Carne de pato está em plena valorização, mas faltam criadores em Minas

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Criação formal das aves é considerada cara para pequenos produtores rurais. Mas o consumo está em alta no estado

 

 



Tão difícil quanto achar uma agulha no palheiro é encontrar criação formal de patos em Minas Gerais. Mercado crescente no país, onde quem está consegue aumentar seus lucros em mais de 20% ao ano, no estado a ave ainda não fisgou de jeito os produtores rurais. Uma das justificativas pode estar no investimento inicial: esse tipo de criação, voltada para o comércio de carnes, é caro. Apesar disso, entre os restaurantes que procuram atender ao paladar de uma clientela exigente, a ave tem uma demanda em constante crescimento. Tanto que os mineiros, mais especificamente moradores da capital, já estão entre os que mais consomem cortes de patos no país. Em Belo Horizonte, o preço do quilo da carne praticamente duplicou nos últimos dois anos, chegando a R$ 26,90, o que mostra também o potencial desse mercado.

Rica em proteína e extremamente saborosa, a carne de pato é comum em muitos restaurantes europeus, principalmente, na culinária francesa. Para se ter ideia, o número de brasileiros que viajam para o exterior cresce cerca de 10% ao ano, sendo que, de acordo com dados da Organização Mundial do Turismo (OMT), entre os destinos preferidos pelos turistas, está a França. Talvez por isso, conhecendo lá o gosto da carne de pato, muitos busquem no Brasil o mesmo sabor. “Nos grandes centros brasileiros, como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, a ave está na mesa de restaurantes especializados nas culinárias francesa e chinesa. No Norte do país, por exemplo, é uma receita tradicional”, comenta Marcondes Moser, diretor de operações e sócio da Villa Germânia – empresa referência em criação e vendas de carne de pato no Brasil.

Com sede em Santa Catarina, a Villa Germânia, conforme explica Marcondes, atende dois mercados atualmente: externo e interno, sendo que a exportação das carnes corresponde a 60% do negócio. “Somos líderes em vendas para o Oriente Médio e para o Japão”, conta o executivo, que diz ainda ter distribuição para todo o Brasil. São Paulo e Santa Catarina são os maiores clientes, seguidos por Rio de Janeiro e Minas Gerais, mais especificamente, Belo Horizonte. “Não há muita concorrência nesse mercado. É uma criação que, para um pequeno produtor, é quase inviável, por causa dos custos”, afirma.

Marcondes revela que a Villa Germânia importa as patas mães da Inglaterra e da França – cada ave sai por cerca de R$ 80. A empresa compra de três a quatro lotes por ano, com 10 mil fêmeas por lote. “Ao importarmos, enfrentamos processos burocráticos no Ministério da Agricultura”, revela. A importação de aves da Europa é necessária, conforme esclarece Marcondes, porque nesses países as empresas fazem aprimoramentos genéticos que aumentam a qualidade da carne.

Tradição é de frangos

A falta de tradição justifica a ausência de grandes criatórios de patos no estado. De acordo com a Associação dos Avicultores de Minas Gerais (Avimig), realmente não existem grandes produtores de patos em território mineiro. “O que pode ter são pequenos produtores, de fundo de quintal. A produção industrial é do Sul do Brasil. Aqui, não é tradição”, comenta a diretora-executiva da Avimig, Marília Marta Ferreira. Segundo ela, talvez por falta de motivação, os mineiros ainda não entraram no ramo com tanta veemência. “Aqui, as aves mais comuns no mercado são os frangos. Há 10 anos, a criação de codornas foi introduzida no Sul de Minas. Depois, no Triângulo Mineiro, teve início a criação de perus”, lembra Marília.

Sem uma produção em larga escala, existem dois caminhos para encontrar pato no estado: em empresas especializadas em carnes nobres e restaurantes também voltados para a culinária exótica ou sofisticada. Ainda assim, quem se arrisca no ramo e precisa dos cortes como ingredientes para os pratos afirma que não é fácil conseguir a ave e acompanhar a variação de preços no mercado, que vêm subindo a cada ano.

