Aves e suínos reforçam atividades para pagar prejuízos milionários

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Paralisações dos caminhoneiros geraram impacto negativo de pelo menos R$ 700 milhões ao setor de proteína animal; mercado externo é foco da suinocultura para recuperação de perdas

 



Dez dias de bloqueio nas principais rodovias do País foram suficientes para a consolidação de problemas com transporte, ração e processamento de aves e suínos, um prejuízo milionário. Para minimizar os danos, já são esperados aumento no abate, nas horas de trabalho, nos custos de produção e nas negociações com o mercado internacional.

"O estrago foi grande. Fizemos um exame superficial e os prejuízos chegaram a pelo menos R$ 700 milhões. A partir do terceiro dia da greve dos caminhoneiros os resultados começaram a ser assustadores porque os bloqueios foram concentrados na Região Sul, o coração da produção de aves e suínos no Brasil", lamenta o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Francisco Turra.

Danos

Sazonalmente, o nível das exportações de proteína animal é mais baixo entre os meses de janeiro e fevereiro, porém, 2015 começou com resultados piores do que o esperado pelo setor. Em seguida, as manifestações vieram como um agravante. O último levantamento da ABPA mostra que, no acumulado deste ano, os embarques de frango caíram 4,2% em volume, para 579,8 mil toneladas, ante o mesmo período de 2014. Na receita cambial, as perdas atingiram 10,6%.

Dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) divulgados nesta semana indicam que os envios de carne suína in natura bateram o menor nível dos últimos nove anos, 21,95 mil toneladas, queda de 29% no comparativo anual. Além do impedimento na logística interna, Turra justifica o resultado negativo com a redução nos embarques para o maior comprador do País, a Rússia, e diminuição na oferta do produto nacional.

Ao DCI, o presidente da cooperativa Aurora Alimentos, Mário Lanznaster, destacou que os efeitos da paralisação também serão refletidos nos resultados de março, quando o aumento nas despesas para restabelecimento das operações serão contabilizados.

"Houve racionamento da alimentação para evitar a mortalidade. Em aves, vemos uma perda de 15% no desempenho de cada animal. Os 20 mil funcionários ficaram parados, assim como os caminhoneiros que transportam nossas mercadorias, gerando custos", afirma Lanznaster. Para ele, a recuperação deve vir em meados da segunda quinzena de abril.

O suinocultor José Cleo Kunst, de Santa Catarina, conta que alguns animais passaram do peso porque precisaram de uma quantidade maior de comida para se alimentarem adequadamente. "Na vizinhança, granjas falam em perdas de R$ 30 a R$ 60 mil", diz o produtor ao ressaltar que os danos são distintos de acordo com a situação.

Restruturação


Com a normalização do tráfego, o presidente da ABPA acredita que as operações do setor sejam restabelecidas em até duas semanas. Entretanto, a recuperação financeira é o próximo desafio da cadeia produtiva. No segmento de aves, as apostas miram o consumo doméstico e o aumento de participação no cenário internacional, considerando os diferenciais de qualidade sanitária do produto brasileiro.

"Já no suíno, vamos ter que brigar com ainda mais força para a abertura de mercados importantes como o mexicano e o sul-coreano. Intensificar as negociações de expansão na África do Sul e Japão e ampliar o espaço na China", explica Turra. Para o executivo, os dois segmentos têm plenas condições de recuperarem as perdas acentuadas deste período.

Na mesma linha, o frigorífico JBS - que durante as manifestações chegou a anunciar a redução nos níveis de processamento - informou, por meio da assessoria de imprensa, que os volumes perdidos devem ser recuperados ao longo do mês. Em contrapartida, o presidente da Aurora acredita que o prejuízo é irreversível, considerando o poder de compra do consumidor doméstico, afetado pelo acréscimo nas tarifas de energia e pelas modificações tributárias.

Procurada pela reportagem, a assessoria da BRF não informou dados atualizados. De acordo com o presidente da ABPA, a empresa precisou destruir 15 milhões de ovos férteis, que se tornariam frangos, pois não havia espaço para alojamento de pintinhos.

A partir de agora, serão negociadas com os funcionários e com o Ministério do Trabalho, se necessário, a realização de horas extras para restabelecimento do processamento. Lanznaster confirmou a aplicação desta medida na Aurora. Além disso, Turra cita uma possível negociação com o Ministério da Agricultura para aumento do limite de abates nos frigoríficos.




Veículo: DCI


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