhau não é um item de primeira necessidade, por isso, a queda de vendas nesse segmento é grande”, avalia.

“O cenário não está bom para o país, e as perspectivas não são boas. Além disso, temos a alta do dólar, que é um entrave para as importações. Neste momento, não há como os valores serem repassados aos clientes”, afirma. Mas Zirene elogia as contas públicas norueguesas e ressalta que, mesmo com essas dificuldades brasileiras, o país, que tem como pilares da economia o petróleo e o pescado, é organizado e estruturado economicamente. “Eles têm outros mercados, em outros países. E, como se trata de um produto de alto nível, há as classes A e B brasileiras, que continuam comprando.”

 

 

Veículo: Jornal Estado de Minas - MG


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