No Restaurante Trindade, no Bairro de Lourdes, na Zona Sul de BH, por exemplo, o pato é um dos carros-chefes do cardápio. Segundo conta um dos proprietários do estabelecimento, Fred Trindade, no lugar é servido arroz com pato e o peito de pato (conhecido.por magret). “Trabalhamos com dois fornecedores, um do Sul do Brasil e outro do Rio de Janeiro. Em Minas, há revendas, mas nem sempre têm o pato”, observa.

Fred explica que a ave, tradicional na culinária francesa, se trata de uma carne nobre no mercado. “Quando compramos, temos que fazer a cura do peito do pato, por exemplo”, revela, dizendo que o restaurante compra os cortes semanalmente. Segundo o proprietário do restaurante Rima dos Sabores, Juliano Caldeira, desde dezembro ele deixou de vender o pato no seu estabelecimento, especializado em carnes exóticas. “Estava com dificuldade de encontrar, mas isso já está normalizando. Os clientes que viajam para fora do Brasil e conhecem o sabor por lá, quando voltam pedem aqui”, diz.

NOBREZA Em BH, um dos fornecedores mais conhecidos, o Armazém do Mar, vende a carne de pato para a capital e também para o interior de Minas. Segundo a supervisora de vendas do estabelecimento, Luana Santos, a ave é comprada no Sul do país e revendida no estado. “Somos uma peixaria e trabalhamos com a linha de carnes nobres. O pato vem encarecendo muito de dois anos para cá. A peça inteira de um pato com 2,5kg sai por R$ 26, 90 por quilo.”

Luana explica que os cortes têm valores diferenciados. “Há os que chegam a mais de R$ 100, o quilo. As empresas que trabalham com a criação de patos estão dando prioridade às exportações. Por isso, ele está ficando caro. Virou ouro”, critica, acrescentando que um alimento desse exige do cozinheiro pratos mais elaborados e conhecimento prévio.

Outro fornecedor em Minas é o Bonutt, em Contagem, na Região Central do estado, onde as carnes são vendidas no varejo. “Não negociamos diretamente com restaurantes, mas muitos deles compram aqui. Revendemos a carne do Sul do Brasil, e tem uma saída crescente”, comenta a proprietária do estabelecimento, Luciana Araújo.


Quando chegam ao Brasil, as aves compradas no exterior e criadas no Sul do país são alojadas em fazendas parceiras. “Temos quatro propriedades com galpões para elas. Terceirizamos esse trabalho e produtores acompanham o crescimento e desenvolvimento dos bichos. São cerca de 60 famílias envolvidas nesse serviço. Eles entram com a área e mão de obra, e nós, com tecnologia”, explica Marcondes Moser, sócio da Villa Germânia. Segundo ele, só depois de seis meses que as patinhas botam ovos que são levados para uma incubadora. “Depois de 42 dias, coletamos os animais e trazemos para o abate.”

Segundo Marcondes, é possível que um pequeno produtor consiga, sim, manter uma criação de menor porte. “Mas é preciso estar atento aos custos de alimentação. É um animal que come demais.” Para o pato, assim como para qualquer outra ave, é necessária uma alimentação balanceada. “Não dá para criar pato como frango, pois há exigências específicas”, afirma.

A estrutura tecnológica é outro fator importante nesse negócio, como destaca Marcondes. “Temos uma produção grande, com cerca de 2,8 milhões de patos por ano no mercado, sendo 40% disso para Brasil e os outros 60% para fora do país”, conta. Segundo ele, somente este ano, o negócio está mais estável, justamente diante da retração econômica do país. “Ao compararmos ao ano passado, estamos no mesmo volume. Porém, vínhamos crescendo de 15% a 20% ao ano.”



Veículo: Estado de Minas


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