Wesley Batista: O rei do frango quer mais

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Após comprar as operações da americana Tyson, no Brasil e no México, e consolidar a liderança mundial no setor de aves, Wesley Batista, CEO do JBS, quer conquistar o mercado de alimentos processados. Para isso, ele terá de superar a rival BRF


Por: Rodrigo Caetano


Antes de assumir o comando do JBS, em 2011, o empresário Wesley Batista, filho do fundador da companhia José Batista Sobrinho, passou uma temporada de quatro anos nos Estados Unidos. Nesse período, ele se dedicou a implantar o estilo de gestão da família às operações da Pilgrim’s Pride, então a maior processadora de aves do mundo, comprada pelo grupo brasileiro em 2009. De volta ao Brasil, e com a experiência adquirida com seu trabalho à frente da Pilgrim’s, cuja sede fica em Greley, no Estado do Colorado, Batista pôde orgulhar-se de ter transformado o JBS, que já exibe o título de maior produtor de carne bovina do mundo, também no maior em frangos, com 12,5 milhões de aves abatidas diariamente.

“O segundo colocado abate cerca de oito milhões de aves por dia”, afirma Batista. “Somos disparados os maiores do mundo.” O feito foi alcançado graças a uma agressiva e bem-sucedida estratégia de aquisições, que incluiu mais um negócio na segunda-feira 28: a compra das operações da arquirrival americana Tyson Foods, no México e no Brasil, por US$ 575 milhões. O negócio não só coloca o JBS ainda mais à frente da concorrência no setor de avicultura como fortalece a posição da gigante brasileira no mercado de alimentos processados.

Trata-se de um segmento no qual a companhia está concentrando boa parte de seus esforços. “Nossa estratégia está toda voltada para os segmentos de aves, suínos e processados”, afirmou Batista à DINHEIRO. “É onde vamos crescer.” O apetite do empresário tem sido grande. Somente neste ano, as aquisições da JBS nesses setores já somam mais de R$ 1 bilhão no Brasil. A essa cifra soma-se a aplicada na compra da Seara, que pertencia ao grupo Marfrig, por R$ 5,8 bilhões, no ano passado. “Precisamos de marcas fortes”, diz Batista.

“Baseamos nossa estratégia em três pilares: inovação, qualidade e marketing.” A preocupação se justifica. Para chegar ao topo do setor de alimentos prontos, o JBS terá de superar a BRF, dona das marcas Sadia e Perdigão, que lidera, com folga, os mercados de aves e de processados no Brasil, com 35% dos abates de aves e 60% de participação no segmento de congelados. A competição entre JBS e BRF deve se acirrar daqui para a frente. Ainda que a compra das operações da Tyson no País não seja suficiente para fazer a empresa da família Batista ultrapassar a rival, o negócio equaliza muito mais as forças das duas gigantes.

A concorrente americana possui um portfólio de alimentos prontos bem diversificado. “A Tyson, sozinha, tem mais produtos de valor agregado do que todas as nossas empresas”, afirma Batista. Além de aumentar a oferta, o empresário espera dobrar o número de clientes varejistas. Ele não especificou em quanto tempo. Segundo analistas ouvidos pela DINHEIRO, tanto a aquisição da Tyson quanto a estratégia de apostar nos mercados de aves, suínos e processados foram bem recebidas pelo mercado.

A única dúvida que permanece refere-se ao endividamento da companhia. No primeiro trimestre deste ano, a relação entre a dívida líquida e o Ebitda do JBS era de 3,2 vezes. “O anúncio das aquisições é favorável à expansão das operações do JBS”, afirma a analista Karina Freitas, da corretora Concórdia, em relatório. “Mas vale lembrar que essa ofensiva gera preocupações em relação ao nível de alavancagem.” Apesar disso, a agência Moody’s manteve a nota de crédito (rating) do JBS.

SEGUNDO ROUND A aquisição das operações brasileiras e mexicanas da Tyson também garante ao clã Batista uma espécie de desforra contra a companhia americana. Em maio deste ano, as duas empresas disputaram a compra da Hillshire Brands, uma das principais produtoras de alimentos processados dos Estados Unidos, dona de marcas consagradas, como Jimmy Dean, Ball Park e Sara Lee. Os americanos acabaram vencendo a disputa com uma oferta de US$ 6,3 bilhões, ante US$ 5,7 bilhões dos brasileiros. JBS e Tyson disputam cabeça a cabeça o mercado mundial de proteína. No mundo, a empresa brasileira lidera. Nos EUA, a adversária leva vantagem, em especial nos segmentos de processados e suínos.

Para a Tyson, o negócio com o JBS marca o fim de sua empreitada brasileira, que sempre foi cercada de expectativas, mas começou tímida e nunca decolou. A companhia aportou por aqui no fim de 2008, ao comprar os frigoríficos Macedo, Itápolis e Frangobras. Antes disso, por diversas vezes a Tyson entrou na briga para adquirir companhias brasileiras, mas perdeu todas. No mesmo ano, ela tentou comprar a Dagranja, que acabou nas mãos da Marfrig, e a Globoaves. Em 2013, os americanos até tentaram iniciar conversas para levar a Seara, sem sucesso. O fracasso da gigante mostra que, no agronegócio, expandir as operações para outros países não é tão fácil e exige um enorme conhecimento do mercado e da cultura local.


Veículo: Revista Isto É Dinheiro



















   




  





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