Roberto Oliveira
É sabido que o Brasil vem crescendo exponencialmente no segmento de carne bovina, consolidando-se como o principal exportador dessa matéria-prima nos últimos dois anos, feito que, provavelmente, se repetirá em 2015. Ancorado no bom momento pelo qual o mercado vem passando, o nicho de carnes premium desponta e consagra-se como o novo filão do setor. Bife de chourizo, Ancho e Angus, cortes antes pouco conhecidos, caíram na graça dos brasileiros e, claro, dos fornecedores, que buscam investir cada dia mais no aprimoramento do produto.
Com esse segmento de mercado ganhando cada vez mais espaço entre os apreciadores da carne, também cresce o número de estabelecimentos especializados na comercialização desses produtos e, também, a demanda para os frigoríficos. Dentre os vários fatores que garantem a preferência das pessoas pelos cortes especiais, podemos citar dois principais: a melhora na qualidade da carne bovina brasileira e o aumento do seu consumo no país que avança progressivamente, já que, segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o crescimento projetado para a aquisição de carne para os próximos dez anos é de 42,8%.
Quando o assunto é o mercado de comoditties, parece haver um consenso de que o Brasil já achou o seu lugar ao sol no cenário internacional e a prova disso são os recordes que temos alcançado ao longo dos anos. Uma recente pesquisa feita pela Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) sobre a visão dos importadores em relação ao produto brasileiro revelou a grande inserção das carnes convencionais no exterior e, também, o enorme potencial que o país tem de crescer no segmento gourmet.
Diante desse cenário, os grandes produtos brasileiros têm investimento maciçamente na criação e cruzamento de raças que resultam em espécimes considerados de qualidade superior no mercado, como a mistura da britânica Angus e de Zebuínos, que produz uma carne mais gordurosa, suculenta e tenra, já que o abate ocorre mais cedo. Até pouco tempo, o que se consumia no país era proveniente apenas de raças puramente indianas e zebuínas, fator que fazia com que perdêssemos em qualidade para os produtos de países como Argentina e Uruguai, que já apostavam em linhagens europeias, por exemplo.
Outro ponto que tem contribuído para o aumento da demanda pelo segmento premium no mercado é o surgimento de novas butiques de carne, açougues especiais que oferecem o que há de melhor em cortes e acompanhamentos, como cervejas gourmet e temperos. Além disso, essas casas também oferecem serviços que as diferenciam dos estabelecimentos convencionais, como entrega em domicílio. O preço, claro, fica um pouco mais salgado, mas isso não perece ser um empecilho para os consumidores, que têm procurado cada vez mais por esses produtos diferenciados. Todavia, apesar dos espaços mais modernos e decorados e dos equipamentos de última geração, nas butiques também há espaço para as carnes nacionais, como contrafilé, maminha, filé-mignon e picanha, que ainda têm lugar garantido no prato dos brasileiros e que já vêm limpos, porcionados e embalados a vácuo.
Com o filão das carnes gourmet mostrando que veio para ficar e o surgimento de estabelecimentos especializados na comercialização de produtos desse segmento, a indústria como um todo precisa dar sinais de que está se adaptando a esse novo perfil de consumidor brasileiro e entender que a imagem dos açougues com azulejos e peças penduradas ficou no passado.
* Diretor Comercial da Plena Alimentos
Veículo: Diário do Comércio - MG